20/10/15

É pena que o ridículo não mate propostas como esta — deixando amavelmente incólumes as pessoas dos seus autores e arrancando as suas mentes ao reaccionarismo obscurantista que as obnubila



Diga-se de passagem que esta insistência assanhada na tecla nacionalista por parte do PCP poderá bem ter a ver com as conversações em curso entre António Costa e a "esquerda da esquerda" parlamentar. Mas, a ser assim, a conclusão que o título deste post enuncia mantém-se e a sua necessidade lógica só pode tornar-se ainda mais categórica.

13 comentários:

Paulo Marques disse...

Milagroso, aceitável e responsável só a arma preferida dos capitalistas, o Euro.

Miguel Serras Pereira disse...

Claro, Paulo Marques. O escudo, ao contrário do euro, é uma inexpugnável muralha de aço patriótica e de esquerda. Se ainda hoje admiramos as pirâmides que custaram milhares e milhares de vidas de escravos, o escudo não é menos do que as pirâmides e a sua restauração bem mereceria o sacrifício dos trabalhadores portugueses, para os quais não é concebível mais alta recompensa do que a de servirem a independência nacional. Sente-se melhor assim?

msp

Paulo Marques disse...

Não precisa de ser o escudo, desde que seja séria, e o euro não o é. Entre isso e uma moeda única que nunca será uma moeda única gerida por um banco central que nunca será banco central sei qual é a minha escolha. Se alguém queira criar uma verdadeira moeda única, ela que venha.

Miguel Serras Pereira disse...

Mas, Paulo Marques, é isso mesmo. Também eu penso que, como você implicitamente reconhece, uma outra aequitectura da zona euro requer uma integração económica e polotica aprofundada, mais propícia de resto às tarefas de democratização que delineiem uma alternativa às actuais relações de poder.

msp

Anónimo disse...

" Não é verdade que façamos abstracção da politica. Não o fazemos, uma vez que a queremos destruir. Eis o ponto essencial pelo qual nos separamos radicalmente das politicas e dos socialistas burgueses radicais. A politica feita por eles consiste na utilização, pela reforma e transformação, da politica e do Estado; enquanto que a nossa politica, a única que admitimos, é a abolição total do Estado, e da politica que o estrutura ". M. Bakounine, in " Théorie générale de la Revolution",org. G.P. Maximov. Edits. Les nuits rouges. Paris.
Como diz o JPP, a sociedade portuguesa está muito radicalizada... Urge pensar a libertação e indisciplinar os sentidos e Eros.Há anos a esta parte, que se sabe que o colete-de-forças do Euro- a rrave-mestre do ordo-liberalismo alemão disseminador e totalitário- só favorece as economias ultra-perfomantes do Norte da Europa que colonizam já parte dos principais países da ex-URSS, com a Russia à cabeça. Niet

Paulo Marques disse...

MSP: Não há um mínimo de vontade política para refazer quase por completo o Euro, por isso mais vale deitar abaixo para fazer de novo do que andar mais duas décadas na mesma crise. Bem, nem isso é possível, qualquer abanão que se siga arrisca-se a acabar com o Euro e com o resto tal a possibilidade de caos.
Um poder que nada tem de democrático normalmente não se reformula, desfaz-se porque ninguém abdica dele, ao ponto de começar a ilegalizar formulações alternativas.

Miguel Serras Pereira disse...

Paulo Marques: da salvaguarda e possível extensão dos direitos e liberdades fundamentais, do comabte nos locais de trabalho e no espaço da cidade, à questão dos refugiados e às ameaças da globalização, etc., não há questão para a qual um quadro europeu aprofundado— sem dúvida a transformar pela luta dos trabalhadores e conjunto dos cidadãos comuns — não permita melhores respostas e melhores condições de acção política do que o quadro de (pseudo-)independências nacionais que resultaria de uma desagregação da UE — quadro que também nada teria de democrático e, pelo contrário, acarretaria autoritarismo e militarização, além de uma degradação das condições de vida da imensa maioria dos cidadãos.

msp

José Guinote disse...
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José Guinote disse...

Do ponto de vista dos nacionalistas, ou dos que, não o sendo, defendem a saída da União Europeia, há uma contradição extraordinária. Supostamente, essa opção permitiria, a partir de uma moeda própria, refazer aquilo que o euro destruiu. Ora não existe nenhuma possibilidade de reconstruir seja o que for no contexto europeu, começando por nos autoexcluirmos do euro. O único caminho - embora difícil - é dentro da Europa e mudando a Europa por dentro, com a força de todos os Europeus. Os problemas europeus são eocnómicos mas são sobretudo não económicos. É um problema terrível de falta de democracia, de negação no dia a dia de todos nós dessa democracia fundamental. Na postura nacionalista há uma incapacidade para reconhecer a força de todos os europeus, a sua força conjunta. Temos que fazer o contrário daquilo que as maiorias políticas europeias estão a fazer desde Masstricht; desfazer o modelo social europeu. Temos que reforçar/reconstruir a solidariedade e a justiça social.
Curiosamente nunca como agora começam a existir condições para iniciar esse trabalho. Se pensarmos no Labour, no Syriza, mesmo com os vexames a que foi sujeito, no que pode estar a iniciar-se em Portugal, no que acontecerá em Espanha, que não será a mesma coisa que a maioria absoluta do PP, talvez seja possível no curto prazo começar a dar voz ao descontentamento generalizado que vai por essa Europa fora. Talvez o flanco esquerdo - com as suas diferenças, pois claro - possa começar a ter voz, uma nova voz.
Miguel o teu post mostra como são traumáticos e violentos os caminhos que podem conduzir a uma unidade à esquerda. O PCP leu muito depressa e bem os resultados eleitorais. A sua resposta condicionou toda a actuação política à esquerda. Difícil é depois gerir as consequências das opções que somos obrigados a tomar. Gerir as contradições, que o próprio Cavaco quis avivar logo na primeira comunicação a seguir às eleições.
O PCP nestes casos abusa sempre um bocado da falta de oportunidade. É como se os seus deputados europeus quisessem deixar à vista a pureza nacionalista - eles chamam-lhe patriótica e de esquerda - da sua postura política. Lamentável.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro José Guinote,
tudo bem, com duas ressalvas, que, em princípio, creio que aceitarás sem problema de maior. 1. A democratização política ou da política não pode deixar de passar desde o início por uma repolitização explícita e democrática da esfera económica — tanto ao nível macro como ao nível das empresas e dos locais de trabalho. 2. A democratização em causa terá de ter por primeiros protagonistas quotidianos os cidadãos comuns, a grande maioria das pessoas comuns — reivindicando e pondo em prática formas de participação igualitária a todos os níveis da cidade, formas de participação que tendam a superar a distinção estrutural e permanente entre governantes e governados.

Abraço

miguel(sp)

José Guinote disse...
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José Guinote disse...
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José Guinote disse...

Meu caro Miguel nada a opor antes pelo contrário. O problema do debate económico que nos vão servindo é que ele se situa apenas e só no plano macro e numa capela de acesso restrito aos especialistas. Essa "especialização" visa combater qualquer veleidade de democratização e de repolitização do debate público. Ele passa a ser o local de eleição dos "especialistas", E, nesse particular, as diferenças que nos propõem entre a esquerda e a direita são, quase sempre, diferenças menores. Sem alterar as outras escalas não se consegue mudar nada. Isso leva-nos para o plano dos debates e dos compromissos entre as esquerdas. No debate eleitoral falou-se uma miséria de desigualdade e de corrupção. Mas, no dia a dia das empresas e dos trabalhadores, toda a gente sabe bem o que significa desigualdade e corrupção e as suas consequências. Desigualdade quer dizer, por exemplo, que os trabalhadores não têm nada a dizer sobre a vida da empresa e sobre as decisões que a ela dizem respeito. Muito menos sobre a crescente desigualdade salarial, a menos de qualquer justificação que não seja o poder de que se dispõe, para impor a exploração. Corrupção quer dizer que a empresa A ganha o trabalho que a empresa B podia fazer, caso tivesse ao menos o direito a concorrer, porque o autarca, recorrendo aos ajustes directos, entrega o trabalho a essa empresa, que tem lá um gajo do seu partido ou que financiou a campanha e agora cobra. Empresa que não tem trabalhadores permanentes recorrendo a contratados mais ou menos à tarefa. A empresa B depois de anos a tentar sobreviver e a perder dinheiro - o Estado está minado pela corrupção e os ajustes directos são uma catástrofe - vê-se obrigada a fechar. Eu acho que um bom acordo à esquerda tem um conjunto de questões económicas que são chave. Que devem abordar as questões da receita. Não é como a esquerda tonta pensa apenas e só aumentar impostos. Para isso o Portas e o Passos já mostraram a sua raça. Como é que a coligação de esquerda vai reduzir a despesa? Como é que vai aumentar a transparência na economia? Eu proponho duas soluções, entre outras: rever as Parcerias Público privadas e as tarifas da energia e introduzir uma moratória que proíba os ajustes directos durante quatro anos obrigando todas as contratações a serem por concurso público. No primeiro caso devem ser cortadas taxas de rentabilidade exageradas e essas rentabilidades devem ser indexadas às taxas de remuneração do capital no sistema bancário. Limitar a valores da ordem dos 10 mil euros os ajustes directos, apenas para bens de consumo imediato. O actual valor dos 75 mil euros para aquisição de bens e serviços deve ser imediatamente revogado.
Mas claro que depositar grandes esperanças numa melhoria da situação política sem novas formas, mais democráticas e mais eficazes, de participação de todos na definição do futuro comum, leva a grandes decepções.