27/01/13

Um ponto no i do "escurinho" e outro no do alegado racismo de Arménio Carlos

Como saberão muitos dos poucos que me lêem, considero que a hegemonia do PCP e da direcção da CGTP é desastrosa e portadora de graves riscos, precisamente porque as suas concepções de alternativa e as formas de organização que praticam perpetuam a reprodução da hierarquia, da distinção entre governantes e governados, da dominação classista. Sendo assim, se admitirmos que o "escurinho" foi, na boca de Arménio Carlos, uma expressão de racismo — do que não estou, em abono da verdade, tão seguro como a Joana ou o Bruno —, o que nos deveria alarmar, mais do que o racismo de Arménio, seria a passividade da assembleia dos manifestantes. Com efeito, vai sendo tempo, se queremos de facto abrir caminho à autonomia e à igualdade democráticas, de deixarmos de achar natural e inocente a "servidão voluntária", a menoridade ou a aquiescência dos dominados aos representantes sindicais ou a outros legítimos superiores. E o ponto é que, se Arménio Carlos foi racista, então foi-o também, pelo menos por cumplicidade, toda a assembleia que não o apeou instantaneamente do palanque ao ouvir a sua profissão de racismo.

21 comentários:

Anónimo disse...

Aí está a fronda anticomunista, criptoracista, ao lado dos verdadeiros racistas que são os servidores do FMI, a gritar contra o «racismo» de Arménio Carlos.
Moderem-se,senhores

JPedro

Anónimo disse...

Bom chuto.

Ana Cristina Leonardo disse...

"Escurinho" é uma expressão mesmo rasca. Antes preto, caramba! Escurinho é racismo com uns laivos de paternalismo, do pior que há. E mesmo que o Arménio não seja racista, mas apenas parvo, é coisa muito infeliz de se dizer. E de se aplaudir.

Anónimo disse...

" Não existem senão duas espécies humanas que só possuem a raiva como ligação: A que esmaga e a que não consente em ser esmagada ", Paul Nizan.
Demissão imediata de Arménio Carlos, por um lado, é o minimo de exigência democrática. O PCP/CGTP deve ser punido e responsabilizado por causa do lapso/ anedota de insofismável teor racista do lider sindical máximo, que despoletou um acontecimento politico de consequências incalculáveis para o futuro da vida democrática nacional. Imediata demissão de Arménio Carlos, por favor. Niet

Joana Lopes disse...

Miguel,
Nunca ouvi um discurso quando vou a uma manifestação: só quem está mesmo à frente é que segue devotamente. Todo o resto do pessoal ainda nem chegou ao destino ou está por lá conversando. Até porque as condições sonoras são sempre más...

Luis Magalhães disse...

O que é preocupante é a reacção politicamente correcta da esquerda. Foi uma expressão infeliz, claramente. Agora pretender que o Arménio Carlos é racista ,e pior, que a assistência ,"por cumplicidade"e "por não o apear", também o é, é delirante.
Com esta esquerda picha-mole, que do alto da sua pureza e infalibilidade faz o jogo da direita, não vamos lá.
E isto é o que quem lá estava a assistir sabe.

Miguel Serras Pereira disse...

Joana,
o argumento acústico, nos termos em que o apresentas, parece-me muito exagerado. Por outro lado, não sei se se deve considerar uma expressão de racismo o facto de, perante dois brancos e um negro, dizer que este último é de cor mais escura - sem estabelecer, bem entendido, nexos causais entre a cor e o comportamento do "escurinho".
Este argumento vale também para ti, Ana. Mas, no fundo, o que me importa no teu comentário é o facto de escreveres, por outras palavras, que tão racista é o que vai à vinha como o que fica à espreita.
Quanto ao comentário do Niet, creio que o meu post contém já uma resposta antecipada. Agradeço, é claro, o do Anónimo que elogia com excessiva generosidade os meus dotes de rematador. E, por fim, penso que as posições do comentador L Magalhães e do primeiro Anónimo expressam bem o efeito de distorção do pensamento e da palavra que resultam das " concepções de alternativa e as formas de organização que (…) perpetuam a reprodução da hierarquia, da distinção entre governantes e governados, da dominação classista" — concepções e formas de organização que o meu post começa por denunciar.

msp

ASMO LUNDGREN disse...

Bolas pazinho, todas as pessoas são influenciadas pelo seu ambiente e até 1974 poucos eram os que na Carris ou fora dela contactavam com os poucos cabo-verdeanes que iam da pedreira dos húngaros à pata ou à bicicleta reconstruir lisboa
logo o pessoal da carris tinha uma certa operária flama contra os escurinhos que não pagavam bilhete

A sério? Eu sei que sabes que eu sei que tu sabes? disse...

É um post muito escurinho sobre um ex-deputado do PCP, que com 57 anos tentou uma chalaça dos seus tempos da escola industrial, bolas o homem não andou na Universidade da Comunicação Social como vós.

Joszef disse...

1) estou muito convencido de que seja um exemplo de racismo, simplesmente foi demasiado literal na metáfora que estava a utilizar (realmente, na maioria das representações dos reis magos há um mais escurinho...racistas são os bizantinos que os punham todos brancos!)

2)se mesmo nas manifs da cgtp o número de pessoas que está a ouvir o discurso do Arménio é reduzido, então nas de professores é mesmo ínfimo. Só mesmo alguns dirigentes que estão lá à frente...de resto...zero. Percebo o argumento, mas não me parece que seja por aí...

João Valente Aguiar disse...

Miguel,

Só um pormenor sobre a audiência que supostamente seria pequena. Claro que muita gente está-se a marimbar para o que o Arménio Carlos estava a dizer, mas as imagens televisivas mostravam-no a falar para uns Restauradores bem compostos e com olhos colocados no palco.

Por outro lado, ele não disse uma piadola com uns amigos no café (o que não seria menos grave). Em política as palavras contam e muito. Na minha opinião, ele recorreu ao facto de o gajo do FMI ser "escurinho" para classificar a sua acção política de ataque aos direitos dos trabalhadores. Ou seja, seria também (sublinho o também) por ele ser "escurinho" que as políticas e as medidas defendidas pelo FMI seriam onerosas. E isto é um acto racista. Como qualquer ideologia, o racismo é tanto mais bem-sucedido quanto mais é praticado por pessoas que se dizem contra o racismo.

Para terminar este comentário que já vai longo. Seria bom que alguns dos que agora atacam o Arménio Carlos (e com toda a razão) se lembrem do que andaram (e ainda andam) a dizer da Merkel e dos "colonizadores" alemães. Quando a análise das contradições sociais passa do plano social, político e económico para o plano da luta entre nações, a xenofobia está aí à porta. A troika deve e tem de ser criticada no plano real da sua actuação não no plano fantasioso da competição e da colonização entre nações.

Este post do Miguel é um bom aviso contra os perigos que enfrentamos nos dias de hoje.

Um abraço

Luis Pereira disse...

Cuidado camarada Miguel! Não podemos cair no mito do racismo, tal como outros que a burguesia muitas vezes sabe usar para desacredir a luta de classes como motor da história. Acrescento alguns mitos muito agora na moda: feminismo e ecologia.
Cuidado! A luta é entre explorados e exploradores e não entre cores de peles.
Tendo eu dupla nacionalidade, tenho um manda-chuva branco e outro preto, e isso não faz diferença nennhuma no pão que tenho que por todos os dias em cima da mesa, porque os dois cada vez querem que eu tenha menos pão.
Sim, Carlos pos água, mas isso é com eles. E por isso, a tua postagem for desnecessária, desculpa que te diga.

Anónimo disse...

Parece-me sintomático que a esquerda-esquerda se deixe enredar estupidamente nas malhas do politicamente correcto inventadas pelos descolhoados liberals americanos. Facto: o homem é etíope, chamar-lhe escurinho é mais um tautologia do que um insulto. Racismo? Só se estiver na cabeça de quem ouve. É patético que tenhamos chegado a um tempo em que até a esquerda, que antigamente tinha licença para exprimir a sua revolta com rudeza, se assim achasse necessário, se sinta hoje na obrigação de adoptar a elegância discursiva e o formalismo burgueses. A. Carlos pode não ter sido muito elegante, mas será que um assassino económico como o etíope nos merece tanto respeito assim? Pela minha parte, era capaz de lhe chamar coisas bem menos elegantes do que escurinho.

E toda esta pseudo-polémica é tanto mais ridícula porque suspeito que se a troika fosse constituída por dois negros e um branco e A. Carlos se referisse a este último como "o branquinho", as cândidas almas de esquerda não se sentiriam na obrigação de acompanhar a direita no seu cínico clamor de ai, racismo!racismo! (Aliás, a direita nem sequer se lembraria de lhe imputar racismo, porque o ridículo seria demasiado).

Júlio F.

João Valente Aguiar disse...

Sobre o comentário de Júlio F.

Este comentário é aterrador pois começa por confundir o anti-racismo com uma moda qualquer do politicamente correcto da burguesia... Quando, muito pelo contrário, a luta contra o racismo é uma das lutas mais importantes da classe trabalhadora. É a luta contra o nacionalismo e contra o racismo que permite à classe trabalhadora passar por cima dessas divisões e com isso favorecer a unidade da sua condição social de explorados. Achar que isto é formalismo burguês só demonstra o quanto muito gente que se coloca à esquerda não percebe (e, pior, não quer perceber) o que quer que seja para além do seguimento cego das palavras dos seus líderes...
Teria sido interessante e ainda mais pedagógico que um tipo qualquer que não do PC tivesse dito a mesma coisa que o Arménio Carlos. Depois fazer-se-ia a comparação e os resultados não seriam nada surpreendentes.

Ainda neste comentário, Júlio F. vem dizer que «Parece-me sintomático que a esquerda-esquerda se deixe enredar estupidamente nas malhas do politicamente correcto inventadas pelos descolhoados liberals americanos». Então sugiro que vá a blogues de extrema-direita portugueses e verifique o que por lá disseram sobre Arménio Carlos. Não estou com isto a dizer que estão no mesmo plano (porque não estão) mas que quando sites e blogues da linha dura da extrema-direita portuguesa concordam com as palavras de Arménio Carlos eu, no vosso lugar, ficaria preocupado...

Por outro lado, Júlio F acha que «o homem é etíope, chamar-lhe escurinho é mais um tautologia do que um insulto». Essa concepção de que chamar escurinho a um etíope seria uma tautologia é o mesmo que dizer que chamar branquinho a um português seria uma tautologia. Ora, mas não há portugueses negros nem etíopes brancos? O critério da cidadania de alguém é assim tão tautológico e colado à cor da pele? Quem gostava de biologizar as características comportamentais e sociais das pessoas era a extrema-direita. Pelos vistos há quem no afã de justificar o deslize dos líderes opte por um discurso em queda livre para o irracionalismo e para o racismo.

Este tipo de comentário é muito instrutivo e vai no sentido do que o Miguel apontou no seu post sobre o facto de o público ter recebido com indiferença as palavras de Arménio Carlos. Perante um disparate racista dito pelo líder da CGTP, os seus camaradas andam por aí a justificar o injustificável com argumentos ainda piores do que a própria frase que inaugurou esta polémica. O que só demonstra o grau de penetração de laivos racistas nas próprias bases militantes da esquerda nacionalista portuguesa. Assim sendo, o cenário político torna-se muito mais perigoso do que se temia.

João Bernardo disse...

Ora vocês, que porra, então um gajo agora diz que o cabrão do éfémi é uma merda dum preto, lá da terra do seiláseé, e tem de ouvir um arrazoado e que é isto e mais aquilo! A gente cá não andou a estudar para jornalista, com o camandro, a gente fala como pensa, se o gajo é preto é preto e tanto pior para ele e para quem tem de o aturar. Vá com a austeridade para a terra dele! E logo o camarada Arménio até foi delicado, nem chamou preto ao gajo, só «escurinho», e logo vêm vocês com o anticomunismo primário a insultar as forças populares e progressistas. O que queriam que o camarada Arménio chamasse ao gajo? Branquinho? Assim já ficavam contentes? Com o comandro, parem de servir a reacção, que está sempre à espreita.

Saudações anti-racistas.

José disse...

Tal como o Miguel, não estou certo de que a expressão de Arménio Carlos tenha racismo por detrás. Parece-me um exagero depreender, por exemplo, que a cor preta da pele seja, para Arménio Carlos, um factor constitutivo — per se — duma postura ético-política que despreza direitos e a democracia. Não obstante, não seria tão lesto a reduzir a passibilidade de acusação de racismo. Isto é, não estranharia — nem creio que seja despiciendo — que, por força da falta de consolidação daquilo que Arménio Carlos pensa sobre a questão da cor de pele e por força dos constrangimentos do tipo de discurso, se tenha dado qualquer coisa como uma escorregadela freudiana.

Subscrevo o tabefe muito bem dado por João Valente Aguiar àqueles xenófobos encarapuçados que assentam as suas críticas à posição dominante dos decisores políticos alemães na nacionalidade.

Anónimo disse...

Sobre o comentário de João Valente Aguiar,


Eu não confundo o anti-racismo com uma moda burguesa. O que não faço é entrar no jogo demagógico de quem usa a palavra "racismo" (tal como as palavras "democracia" ou "terrorista", por exemplo) ao jeito de um gás paralisante. Porque chamar racista a alguém que usa um qualificativo tão moralmente neutro como "escurinho" é simplesmente uma forma de o silenciar via assassínio de carácter, ou seja, uma forma de desconversar.

Todas as suas inferências sobre o suposto deslize da "esquerda nacionalista" para o irracionalismo esbarram no muro dos factos e daí não passam. Escurinho é um qualificativo que, aplicado ao homem da troika, não se pode considerar menos do que estritamente objectivo. Se A. Carlos lhe tivesse chamado estúpido, ou facínora, poderíamos argumentar sobre a factualidade dos termos; com escurinho, digam vocês o que disserem, não podemos. Goste-se ou não da palavra, insinuar que ela possui as conotações pejorativas e racistas de um termo como "preto" é simplesmente má-fé. De igual modo, não me parece que haja qualquer inconsistência em associarmos a nacionalidade etíope a pele escura e a nacionalidade portuguesa a pele (mais) clara. Há etíopes brancos e portugueses negros? Há. Mas qualquer estatística lhe dirá que são excepções. Decerto não tão raras como um japonês louro, mas sem dúvida excepções. Querer ver nisto uma afirmação racista, em vez de uma mera constatação de geografia humana, é má fé.
Que a direita recorra a esses argumentos do homem de palha, já é suficiente mau; mas que a esquerda vá atrás, com receio de parecer mal na fotografia mediática (cujo enquadramento, digamos, é há mais de 30 anos comandada pela direita), apenas mostra a inocência política a que a esquerda chegou: desarmá-la tornou-se tão fácil como roubar a bicicleta a uma criança.

E também me parece muito cómica e sintomática a sua conclusão de que, se eu estou a defender o A. Carlos é porque ele é o meu líder. Pois fique sabendo que há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a sua vã filosofia, Horácio. Nunca na vida votei PC nem tenciono, porque o leninismo não combina com a cor das minhas entranhas. Também nunca fui a uma manifestação da CGTP. E, não, também não sou de direita, e muito menos de extrema-direita.
Que chatice - a realidade é tão confusa, não é? Seria tudo muito mais cómodo se cada cabeça coubesse numa das gavetinhas pré-seleccionadas que certos analistas usam para imporem à realidade aquela ordenzinha espúria que talvez lhes confira a reconfortante sensação de serem uns sábios.

Júlio F.

João Valente Aguiar disse...

O facto de Júlio F. dizer que não é próximo do PCP ou da CGTP não altera em nada o meu argumento de fundo: as declarações de Arménio Carlos são de teor racista.

Por outro lado, Júlio F argumenta que ser negro é um facto. Pois e ter cabelo ou não ter também. E ter orelhas grandes ou pequenas também... (Se bem que os nazis também classificaram as pessoas e o que chamavam de raças a partir da sua fisionomia, daí retirando propriedades pessoais, culturais e políticas). Por isso, nomear alguém a partir das suas características biológicas dentro de uma observação política ou social é um dos elementos fundamentais do racismo.

Anónimo disse...

Se Arménio Carlos tivesse criticado as palavras ou actos do etíope associando-as à palavra "escurinho", AC teria feito uam declaração racista e todos estaríamos de acordo. Mas AC limitou-se a designá-lo pela característica física que mais visivelmente o distingue dos outros dois troiquistas, dentro duma estratégia de comunicação para massas que se compreende no contexto da afirmação (se ele o referisse pelo nome, poucos saberiam de quem estava a falar, certo?). Se o homem fosse o mais gordo dos três, talvez a AC tivesse ocorrido chamar-lhe o gordinho. Repito, querer fazer disto um caso, só se entende à luz da superstição do politicamente correcto que tolhe a esquerda, e demonstra, no meu entender, duas coisas: que até a esquerda-esquerda já não distingue o relevante do fait-divers; e que o desporto tipicamente esquerdista das lutas intestinas continua tão popular como sempre, para grande gáudio da direita.

Júlio F.

karlos disse...

"O Baltazar, os xulos e a mirra

Anda por aí uma grande polémica porque o líder da CGTP ter-se-á referido ao representante do FMI como o rei mago mais escurinho. Como este é um país onde nunca existiu o racismo, aliás, sempre fomos exemplares nessa matéria, anda tudo por aí indignado com o sindicalista.

Pelo menos enquanto o papa não lhes der o destino do burro e da vaca continuarão a aparecer três reis magos no presépio e um deles é de pele mais escura, muito provavelmente representava um rei de uma região próxima da Palestina. O Baltazar poderia muito bem chamar-se Salassie, aliás, o último imperador da Etiópia, país onde nasceu o funcionário da Lagarde, chamava-se precisamente Salassie, era um pouco mais magrinho do que o nosso mas igualmente de pele escura.

Por aqui há muito que a consideração pelo funcionário do FMI não é das melhores, quando o seu colega foi destacado para impor a sua incompetência aos gregos, o Salassie até foi simpático nas suas entrevistas, menos arrogante do que o seu antecessor e com uma abordagem mais humana dos problemas e da crise. Talvez influenciado pelos Moedas e outros trocos locais o Salassie mudou o discurso, chegando ao ponto de roçar o ofensivo.

Onde estavam os que agora estão muito incomodados com o suposto racismo do líder da CGTP quando o Salassie disse que se os portugueses queriam um Estado Social teriam de ter dinheiro para o pagar? Então este senhor chama xulos a todo um povo, ignora todo o dinheiro roubado aos fundos comunitários e aos cofres do Estado através da evasão fiscal para insinuar que os portugueses são uns malandros que querem viver à custa dos alemães e todos ficaram calados?

Não admira o silêncio, os ideólogos da direita portuguesa que nunca se lembraram de tão brilhante argumento passaram a usá-lo e basta ler os artigos de opiniões dos jornalistas mais bajuladores da área económica para que encontremos esta falsa ideia repetida até à exaustão. Se alguém se tivesse lembrado de que havia um rei mago chamado Gaspar e se o ministro fosse referido por amarelinho alguém se queixava? É óbvio que não, o ministro vai pouco à praia e com as luzes dos gabinetes até anda um pouco amarelado.

Mas no caso do Salassie já não se podem fazer Referência à cor da pele e se for feita uma comparação do nome com o dos reis Magos terá de ser o Melchior e não o Baltazar. O Melchior era o descendente de Caim que representava a raça branca e até foi o rei mago que ofereceu o ouro. O Baltazar, o tal rei mago que tinha a pela típica dos povos africanos, ofereceu mirra, uma erva amarga que simboliza o sofrimento de Cristo.

A verdade é que o Baltazar até pode ser mais branco do que eu, se for necessário dizê-lo para que se calem as nossas boas consciências poderei fazê-lo, mas o relatório do governo que assinou num autêntico frete ao governo é mirra, portanto, se o Baltazar em vez do rei do FMI fosse um rei mago seria o Baltazar pois foi este o rei mago que ofereceu a mirra ao menino Jesus.

Quanto ao racismo estamos quites, se o Arménio se excedeu o Salassie foi muito mais longe ao insinuar que os portugueses querem viver à conta dos outros o que em linguagem popular se chama xulo."

Miguel Serras Pereira disse...

Bom, neste momento, a minha posição é incómoda. Mantenho que, à partida, o "escurinho" não é forçosamente racista. Mas alguns dos comentários que apareceram nesta caixa deles e noutros lugares blogosféricos confirmam, em contrapartida, toda a primeira parte do meu post, e revelam uma vez mais o espírito de esbirros de militantes que se proclamam revolucionários e anticapitalistas, mas odeiam acima de tudo a democracia, adoram acima de tudo os chefes e a hierarquia e estão maduros para servir uma ou outra variante de reforço do braço repressivo do Estado que venha que lhes acene com lugares de capatazes ou "secretas".
Dito isto, creio ser urgente que quem quer a democracia - e por isso não quer a exploração nem a desigualdade e reivindica a participação activa dos cidadãos nas responsabilidades de deliberar, decidir e governar - se liberte dos cultos liberai-multiculturalistas que e das idealizações do oprimido que são o seu conteúdo. A via das discriminações positivas e da multiplicação das "espécies protegidas" correspondentes, defendida supersticiosamente por tantas cabeças radical-fracturantes, só pode, entre outros malefícios, reforçar o poder tutelar do Estado, bem como a dependência dele. Mais ainda, rotulam, tal como o racismo ou o nacionalismo, ainda que através de uma inversão simétrica, aqueles que discriminam, fixando-os na sua condição ou identidade subordinante de "negros", de "mukheres", de "gays", etc., e fiscalizando a correcção e a legitimidade da identidade protegida.
Mas, enfim, talvez haja outras ocasiões que me permitam voltar a estas questões, deixando de parte o episódio Arménio Carlos.

msp