A segunda carnificina do ano elevou para mais de 100, o número de mortos devidos aos incêndios. Com um intervalo de quatro meses a tragédia repetiu-se, se não na forma pelo menos nos resultados: perda de vidas humanas e uma brutal destruição do património natural.
Entre Pedrogão e este domingo negro o Governo geriu o sector como habitualmente. Esperou pelo resultado do Relatório da Comissão Independente e manteve tudo como dantes. Chegado o Relatório prometeu reformas e uma mudança de ciclo, passando da fase de combate para a fase de prevenção.
Não vale a pena repetir o que já todos disseram sobre as razões estruturais que estão por detrás da tragédia em que se transformou a nossa floresta. Não vale a pena - vale sempre a pena, mas não adianta nesta altura - insistir que as responsabilidades têm que ser partilhadas por PS, mais PSD, mais CDS, que são co-autores, e gestores incompetentes, do sistema que tanto sofrimento espalha neste pobre país.
O que temos que referir é que a palavra que emerge desta catástrofe é uma: incompetência. Incompetência política a começar por António Costa, o primeiro ministro. Porque não fez o óbvio: demitir a ministra e o seu, igualmente incompetente, secretário-de-estado; declarar o estado de excepção na protecção civil, e colocar um ponto final nas balelas pseudo-cientificas do faseamento dos períodos de combete.
António Costa foi incapaz de decretar que o Governo, depois de Pedrogão, entrava em fase Charlie, até ser capaz de de sair dela pelos seus próprios meios, sem mais portugueses a pagarem com a vida as incompetências várias, a começar pela do próprio Governo..
Incompetência Técnica que hoje grassa por vários sectores da chamada Administração Pública. Administração que foi alvo de um tsunami, liderado pelo PS, o PSD e o CDS, que varreu dos quadros uma geracção competente, que aliava formação a experiência, que foi encostada e convidada a sair. Para ser substituída por jovens quadros partidários, de formação mais do que duvidosa, doutrinados/doutorados nas madrassas partidárias, onde se aprende que o conhecimento não conta, o que interessa é o poder que se obtêm. Ser-se amigo de alguém com poder é a melhor formação que se pode obter em Portugal.
Parece que a ministra se demitiu, mas em boa verdade quem se deveria demitir, porque é o mais alto responsável pelo que aconteceu, deveria ter sido António Costa. Teria mostrado a grandeza que muitos lhe reconhecem e que, ao que parece, terá sido consumida pelo fogo intenso. A sua declaração ao País foi um momento penoso.
PS - PCP e BE não foram capazes, entre as duas tragédias, de perceber que o Governo não estava a fazer nada para responder melhor às emergências do curto prazo. Há ocasiões em que a visão estratégica, sobre as causas profundas dos nossos problemas, e as grandes mudanças necessárias , provoca cegueira de curto médio prazo. É por isso que uns são bons para governar e outros são apenas bons para estar na oposição, como eles próprios fazem questão de nos recordar sempre que podem.
18/10/17
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2 comentários:
A geringonca foi possuida por uma engrenagem politica diabólica neste Veräo apocaliptico de 2017 que a desviou, como indica e aconselha Maquiavel no " O Principe ", da incontornavel necessidade de uma exaustiva simulacäo extrema de dados e problemas sobre as questöes mais escaldantes da politica real. E o handicap anti-natura da mancha dominante do eucaliptal, foi fatal para a extensäo criminosa da tragédia do fogo cuja intensidade avariou a rede capital das telecomunicacöes de urgência impingidas pela Motorola nos dias maus de Dias Loureiro... A que se juntará, como se confirmará, mais cedo ou mais tarde, a sombra mefistofélica e hiper-virtuosa do PR Marcelo; o que talvez tivesse acrescentado mais alguns factores de precipitacäo e desorientacäo a uma fórmula de governo apostada em afunilar o investimento público com todos os disfarces e contorcionismos inerentes a uma " coligacäo " inédita e com o imperativo de vencer.
Que pague os riscos da floresta quem lucra com ela!
Publicado por Vital Moreira
1. Em termos económicos, a economia florestal apresenta enormes "externalidades negativas" para a coletividade, em termos de fogos florestais, de danos ambientais e paisagísticos, etc.
Os benefícios económicos vão para os proprietários florestais e, em especial, para a indústria de celulose, uma das mais lucrativas atividades económicas do País; mas uma parte importante dos custos dessa atividade económica, os da prevenção e combate aos fogos florestais e de indemnização das suas vítimas, recai sobre o Estado e sobre os contribuintes, uma despesa anual de mais de 100 milhões de euros.
Lucros privados, custos públicos!
2. Tal como sucede em relação às "externalidades" associadas às atividades poluentes (princípio poluidor-pagador), importa "internalizar" os referidos custos na fileira agro-industrial da celulose, imputando-os aos seus beneficiários, ou seja, os produtores florestais e a indústria de celulose (que, aliás, é grande produtora florestal, num regime de "integração" vertical da fileira).
Defendo, por isso, que pelo menos os custos orçamentais com a defesa e proteção da floresta contra incêndios sejam suportados por um adicional ao IMI sobre as florestas e por uma contribuição especial das empresas de celuloses (mais justificada do que as contribuições especiais exigidas aos bancos ou às empresas de energia).
Os contribuintes em geral não têm de pagar os riscos crescentes da economia agro-celulósica (que se estão a tornar também um pesado risco orçamental). E equanto não trocarmos de floresta, abandonando a errada opção nacional (que vem do "Estado Novo") por uma floresta industrial de matas extensivas de pinheiro bravo e eucalipto (como defendi anteriormente), não há nenhuma razão para fugir ao princípio beneficiários-pagadores!
Adenda
Sem contar as indemnizações às vítimas pessoais, ainda por apurar (mas que certamente atingirá um valor elevado), o montnte alocado para a reparação de prejuízos patrimoniais (casas, culturas, empresas) dos dois grandes incêndios deste ano chega a perto dos 400 milhões! Contribuinte paga!
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