31/01/13

Ainda sobre a questão do euro, vale a pena ler com a máxima atenção esta crónica de Viriato Soromenho Marques no DN

Ainda sobre a questão do euro — ou seja, da questão soberania versus federalismo —, vale a pena ler com atenção esta crónica de Viriato Soromenho Marques. Podemos pensar, sem dúvida, que as tarefas da democratização do poder político e, nessa perspectiva, a repolitização da economia política dominante, exigem infinitamente mais do que a "solução" que o Viriato apresenta. Mas isso não deverá impedir-nos de ver que a efectiva integração europeia que VSM preconiza, seria um quadro muito mais favorável do que o actual, para já não falarmos do quadro que resultaria de uma ruptura soberanista com o euro e de novos passos em frente rumo à implosão da UE  à conquista pelos cidadãoa comuns de capacidade de participação activa e governante, conjugada com a luta contra o austeritarismo da oligarquia "neoliberal".  Com a devida vénia, aqui fica a transcrição integral da crónica, cujo título é "Na Encruzilhada":

Numa entrevista recente ao Público, João Ferreira do Amaral (JFA) dissipou as ilusões do famigerado "regresso aos mercados". O economista que aconselhou o País a não entrar na Zona Euro (ZE) chamou a atenção para os fatores estruturais que impedem uma esperança racional, e não narcótica, no futuro da economia e da sociedade portuguesas. O plano de resgate foi efetuado a partir de receitas do FMI, inadequadas para um País que não tem soberania monetária; as medidas de desvalorização interna (aumento da carga fiscal e perda de salários) não só não aumentam a competitividade como corroem o mercado interno e aumentam o desemprego (que poderá escalar até 20%); até a melhoria da nossa balança comercial poderá ser afetada por uma valorização do euro, caso os sinais de estabilização da ZE se aprofundem. O País precisaria, portanto, de recuperar a soberania sobre a emissão de moeda e a taxa de câmbio. A inflação e a desvalorização cambial podem ser dolorosas, mas necessários remédios, para combater a dívida e para aumentar a competitividade da nossa economia. Concordo com o diagnóstico, mas discordo da terapia. Nesta encruzilhada, Portugal depende sempre de outros. A "saída ordenada" da Zona Euro, proposta por JFA, parece-me mais improvável do que a perspetiva, tão difícil quanto necessária, do completar da UEM, com a legitimação democrática e constitucional de um verdadeiro governo europeu, dotado de orçamento próprio e de uma política económica comum, que complemente e corrija a ótica estritamente nacional dos governos estaduais. No aprofundamento federal da União encontraremos aliados em todos os países, incluindo na Alemanha. O regresso forçado a uma moeda própria é o que teremos de mais certo, se este Governo, dopado pela austeridade, continuar a confundir sonambulismo com determinação.


1 comentários:

Anónimo disse...

Logo na frase inicial temos uma falácia. Não temos soberania vs federalismo. O caminho que tem vindo a ser seguido não é federalismo, mas sim uma imposição por parte da banca dos países ricos em reaver parte dos seus investimentos. Sei que esta noção de nações proletárias vs plutocráticas tem traços de marxismo terceiro mundista, como o JVA me alertou várias vezes, mas é essa a realidade. A "exportação da luta" de que tem falado o MSP é uma miragem que não está nos planos da(s) classe(s) dominante(s). Não sei qual é o caminho a seguir, mas a inacção táctica não está a ter bons resultados.