03/06/14

Uma análise do colectivo do Passa Palavra que o BE (e não só) muito ganharia em ter em conta…


… o título do documento é Quem puxa quem? O avanço dos nacionalismos e os riscos para a esquerda radical e faz bem o ponto da encruzilhada presente, traçando perspectivas que permitam uma ruptura com os seus impasses e com a ameaça nacionalista que pesa sobre a Europa. Senão leiam:

(…)

Neste plano desenha-se um cenário impensável há cinco ou seis anos atrás. A erosão das correntes não-estalinistas na esquerda portuguesas e a progressiva hegemonização política, ideológica e organizacional do campo à esquerda do PS pelo PCP. Mais de 20 anos após o colapso da URSS, eis que em Portugal os herdeiros do estalinismo têm mais peso e influência eleitoral e social do que as outras correntes à esquerda em conjunto. Enquanto o BE tem tido crescentes dificuldades em assumir uma visão europeia coerente e inequívoca relativamente a um trajecto de progressiva integração europeia, o PCP manteve a sua coerência anti-europeia, organizou-se e conseguiu capitalizar parte da contestação à esquerda. Em vez de proclamar sem tibiezas que a crise económica não se resolve com uma saída do euro e com a substituição da União Europeia por nacionalismos económicos, o Bloco tem tentado manter um pé em cada lado. Contudo, quando o contexto estrutural da União Europeia se encaminha cada vez mais para um aprofundamento da sua integração (…) e quando as soluções apresentadas pela esquerda nacionalista são cada vez mais exclusivistas, há que fazer escolhas. Ou pela actuação no plano europeu contrapondo um projecto político transnacional de esquerda à transnacionalização dos tecnocratas, ou pelo alinhar de espingardas ao lado dos que, da esquerda à extrema-direita, anseiam por exclusivismos nacionais.

Curiosamente, na Grécia, o Syriza chega aos 30% com um discurso que não coloca em causa o euro e num país onde a extrema-direita neonazi consegue um resultado eleitoral semelhante ao do PC português. Contudo, as condições gregas são especiais e ali o Syriza substituiu o PASOK. Mas, apesar de tudo, um partido minimamente europeísta consegue um resultado melhor do que os nacionalistas e com um discurso que não quer sair do euro. Ora, em Portugal não existe nem uma extrema-direita com a influência e com a violência de rua da Aurora Dourada, nem o descalabro económico e social é comparável ao que ocorreu na Grécia (em Portugal o PIB retraiu 8% em três anos, um terço do registado na Grécia). (…) Do ponto de vista eleitoral, já que as eleições são um dos terrenos centrais da intervenção do BE, ou este partido se distingue do PCP e, no mínimo, pugna por uma democratização das instituições da União Europeia, ou então o BE corre o risco de ser visto cada vez mais como uma cópia do PCP em matéria europeia. E, como sempre acontece nessas situações, quem vota preferirá o original à cópia. O grande risco que parece estar pendente sobre o BE é este.

(…)


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