03/12/16

A escolha de Macedo. Sinal dos tempos.

A escolha de Paulo Macedo para presidente da CGD é um claro sinal dos tempos. Basta dar uma vista de olhos pela imprensa e verificar o contentamento que esta decisão de Costa suscita na generalidade dos comentadores e actores partidários, com excepção do PCP.
Paulo Macedo é o homem que nunca falha dizem uns, enquanto outros acham que ele é apenas o homem que recebe a Caixa com 3000 milhões de prejuízo, ignorando a recapitalização já negociada com Bruxelas, e preparando mais um feito para o seu currículo de grande gestor. Outros, caso do BE, optam por olhar em frente e apontar ao futuro.
Macedo nunca deveria ter sido escolhido. São várias as razões:
1º - Macedo é um dos rostos da politica austeritária que entre 2011 e 2015 ajudou a destruir o imberbe Estado Social e a conduzir o país para a situação que a maioria dos portugueses rejeitou nas urnas:
2º - Macedo, nesse Governo, assumiu a pasta da saúde e foi o primeiro responsável pela grau de destruição do SNS durante esse período. O homem que não falha foi implacável a cortar o acesso e a retirar direitos aos mais frágeis, aos mais desprotegidos. O episódio na Assembleia da República em que um doente com hepatite C reclamou a ajuda a que tinha direito e a humanidade perdida - há muito - ao ministro Paulo Macedo, deveriam, por si só, impedir a sua nomeação por um governo de esquerda;
3º - Macedo foi, antes disso, Director Geral das Finanças, nomeado pela direita, e nesse cargo aumentou a capacidade de cobrança de receita fiscal pela máquina da AT. Mas, através dos mecanismos do "pague primeiro reclame depois" aumentou, em muito, as injustiças associadas à actividade da AT. Uma máquina frágil com os poderosos - apoiados por bons advogados - e implacável com o cidadão comum e com as pequenas e médias empresas. Medidas tomadas por este Governo visaram exactamente anular alguns efeitos mais devastadores dessas decisões. A penhora da casa própria entre outras:
4º - Macedo é um clássico gestor de direita. Um homem que pelas suas convicções politicas e pela sua carreira de gestor privado está nas antipodas daquilo que era suposto este Governo pretender para a Caixa: Um banco público com um projecto de apoio à economia que rompa com a lógica das últimas décadas. Ora da sua carreira no BCP nunca se entendeu ter Paulo Macedo tomado alguma posição que divergisse da orientação tomada pelo Banco - que o levou à bancarrota e à irrelevância - e pela generalidade da banca portuguesa, CGD inclusivé.
5º - Paulo Macedo não tem dificuldades em encontrar quem lhe pague os elevados salários a que ele  entenderá ter direito. O que choca qualquer contribuinte é que ele encontre no Estado e no Governo da geringonça quem lhe pague mais do que alguma vez ganhou no privado.
Para fazer o quê à Caixa Geral de Depósitos?
António Costa faz uma opção ao centro, piscando o olho a um futuro entendimento com um PSD pós Passos, com Marcelo na galeria a aplaudir e Rui Rio a preparar-se para tomar o lugar do homem de Massamá.  A ala direita socialista, anti-geringonça, rejubila e aplaude a mãos ambas. Afinal Costa mantêm-se fiel ao centro, dizem eles. Afinal, no essencial da economia, o governo não renega o modus operandi das últimas décadas.
O BE e o PCP guetizados num limiar de votos cada vez mais baixo e numa disparatada guerra "fraticida", reagem de maneira diferente. O PCP discorda frontalmente. Pelas razões óbvias. O BE, exausto  da sua luta parlamentar contra a monarquia  espanhola, opta por um "nem sim nem sopas". Por este andar a curto prazo o PS não precisará deles para governar e os famosos grupos de trabalho poderão mesmo ser totalmente desactivados.


10 comentários:

António Geraldo Dias disse...

Com a sua licença republiquei.O FOLCLORE DA CAIXA,http://cuidadodesiorg.blogspot.pt/

joao disse...

Absolutamente de acordo.
A minha surpresa é tão grande que o PS perdeu o meu voto com essa decisão.
Lamentavel.

Niet disse...

As melhores e mais puras intençoes do Mundo não chegam, meu caro, para explicar este complot permanente( conceito operacional de M. Bakounine, claro), em que se transformou o carrocel... da geringonça. O que se sente, iniludivelmente, é que Costa está a olhar para outros meios de continuar a mandar...E se a gravidade dos problemas económicos e sociais se agudizar, ele é capaz de dar a cambalhota. Niet

Niet disse...

Eu concordo com o texto do José Guinote a 100 por cento. Só que,o complot permante que tece e entretém as relações( e negócios) interpartidários no espaço "democrático", alimenta-se sobretudo dessas projecções e mi(s)tificações alienantes sobre o perfil e qualidades do agente liderante de mais um denso e misterioso processo de compra e venda de favores e interesses no núcleo duro do aparelho de Estado.E onde Costa joga...o seu futuro com e pela direita.Niet

Niet disse...

Oh, José Guinote, vamos lá ver ...Eu sempre elogiei o seu trabalho no blogue. Como ninguém discute nada, tento ajudar. Lançando pistas e ideias para ultrapassar a situação: Castoriadis,Bakounine, Mélenchon, Gorz ou Merleau Ponty. E não o faço mais por imperativos éticos, percebe? E percebe realmente o que digo? Fiquei com a sensação- admito estar errado- que ficou incomodado por eu ter citado uma expressão/noção do Bakounine ...sobre o complot permante entzre a classe politica. Niet

Niet disse...

Oh. José Guinote: Acho que V. Excia não está mesmo a perceber o que é a blogosfera. O Francisco Louçã nunca se atreveu a censurar- e há terriveis direitistas que vão lá dizer coisas terriveis- quem quer que fosse no blogue do Público. Seria um escândalo! Mas o José Guinote desconhecendo as regras minimas...está a praticar a censura e a envenenar uma relação, quando eu achava imensa piada ao seu purismo e boas intenções no quadro da...sociedade de classes,percebe? Como há anos escreveu o Miguel Esteves Cardoso, na blogosfera tentasse escrever um pedaço mas, a lei inexorável e intangivel, para se acertar é preciso muito e a margem de erro suplanta os 50 por cento.em média. Lamento imenso a sua atitude e protesto veemenetemente contra a sua censura. Niet

José Guinote disse...

Meus caros NIET, JOÃO E ANTONIO GERALDO DIAS, por uma alteração na configuração do Blogue que foi feita automaticamente o acesso aos comentários dos meus amigos não fica imediatamente disponível passando nós a termos que aceder a uma caixa para saber se há ou não comentários. Por nabice minha ainda não me tinha apercebido. Ficam agora publicados os comentários com a minha explicação. Um abraço a todos.

José Guinote disse...

Meu caro Niet lamento no seu caso que tenha considerado a não publicação um acto de censura. Mas tem razões para o ter feito. Não era no entanto o caso. Um abraço.

José Guinote disse...

Meu caro Niet, depois das devidas explicações, acrescento o seguinte: não me incomodam de nenhuma forma as referências que fez ao conceito de complot permanente nem ao facto de ter citado Bakourine, ou qualquer um dos outros. De todos devo referir que é o Castoriadis que mais aprecio embora seja escasso o conhecimento da obra, mas isso é culpa minha. Tenho "a ascensão da insignificância" que está traduzido na Bizâncio e um diálogo entre ele e o Ricoeur que foi editado pelas Edições 70 e que é muito complexo porque a conversa entre eles remete para códigos/conceitos que o leitor comum não domina. Pela parte que me toca a sua presença é sempre bem vinda. Aprecio e respeito as suas opiniões mesmo quando possa não as subscrever totalmente. Um abraço.

Niet disse...

Ainda bem que foram só erros tecnicos, José Guinote. Eu fiquei muito chocado,até porque sinto muito a sua pureza e intencionalidade.De ordem suprema, pode crer.Temos que estar muito atentos agora que Gama, Jaime, com uma colossal e terrivel inteligência; e um realismo maquiavélico, há potência infinitesimal,se colocou no Observador- com os compères JMFernandes e J.Nogueira Pinto...- Gama fintou-os e toca de vender uma imagem de Estado e Futuro de Donald Trump; está tudo dito: será esta a receita para vencer o terrivel hucster da direita americana e " proteger " a rota mediocre da jangada de pedra do extremo ocidental da Europa? Abraco T . Niet.