13/06/14
O primado do plano europeu
por
João Valente Aguiar
Só compreendendo o real carácter de supranacionalização da economia europeia poderá alguém contrapor um projecto democrático, socialista e só, dessa forma, a austeridade poderá ser travada. Enquanto uma certa esquerda insiste no plano nacional(ista) da saída do euro, na Grécia, Alex Tsipras lembra que só «uma solução europeia global» que integre o BCE, o Banco Europeu de Investimento e o Conselho Europeu, permitiria anular grande parte da dívida pública grega (aqui). Mesmo as políticas de desenvolvimento, defende Tsipras, deveriam ser expressas a partir de um plano europeu. Independentemente de discordâncias sobre outras questões, é uma excelente notícia saber que o principal rosto da esquerda europeia assume uma posição decisivamente orientada para o plano europeu.
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30 comentários:
João,
concordo com o teu comentário, mas penso que seria útil, na circunstância, comparar a posição do Syriza com o recuo nacionalista do BE, que, na realidade, só deixa aos que lá restem de antinacionalistas — e o nacionalismo é a grande ameaça do momento presente à escala global —, se quiserem ser coerentes, a oposição frontal, clara e publicamente explícita à actual orientação de tendencial coligação com o PCP, e de efectiva deserção do campo do "De pé, povos da Europa".
Um abraço
miguel(sp)
Miguel,
Não confundo o Bloco com o PCP. Espero apenas que o Bloco não caia na tentação de quer fazer uma aliança eleitoral com um partido que tem como objectivo fundamental a saída do euro e a balcanização europeia, como eu e outros repetidamente demonstramos.
O que eu acho mais curioso no processo político da esquerda em toda a UE é verem o sucesso eleitoral do Tsipras e nem sequer fazem a colocação dos problemas num plano europeu. Claro que o sucesso do Syriza não teve sucesso eleitoral unicamente por causa disto, mas parece-me inquestionável que quem vota no Syriza (nas últimas eleições foram 30%) não tem divergências de fundo sobre esta matéria. Doutra maneira não votariam neles...
Ora, o partido à esquerda da social-democracia que tem maior sucesso eleitoral à escala europeia é o Syriza que tem um programa político fundamentalmente europeísta.
Pego na questão eleitoral não porque ela me interesse muito mas porque é ela que naturalmente baliza parte importante das acções de qualquer partido político. O importante é que o sucesso do Syriza demonstra que é possível defender-se um programa de esquerda e democrático numa base europeísta, e ainda ter quase o triplo dos votos da esquerda nacionalista portuguesa (o PCP teve 12,7% dos votos).
Abraço,
João
V. Exas. têm razão, em teoria. Na prática como pensam convencer a Alemanha e seus aliados do bloco central europeu? É que por lá os resultados eleitorais, dos conservadores, aos sociais democratas e à extrema direita, dizem que os governos e a maioria da população não querem saber nada das ideias teóricas dessa ajuda ao sul.
Sérgio Martins,
em primeiro lugar, nós não andamos aqui para fazer o que os patrões, burocratas, gestores e tecnocratas querem, mas para substituir o seu poder pelo poder democrático dos cidadãos comuns. É o que significa a palavra de ordem "De pé, povos da Europa" — que podemos e devemos subscrever, ainda que reconhecendo que a deveremos entender e praticar para além das cenas meramente eleitorais e representativas.
Em segundo lugar, não nos livraríamos da oligarquia europeia se abandonássemos a UE, e, quando muito, ficaríamos, a grande maioria dos portugueses, em piores condições para lutar contra ela — e/ou escapar a cair na esfera de influência das oligarquias constituídas e/ou emergentes de outros quadrantes.
Em terceiro lugar, tanto para os cidadãos comuns portugueses como para os de toda a Europa (e do mundo), o nacionalismo, a reemergência das rivalidades nacionais, etc. são a mais grave ameaça que o austeritarismo engendrou, porque nos confrontam com horizontes de guerra, miséria e opressão social e política absolutamente catastróficos — uma regressão histórica acelerada e geral, destruindo o que nos resta das conquistas seculares dos movimentos radicais e dos trabalhadores.
Saudações democráticas
miguel(sp)
Sim, João, eu sei que tu não confundes o BE com o PCP — o que temo é que o BE o faça e se encaminhe através de coligações e unitarismos indissolúveis para a fusão (à maneira da Intervenção Democrática ou dos Verdes). Troste fim, mas mais ou menos iminente, a menos de uma profunda transformação interna (no plano não só das ideias que exprime como da organização).
Abraço
miguel(sp)
Parece-me que os povo alemão não quer pôr-se de pé ao lado de outros povos do sul.
Miguel,
espero sinceramente que não. Pelo Bloco e pelo que daí adviria para o avanço do nacionalismo à esquerda.
Um abraço
Sérgio Martins,
«como pensam convencer a Alemanha e seus aliados do bloco central europeu?».
Então as pessoas conseguiram conquistar direitos políticos e sociais ao longo dos últimos dois séculos e se se unissem numa plataforma comum não conseguiriam sequer conquistar uma via democrática e oposta à austeridade?
Sobre o segundo comentário de Sérgio Martins (das 20:45) que só li agora.
Muitas pessoas ficam aborrecidas por eu, o Miguel e outros falemos em nacionalismo à esquerda. Ora, este comentário de Sérgio Martins é o perfeito exemplo do nacionalismo: reduzir todas as pessoas a viver num país a uma vontade única, ainda por cima supostamente hostil. É verdade que existem alemães com essa ideia, como há portugueses que acham que se os alemães desaparecessem viveríamos sem dívida, sem austeridade e num cantinho do céu. Por isso é que no norte da Europa o nacionalismo tem sido adoptado à direita e no sul, salvo pequenas excepções, à esquerda. E assim retornam as teses das nações proletárias que, desgraçadas, estariam a ser espoliadas por nações plutocráticas... E assim se afoga a dimensão socioeconómica das realidades políticas num pântano geoestratégico.
A austeridade acontece porque essa é uma determinação da classe dominante para superar a crise económica fazendo recair esses custos sobre os trabalhadores. Não acontece porque são alemães, chineses ou marcianos. Não é a sua nacionalidade que determina a sua acção política e económica.
Sim, João. O nacionalismo erra — ou falsifica — o diagnóstico e receita um remédio pior do que o mal. Acresce que o remédio, além de ser pior do que o mal para a grande maioria, é para a Europa no seu conjunto e para cada uma das suas regiões "nacionais" em particular, uma via suicidária (política, económica e culturalmente).
Abraço
miguel(sp)
Fala-se aqui da Europa como se não fosse já do ponto de vista formal o directório Conselho, Comissão, BCE e BEI a pôr e a dispor em função do que são os superiores interesses do eixo Berlim Paris defendidos por um exercito (monetário) de ocupação a quem franqueamos as portas.
Tristes estes Patain(istas)de pacotilha ao serviço de interesses mais ou menos obscuros e para quem a simples ideia de libertação de um povo é combatida com toda a ferocidade.
RG
Eu concordo que em última análise a melhor via é a luta transnacional dos trabalhadores. E também vejo os perigos e desvantagens do nacionalismo.
Mas não vejo é ninguém capaz de mobilizar os trabalhadores, nem eles quererem ser mobilizados para essa luta transnacional por via de estarem agarrados às suas próprias “pequenas” mordomias providenciadas pela estratégia da sua burguesia.
Este senhor RG insiste na tese da ingerência externa como se relações económicas fossem a mesma coisa que uma invasão militar... E assim é a esquerda nacionalista - ancorada no PCP, MRPP e MAS - quem em Portugal adopta o discurso de transformar questões económicas em meros jogos geoestratégicos. Como disse acima, e volto a repetir, «A austeridade acontece porque essa é uma determinação da classe dominante para superar a crise económica fazendo recair esses custos sobre os trabalhadores. Não acontece porque são alemães, chineses ou marcianos. Não é a sua nacionalidade que determina a sua acção política e económica».
Por isso falar em libertação de um povo no caso actual é uma grande falácia. Porque do povo tanto é um trabalhador como um capitalista. Quando esta esquerda coloca a categoria de povo no centro da discussão política é da coligação de interesses entre os patrões mais retrógrados (com as suas empresas pouco internacionalizadas e partidários do proteccionismo) e dos trabalhadores que estão a falar. Pior, ao se ficarem pelo conceito de povo nacional consideram como prioritária a relação entre os cidadãos nacionais, independentemente da sua classe social, o que também origina um desprezo tanto pelos trabalhadores imigrantes como pelos trabalhadores residentes noutros países. E assim se tecem os fios que ligam a esquerda nacionalista à extrema-direita, chamando "libertação de um povo" a um projecto de escravização e de miséria que, como muito bem alguém lembrou há uns tempos (http://www.ionline.pt/artigos/portugal/louca-anteve-sacrificios-os-da-ii-guerra-mundial), teria consequências ao nível das ocorridas com a Segunda Guerra Mundial.
Sobre a questão colocada pelo anónimo das 13:52,
a questão fundamental é conseguir articular as várias lutas nacionais e colocar o objectivo da transversalidade internacional acima dos objectivos nacionais de cada processo. É evidente que isto nunca foi totalmente conseguido ou já não viveríamos numa sociedade capitalista... Aliás, o capitalismo nunca será substituído por nada melhor se os trabalhadores não forem capazes de transformar as suas lutas num processo supranacional.
Mussolini disse um dia, mais propriamente em Março de 1919, «declaramos guerra ao socialismo não por ser socialista, mas por se ter oposto à nação». Há cem anos atrás, os fascistas ganharam o apoio de largos contingentes operários culpando comunistas, socialistas e anarquistas não por mobilizarem os trabalhadores mas por não darem primazia ao plano nacional. Um século passado e é parte da esquerda que propaga a mesma lenga-lenga da centralidade do problema nacional sobre a dimensão de classe, ou tomando esta como uma simples componente daquela. Ritualistas e voluntaristas, os dirigentes e militantes dos sectores mais nacionalistas da esquerda acham que podem fazer as mesmas asneiras do passado mas com resultados diferentes... Pelos vistos, não chegaram 100 anos de erros repetidos, não chegaram 100 anos para se perceber que SEMPRE que os processos de lutas sociais não conseguiram furar as fronteiras nacionais acabaram derrotados ou foram transformados em processos ditatoriais e diametralmente opostos às práticas emancipadoras iniciais. Andaremos mais 100 anos nisto?
Enfim para o JVA estamos bem e não podia ser de outra maneira, eu já uma vez lhe expliquei que os trabalhadores alemães se estão a marimbar para os trabalhadores do sul e ainda mais estarão quando precisamente os seus índices de bem estar o são à custa daqueles. O que está dar mesmo é ser-se pró-alemão e continuar a trocar com o marco-de-ocupação.
RG
Ainda bem que o leitor RG lembrou um dos comentários mais nacionalistas que alguém pode escrever. Depois de eu e o Miguel Serras Pereira termos valorizado o plano europeu sobre o plano nacional, eis o comentário de RG: «Isto seria assim, se a realidade não fosse, por exemplo, os trabalhadores do norte, pela acção da sua oligarquia dominante, serem beneficiários do empobrecimento dos trabalhadores dos países do sul. Só isto faz toda a diferença e por essa razão a luta dos trabalhadores é também a defesa no seu quadrado» (citado aqui: http://passapalavra.info/2012/12/68594).
Depois ficam todos chateados quando lhes dizem que partilham pontos de vista com a extrema-direita. Como se fosse eu o culpado por vocês dizerem estas barbaridades de instigar o ódio entre trabalhadores de diferentes países.
A única vantagem da proclamação de barbaridades (e de verem as coisas no plano do anti-germanismo) é que, apesar de tudo, elas ajudam as pessoas mais desatentas a perceberem as reais consequências práticas (e as intenções reais) das teses da saída do euro: a instigação dos ódios nacionais.
Aliás, a cegueira é tanta, o internacionalismo é algo tão esquecido que estas pessoas acham que ser-se a favor da cooperação entre trabalhadores de diversos países seria sinónimo de pró-germanismo...
Se a extrema-direita disser que os trabalhadores imigrantes de outras paragens vêm para a Europa roubar empregos a esquerda fica, e justificadamente, escandalizada. Mas se um sector da esquerda disser que os trabalhadores de outras latitudes setentrionais fazem o mesmo relativamente aos trabalhadores que vivem em Portugal, fica tudo caladinho como se fosse algo natural...
O que se pode concluir por aqui é JVA ou MSP podem ter razão no plano teórico mas na prática não conseguem contra argumentar uma coisa básica “os trabalhadores alemães se estão a marimbar para os trabalhadores do sul e ainda mais estarão quando precisamente os seus índices de bem estar o são à custa daqueles.”
Anónimo,
mas como podem os trabalhadores alemães viver à custa dos trabalhadores do sul? As relações de produção e extracção do excedente económico estabelecem-se entre trabalhadores ou entre trabalhadores e capitalistas?
Se se assumir a primeira noção então teríamos de concluir que:
1) a superação do capitalismo seria impossível pois haveria sempre exploração entre trabalhadores e, no fundo, as mesmas estruturas sociais replicar-se-iam. Se isto fosse verdade então nem valeria a pena distinguir trabalhadores de empresários, já que supostamente as funções económicas seriam as mesmas. Em suma, haveria apenas uma mesma classe social, variando apenas o volume de rendimentos e as tarefas técnicas e profissionais...
2) os trabalhadores das empresas com maior composição orgânica também explorariam outros trabalhadores. Quer dizer, os trabalhadores das empresas com maior conteúdo tecnológico aplicado e, por conseguinte, com melhores salários também explorariam outros trabalhadores na medida em que essas empresas com maior composição orgânica batem a concorrência por conseguirem produzir bens e serviços mais baratos. O que por sua vez implica que na "redistribuição" do valor económico total elas se apropriem de mais-valia doutras empresas.
Ora, uma coisa são as empresas apropriarem valor umas às outras, e aqui tanto faz serem alemãs ou portuguesas. Este é um processo que ocorre no plano das relações de distribuição e circulação de valor. Outra coisa é o facto de um trabalhador alemão beneficiar do baixo salário de um trabalhador português. Ao contrário das esferas da circulação e da distribuição de valor, a produção inicial do valor económico ocorre unicamente dentro do espaço de cada empresa, de cada processo de trabalho. Ora, dentro deste desdobram-se diferentes classes sociais onde uma produz as mercadorias e a outra dirige e determina o que pretende do processo de trabalho, apropriando-se do conjunto dos bens e serviços produzidos. Por conseguinte, um trabalhador é economicamente explorado dentro do espaço de trabalho. Fora deste pode ser desapossado pela fiscalidade, pela inflação ou por um assalto. Mas a origem da mais-valia ocorre unicamente no espaço empresarial, a unidade celular fundamental da definição do capitalismo.
Para lá das fábricas e dos ateliers industriais, a luta de classes hoje envolve também e muito o espaço público. Num livro fascinante acabado de sair nas éditions l´éclat-" Constellations, Trajectoires revol. du jeune 21 siècle, Collectif Mauvaise Troupe- entre muitas experiências de movimentos sociais, é narrada ao milimetro a grande experiência politica do Movimento dos Indignados madrilenos e catalães, onde se constata como os partidos tradicionais vão sendo marginalizados e as iniciativas de base conquistam as ruas e os corações das pessoas. Uma nova forma de organização e um crescente e imaginativo contra-poder autonomo e autogestionário são as armas para fazer face hoje ao capitalismo- pelo menos o europeu...-que sonha com o fim do Estado Social a médio prazo; e está disposto a tudo para confortar a élite tecno-buocrática financeira que resolveu desafiar quase todos os poderes e direitos operários minoritários duramente conquistados nos últimos 50 anos. Niet
o trabalhador alemão não explora directamente o trabalhador português, apenas recolhe algumas benesses providenciadas pela burguesia alemã decorrentes dos ganhos dessa burguesia sobre o sul.
continuam a não contra argumentar sobre a indiferença dos trabalhadores alemães sobre os trabalhadores portugueses.
Anónimo,
«a indiferença dos trabalhadores alemães sobre os trabalhadores portugueses». Mas nós não negamos isso e acrescento que os trabalhadores portugueses sentem o mesmo relativamente aos do norte da Europa. E por isso é que eu e outros temos analisado o nacionalismo na Europa que no sul da Europa tem tomado proporções fortes à esquerda.
Essa indiferença não é o mesmo que exploração. A exploração é uma relação económica. A indiferença é um estado colectivo de menosprezo dos trabalhadores de uns países pelos de outros países. Para utilizar uma expressão que não gosto muito, a indiferença é o caldo de cultura que fabrica os ódios nacionais. Mais um motivo para se lutar contra essa indiferença.
Sobre algumas origens da indiferença. Basta olhar para o discurso propagado durante anos acerca dos trabalhadores preguiçosos do sul e para os trabalhadores autoritários e sisudos do norte. Mas o discurso só tem eficácia na medida em que existe um terreno para lavrar. E esse terreno da desconfiança comum onde florescem os nacionalismos a norte e a sul tem uma raiz estrutural e duradoura: as derrotas das lutas sociais dos anos 60 e 70 que implicaram uma nova vaga de fragmentação da classe trabalhadora sob novos moldes: desde a que é típica do toyotismo que passou a dividir o processo produtivo numa cadeia internacional e concorrencial muito mais pressionante, até à colagem do nacionalismo nesta nova realidade.
…por outro lado, pode dizer-se que a indiferença, o conformismo e apatia são detectáveis não só entre os trabalhadores alemães, mas também ns maioria dos cidadãos comuns de quase toda a Europa. O que não ajuda muito. A indiferença e a resignação traduzem uma adesão generalizada, mais ou menos passiva, à ordem hierárquica estabelecida, e traduzem-se no desinteresse pela política e "questão social", no cada um por si e no salve-se quem puder resultantes da privatização do mal-estar e do descontentamento — privatização que subjaz também ao carácter "corporativo" de muitas reivindicações e expressões de insatisfação.
Não vou entrar agora na consideração deste aspecto decisivo. Direi apenas que combatê-lo através do nacionalismo ,e da promoção da participação dependente ou da arregimentação hierárquica que lhe são próprias, só piora as coisas, contribuindo para "barbarização" acrescida da economia política governante.
miguel(sp)
A minha alma até fica parva quando por aqui se confunde o internacionalismo da luta dos trabalhadores com a defesa do euro (Marco de ocupação ab initio), como se uma não fosse o oposto da outra e quanto é mais do que claro que para os trabalhadores a moeda única é o instrumento de excelência da integração capitalista e de exploração. Enfim.
RG
É que defender o escudo e políticas massivas de impressão de dinheiro que resultariam em fenómenos de inflação de 50% como na Argentina ou na Venezuela é de um internacionalismo a toda a prova. Ou pior, achar que trabalhadores alemães exploram trabalhadores portugueses, isso sim é ser-se super internacionalista...
JVA,
A possibilidade de cunhar moeda é um instrumento de soberania que qualquer estado suberano deve poder ter ao seu dispor. É da História.
Para quem tanto apregoa o autonomismo s e a deshierarquização das relações industriais entre produtores parece-me um mau princípio sujeitá-los a um instrumento de soberania ao diretório e à disciplina do Deutsche Bundesbank.
RG
MS Pereira não tem muita razão ao " incrustar " a neo" alienação, a privatização, na falta de determinação para lutar na área dos PIIGS. Só se está a referir-se ao caso português. A intensidade, variedade e amplitude da luta de classes na Grécia, na Espanha e um pouco em França e Itália,não pode deixar ninguém indiferente, claro.Niet
Ou seja, para o RG devemos ter em conta a indiferença dos trabalhadores de uns países em relação aos dos outros e fazer disso um programa político. Não é o que queremos para a sociedade que deve importar nos nossos posicionamentos políticos, mas sermos "práticos" e submetermo-nos ao desprezo e indiferença entre nações. Além de nacionalista esta posição é também conservadora e bastante retrógrada, própria das direitas mais tacanhas.
Por esta forma de pensar, devíamos também abandonar os apelos à solidariedade entre classes profissionais dentro do espaço nacional, já que a norma hoje em dia é mais o desprezo e a indiferença do que propriamente a solidariedade. Só não o fazem porque estes trabalhadores têm uma coisa que os une, a pátria. Substituem a luta de classes pela luta entre nações.
F
E o RG desliza desliza desliza de cada vez que cada (não-)argumento seu é rebatido. Mas este último comentário até que é interessante pois confunde e mistura o Estado com os interesses dos trabalhadores, como se fossem a mesma coisa. Como se os trabalhadores determinassem alguma coisa quando um Estado central emite moeda... A não ser que, lá está, as pessoas confundam os interesses dos que ocupam postos-chave nos Estados nacionais com os interesses dos trabalhadores. O pior do leninismo continua vivo.
Para os meninos que acham que o euro foi uma calamidade talvez valha a pena verem o gráfico que os próprios críticos do euro apresentam: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/06/e-fundamental-falar-verdade-aos.html
Ora, o que aquele gráfico apresenta, e que poucos têm a veleidade de comentar não fossem as suas convicções derreter-se, é que as taxas de juro com o escudo andaram sempre entre os 10 e os 15% e só com a notícia da adesão ao euro e subsequente adesão à moeda única elas baixariam para algo em torno dos 4 a 5%. Esta foi uma situação que durou quase uma década. Ora, isto demonstra que essa baixa taxa de juro não foi aproveitada por grande parte dos pequenos e médios empresários para modernizarem tecnológica e organizacionalmente as suas empresas. A década do euro foi uma década perdida porque as camadas anti-monopolistas, que o PCP tanto gosta de enaltecer, preferiram manter negócios arcaicos, sacar fundos europeus e continuar com políticas de baixos salários e tecnologias ultrapassadas. Num contexto parecido, os capitalistas irlandeses utilizaram essa coisa tenebrosa que chamam de euro e conseguiram aumentar a produtividade a um nível avassalador.
Em suma, volte-se ao escudo e que regressem as taxas de juros com dois dígitos. Aí sim caramba, seríamos felizes com o nosso escudinho. Quais juros agiotas, pois seríamos soberanos camaradas!
Para terminar. Para recorrer a uma expressão de senso comum uma "moeda sobrevalorizada" é péssima para quem aposta em querer exportar quinquilharia, e isto quando exporta. Pelo contrário, se há esperança num projecto de modernização que seja, então uma moeda "sobrevalorizada" é reflexo de uma estrutura produtiva que incorpora elevado valor nos bens e serviços.
Tudo isto para dizer como o debate lançado pelos nacionalistas de esquerda é puramente ideológico. Curioso como os que mais berram contra o que chamam de financeirização sejam exactamente os mesmos que querem resolver os problemas económicos e produtivos focando-se apenas nos instrumentos monetários e financeiros, no caso o euro... Tão obcecados que andam com o euro que nem reparam nas suas próprias contradições.
Tem graça, eu não o vi a rebater um único dos meus argumentos, o que vejo é o JVA cada vez mais acantonado à defesa do euro. Agora descobri que o poder de Estado (cunhar moeda, por ex) está vedado aos trabalhadores.
O argumentário destes autonomistas parte-me todo.
RG
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