13/10/15

Acordos e não-acordos anunciados antes das eleições

Um argumento de muita gente contra um acordo de governo PS/BE/CDU é que tal acordo não foi anunciado durante a campanha; em primeiro lugar, noto o recente entusiasmo de muitos comentadores pela ideias do mandato imperativo e de que os políticos só têm legitimidade para tomarem decisões que estejam de acordo com as suas promessas eleitorais; espero que em breve os vejamos a defender a revogabilidade dos eleitos e os referendos por iniciativa popular.

De qualquer maneira, não se pode dizer que um tal (ainda hipotético) acordo tenha sido tão não-anunciado como tudo isso - afinal, nos últimos anos era raro o político ou opinador da área do PS que não criticasse o BE e a CDU por se porem fora e não terem uma atitude construtiva (de há uns tempos para cá, esse discurso por vezes era acompanhado por elogios ao Livre por este estar mais disponível para acordos); ou seja, o discurso implícito do PS há muito que era "nós até estariamos dispostos a nos coligar com o BE e a CDU; eles é que não querem, e com isso fazem o jogo da direita"; e como (o neste momento insuspeito de simpatias por frentes de esquerda) Vital Moreira escreve aqui, nos últimos tempos o PS deu várias pistas de que estaria disposto a uma aliança com os partidos à sua esquerda (e basta ler blogues de direita como O Insurgente na última semana de campanha para encontrar montes de posts na linha "PS quer ganhar na secretaria se perder as eleições"); quanto à CDU e ao BE, durante esta campanha disseram que estariam dispostos a apoiar um "governo de esquerda" se certos objetivos fossem cumpridos.

Agora, é verdade que Costa foi muito ambíguo sobre que solução de governo pretendia estabelecer; mas também é verdade que durante a campanha disse claramente que não ia apoiar um governo PSD/CDS e que iria votar contra o orçamento desse governo; ora neste momento, qualquer governo está dependente de um acordo envolvendo o PS (seja um governo liderado pelo PS com o apoio do BE e da CDU, seja um governo PSD/CDS com o apoio do PS) - ora, o que é uma maior traição à vontade dos eleitores: um acordo (PS/BE/CDU) que foi vagamente anunciado de forma ambígua antes das eleições, ou um acordo (PSD/PS/CDS) que foi explicitamente rejeitado pelo PS antes das eleições?

1 comentários:

José Guinote disse...

Miguel, colocas a questão de uma forma muito clara. Aliás se António Costa foi claro nalguma coisa foi na recusa de uma aliança com os partidos da coligação. Disse-o várias vezes, repetidamente. Mas, compete neste momento à coligação seduzi-lo e apresentar propostas que o levem a "dispensar" a aliança à esquerda. Vamos a ver aquilo que esta direita, ferozmente pró-austeritária, está disposta a fazer para manter o poder.
Não se pode ler os jornais, nem escutar a rádio, nem ver televisão. Há um controlo total da opinião, pela direita. José Manuel Fernandes, no Observador, proclama que o homem - Costa - não é sério. Pudera, a querer dar-se com esta gente, pensa ele. Estamos a ser bombardeados diariamente. O mundo vai acabar se a esquerda insisitir em se entender. Até foram buscar o José Milhazes para mostrar o carácter estalinista do PCP. A Helena Garrido anunciava na Antena Um que ainda há uma esperança de salvar isto, os mercados ainda podem dar-nos uma ajuda, se o Costa desistir de querer governar com partidos que são "contra o regime", Deus nos livre dos sarracenos.
Está na altura de pedir à direita que ponha mãos à obra e apresente uma proposta de Governo com apoio maioritário na Assembleia. As coisas são simples. Falta-lhes alguma coisa?