Será verdade (e deixando de lado a peculiar definição, ou de "liberdade", ou de "autocontenção" da Isabel Moreira)?
Em Portugal não sei se há estudos sobre o assunto, mas a respeito dos EUA, onde essas questões são regularmente estudadas (através de inquéritos como o General Social Survey), parece que os inquiridos que se declaram "liberals" são sistematicamente mais pró-liberdade expressão (medida desta maneira - não defenderem que nenhum destes livros sejam excluidos duma biblioteca pública ou escolar: um livro de um religioso muçulmano atacando os EUA, um livro defendendo a implantação de uma ditadura militar, um livro a favor da homossexualidade, um livro contra a religião e um livro dizendo que os negros são inferiores) do que os que se declaram "conservatives"):
Statistics for POLVIEWS = 1(Liberal) | ||||
---|---|---|---|---|
Cells contain: -Row percent -Weighted N | REMOVER | |||
1 | 2 | ROW TOTAL | ||
COHORT | 1: 1883-1889 | 74.8 2.9 | 25.2 1.0 | 100.0 3.9 |
2: 1890-1899 | 82.1 27.0 | 17.9 5.9 | 100.0 32.9 | |
3: 1900-1909 | 78.2 125.8 | 21.8 35.1 | 100.0 161.0 | |
4: 1910-1919 | 68.0 286.9 | 32.0 134.9 | 100.0 421.8 | |
5: 1920-1929 | 57.1 366.6 | 42.9 275.9 | 100.0 642.5 | |
6: 1930-1939 | 49.2 387.7 | 50.8 399.8 | 100.0 787.5 | |
7: 1940-1949 | 36.4 578.7 | 63.6 1,010.0 | 100.0 1,588.7 | |
8: 1950-1959 | 36.7 817.7 | 63.3 1,407.7 | 100.0 2,225.4 | |
9: 1960-1969 | 42.5 642.3 | 57.5 868.7 | 100.0 1,511.0 | |
10: 1970-1979 | 39.7 374.4 | 60.3 569.6 | 100.0 944.0 | |
11: 1980-1989 | 52.9 271.8 | 47.1 241.9 | 100.0 513.7 | |
12: 1990-1996 | 66.4 49.7 | 33.6 25.1 | 100.0 74.7 | |
COL TOTAL | 44.1 3,931.5 | 55.9 4,975.6 | 100.0 8,907.1 |
Statistics for POLVIEWS = 2(Conservative) | ||||
---|---|---|---|---|
Cells contain: -Row percent -Weighted N | REMOVER | |||
1 | 2 | ROW TOTAL | ||
COHORT | 1: 1883-1889 | 75.5 4.3 | 24.5 1.4 | 100.0 5.7 |
2: 1890-1899 | 82.5 63.9 | 17.5 13.5 | 100.0 77.4 | |
3: 1900-1909 | 79.4 251.5 | 20.6 65.4 | 100.0 316.8 | |
4: 1910-1919 | 72.7 508.8 | 27.3 191.4 | 100.0 700.2 | |
5: 1920-1929 | 63.7 806.1 | 36.3 458.4 | 100.0 1,264.6 | |
6: 1930-1939 | 56.1 822.1 | 43.9 643.8 | 100.0 1,465.9 | |
7: 1940-1949 | 49.3 964.9 | 50.7 992.2 | 100.0 1,957.1 | |
8: 1950-1959 | 50.8 1,184.1 | 49.2 1,144.9 | 100.0 2,329.0 | |
9: 1960-1969 | 52.5 949.6 | 47.5 860.3 | 100.0 1,809.9 | |
10: 1970-1979 | 53.3 490.3 | 46.7 429.4 | 100.0 919.7 | |
11: 1980-1989 | 57.9 228.4 | 42.1 166.3 | 100.0 394.7 | |
12: 1990-1996 | 70.6 59.3 | 29.4 24.7 | 100.0 84.0 | |
COL TOTAL | 55.9 6,333.3 | 44.1 4,991.7 | 100.0 11,325.0 |
O "COHORT" indica a idade o ano de nascimento do inquirido, o "1" são as pessoas que querem remover algum dos livros, o "2" são as pessoas que não querem remover livro nenhum. Em todas as gerações, os "conservatives" são mais dados a querer remover algum livro do que os "liberals"; por outro lado, também é verdade que, na maior parte das gerações, mesmo a maioria dos "liberals" (ainda que sempre por menor margem que os "conservatives") querem remover pelo menos algum dos livros (só nos nascidos entre 1930 e 1979 é que há uma maioria de "liberals" contra a remoção de livros).
Possível contra-argumento a todo este raciocínio - talvez os "liberals" norte-americanos não possam ser tratados como uma proxy para a esquerda europeia (há por aí alguém que saiba mexer no World Values Survey para fazer um estudo do género para Portugal ou para a Europa?).
4 comentários:
"Un estudio del Pew Research Center, especializado en observar los estados de ánimo de la opinión pública norteamericana, llegó hace relativamente poco a una conclusión muy llamativa: los jóvenes estadounidenses (18-34 años) son mucho más partidarios (40%) que sus padres o abuelos (27% y 12%, respectivamente) de que los gobiernos puedan impedir que la gente diga cosas ofensivas contra las minorías…"
El Pais, 23 de Dezembro. SOLEDAD GALLEGO-DÍAZ
O estudo da Pew Research Center tem um problema - como só mede a atitude face uma coisa (discurso ofensivo contra as minorias) acaba por misturar duas coisas: atitude face à liberdade de expressão e atitude face às minorias. Explicando melhor o que quero dizer - pelos vistos, são muita poucas as pessoas da geração dos "avós" (12%) que acham que o Estado deve poder proibir coisas ofensivas contra as minorias; mas isso quererá dizer que a geração dos "avós" dá mais valor à liberdade de expressão, ou quererá simplesmente dizer que se incomoda menos com discursos ofensivos para as minorias?
Fazendo uma analogia - de vez em quando aparecem propostas na República Checa para proibir os símbolos comunistas (o que é relevante já que é praticamente - tirando as antigas repúblicas soviéticas - o único país da antiga Europa de Leste que tem um partido influente chamado "Partido Comunista": o Partido Comunista da Boémia-Morávia); há 30 anos atrás não passaria pela cabeça de ninguém na então Checoslováquia proibir os símbolos comunistas - isso significa que a Checoslováquia dos anos 80 era uma sociedade mais aberta e tolerante? Claro que não - significa é que na altura era os comunistas que dominavam.
No fundo, a melhor maneira de medir a atitude face à liberdade de expressão é medir a atitude face à liberdade de expressão da opinião mais impopular - de novo, será que a aparente tolerância das gerações mais velhas perante discursos ofensivos para as minorias significa que essas gerações são mais "liberais", ou significa que os discursos ofensivos para as minorias são menos impopulares nessas gerações?
No entanto, realmente os dados que eu apresentei do GSS confirmam uma coisa - tanto entre os "liberais" como entre os conservadores, as gerações nascidas de 1980 para a frente são mais anti-liberdade de expressão que as anteriores (uma combinação de "politicamente correto" à esquerda e de "guerra ao terrorismo" à direita?)
Aqui há uns anos Noam Chomsky foi muito criticado, principalmente em França, por defender o direito dos negacionistas do Holocausto defenderem as suas opiniões. Isto diz tudo de uma cultura autoritária da esquerda estatizante pregar a proibição e o encarceramento daqueles que defendem opiniões que não lhes agrada ou que considere absurdas. As consequências desta lógica nós vimos no que deu na URSS, China e Europa de Leste, o curioso é que até a social-democracia é dada a essas políticas proibicionistas em nome do "bem", da "verdade" e dos "bons costumes"…
Na actualidade esta mania do "politicamente correcto" só veio agudizar ainda mais esta lógica legislativa e proibicionista desta esquerda que adora leis e Estado… Um dia destes volta a ser proibido a prostituição, a pornografia, o álcool, praguejar e cuspir no chão, para lá de negar milhares de factos históricos da história contemporânea ou da antiguidade.
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