Resta saber até que ponto conseguirá Francisco Louçã convencer o BE, mas aparentemente leu isto e deixou-se, pelo menos ele, (con)vencer pelo PCP:
Todos falam da ascensão da extrema-direita nas eleições para essa instituição de fachada que é o Parlamento Europeu, nomeadamente dos 25% obtidos em França pela sra. Le Pen. No entanto, há (…) coisas que devem ser precisadas: (…) Ainda que a referida senhora (ou o pai dela) sejam de extrema-direita, o programa que a Frente Nacional apresentou ao povo francês não era de extrema-direita. Muitas das suas propostas eram perfeitamente razoáveis, corajosas e até meritórias, como a saída do euro e da UE, a defesa de indústria nacional, a ruptura com a globalização, a independência frente aos ditames estado-unidenses. Teses como essas não são de extrema-direita. São, sim, progressistas.
05/06/14
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14 comentários:
Esse site fala pelo PCP?
"Esse site fala pelo PCP?"
E Cristo também foi concebido sem pecado? É cada crente...
"E Cristo também foi concebido sem pecado? É cada crente..."
Um comentário que dá para tudo, útil para quem não diz nada. Há quem faça carreira na política com intervenções destas.
OK. O Resistir não é o Avante! nem uma Declaração de Princípios aprovada em Congresso. Rigorosamente, eu deveria ter escrito "órgão afecto ao PCP", "porta-voz oficioso…", etc.
E mais: Francisco Louçã não deve ter lido o texto, uma vez que este é posterior aos factos noticiados pelo "i". Mas isso não o impede de conhecer as posições do PCP nem a semelhança de algumas delas, características, com algumas das mais características de Marine Le Pen.
Até aqui posso explicar. Quanto ao resto, não me parece que um pouco de humor seja ilícito contanto que não faça errar no fundamental, ou o deturpe.
É só.
msp
Reduzir o PCP, o BE e o FN a uma única coisa porque defendem a saída dos respectivos países do euro, é o mesmo que reduzir o Miguel Serras Pereira, o PSD, o CDS e o PS a uma única coisa porque defendem a permanência de Portugal no Euro.
A FN, o PVV holandês, a Liga Norte italiana, o VB flamengo e o FPO austríaco precisam de mais dois países para criar um grupo no PE; agora que o KKE deixou a grupo GUE/NGL, e com esta posição do PCP, quero dizer, do Resistir.info, talvez já consigam o mínimo de 7?
É impressionante do ponto de vista da má-fé que alguém possa escrever um post assim. Para além do velhíssimo e contumaz truque de responsabilizar o PCP pelo que alguns comunistas possam escrever, é absolutamente reprovável que o autor do post não saibam que em França são às carradas os textos e análises que oportunamente denunciaram o encosto (e a operação de maquilhagem) desencadeado pela filha Le Pen às posições defendidas no plano social e da Europa pelos partidos mais à esquerda.
Por mim, acho impressionante a cegueira voluntária de Vítor Dias. Se há o "encosto" que o seu comentário refere, é que o cocktail político e ideológico dos "partidos mais esquerda" citados é pouco recomendável e abre à extrema-direita a porta do nacionalismo ou "independência nacional" — como se este fosse a via necessaria do combate anticapitalista e democrático (e uma coisa porque outra) no interior da UE. Veja-se o que escreve, por exemplo, Vicenç Navarro a este preciso propósito:
"O caso da França é claro. A Frente Nacional, dirigida por Le Pen, foi a que utilizou, durante a campanha das eleições para o Parlamento Europeu, um discurso mobilizador da classe trabalhadora, apresentando-se, a si mesma, sem nenhuma inibição, como o melhor instrumento para defender os interesses da classe trabalhadora, na luta de classes, frente à oligarquia nacional que atraiçoara a pátria, vendendo-se à Troika. É o nacional-socialismo, que, historicamente, teve uma base operária e que, agora, a recupera, com a cumplicidade da esquerda tradicional (muito especialmente a social-democracia), ao impor políticas que prejudicam os interesses das classes trabalhadoras, para aumentar os lucros do capital. Neste discurso, a luta de classes e a identidade nacional são idênticas, utilizando a bandeira e a defesa da identidade e da pátria como princípios mobilizadores. Foi uma mistura ideológica imbatível. Era lógico e predizível que o fascismo ocupasse o vazio criado pelo socialismo e comunismo. No domingo passado, Le Pen conseguiu o apoio de 30% dos jovens e 43% dos trabalhadores franceses". (http://viasfacto.blogspot.pt/2014/06/romper-o-duplo-vinculo-da-opcao-entre.html)
Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.
msp
O nacionalismo é uma opção política lamentável. Mais lamentável ainda quando ele é prtagonizado por organizações políticas de esquerda que, certamente, não ignoram a História. A propósito do texto do
Vicenç Navarro citado pelo Miguel Serras Pereira, podíamos recuar ao prelúdio da segunda Guerra e recorrer ao que escreve o Noam Chomsky, no seu último livro editado entre nós sob o título "Mudar o Mundo", a propósito da ascensão - por via eleitoral, recorde-se - do nazismo de Hitler. Deixo a citação infelizmente longa "“ Vejamos a república de Weimar. Não se trata, de forma alguma, de uma analogia perfeita, mas as semelhanças são impressionantes. Em primeiro lugar, a Alemanha ocupava o pódio da civilização ocidental na década de 1920 – nas artes, nas ciências, na literatura. Era considerada uma democracia exemplar. O sistema político era animado. Havia grandes organizações das classes trabalhadoras, um enorme Partido Social-Democrata, um grande Partido Comunista, muitas instituições cívicas. O país tinha bastantes problemas mas era, de acordo com quaisquer padrões que se usem, uma vibrante sociedade democrática.
A Alemanha começou a mudar antes da Depressão. Em 1925, assistiu-se a uma votação em massa em Paul von Hindenburg para presidente. Ele era um aristocrata prussiano, mas os seus apoiantes eram lojistas mesquinhos e burgueses, trabalhadores desencantados e outros – na verdade, em termos demográficos, não eram muito diferentes do movimento Tea Party. E tornaram-se a base principal do nazismo. Em 1928, os nazis ainda obtinham menos de 3 por cento dos votos. Em 1933 –passados apenas cinco anos – eram tão poderosos que Hindenburg teve de nomear Adolf Hitler como chanceler (…). Se olharmos para as forças por trás desta alteração, ao inicio uma delas era a desilusão com o sistema político. Os partidos atacavam-se mutuamente. Nada faziam pelas pessoas. Por essa altura, a Depressão já se instalara e os nazis podiam apelar ao nacionalismo (…). Em 1933, Hitler declarou pela primeira vez, o 1º de Maio como feriado para os trabalhadores.
Os sociais-democratas(..) tinham tentado fazer isso (…) mas nunca o haviam conseguido. Hitler fê-lo. Houve manifestações enormes em Berlim, a que chamavam “Berlim Vermelha”, uma cidade de trabalhadores e de esquerda. Praticamente um milhão de pessoas manifestou-se, em grande euforia. A nossa nova Alemanha unida vai forjar um novo caminho. Acabe-se com todo este disparate politico provocado pelos partidos e tornar-nos-emos um país unido, organizado e militarizado que poderá demonstrar ao mundo o que são o verdadeiro poder e a verdadeira autoridade.
Tudo isto parece muito semelhante ao que se passa aqui. É ominoso. Os nazis destruíram as maiores organizações da classe trabalhadora. Os social-democrata e os comunistas eram organizações enormes, não apenas meros partidos políticos. Tinham clubes, associações e sociedades cívicas. Todos foram eliminados, por um lado através da força mas, por outro, porque as pessoas se juntaram aos nazis por estarem desiludidas e por terem esperança e por terem esperança num futuro melhor, um futuro brilhante, militarista e jingoísta. Eu não diria que as circunstâncias são idênticas mas os paralelos são suficientemente fortes para nos assustarem.”
O nacionalismo pode em alguns momentos render mais uns votos mas abre caminhos errados que os trabalhadores mais tarde irão percorrer.Veja-se na Grécia a transferência de votos dos trabalhadores e das classes populares para os nazis.
Caro José Carlos Guinote,
estas palavras de Marine Le Pen confirmam bem o que leio no seu comentário.
"Queremos representar todo o povo francês com ideias que não são de esquerda nem de direita: patriotismo, defesa da identidade e soberania do povo. Se se disser que alguém como eu é de extrema-esquerda e de extrema-direita, não se andará longe da verdade". (cf. http://www.spiegel.de/international/europe/interview-with-french-front-national-leader-marine-le-pen-a-972925-2.html)
Foi por isso que, acrescentei, no post citado acima, em resposta ao VD, à evocação histórica do nazismo por Vicenç Navarro — e acrescento agora ao que diz Chomsky —, a seguinte conclusão de um texto do colectivo Passa Palavra:
"A crítica da austeridade só é completa se criticar com igual veemência o nacionalismo que a agrava e procura replicá-la num grau imensamente superior. Sem esta dupla crítica, a esquerda radical corre o risco de ficar cada vez aprisionada numa teia que tem escapado das suas reflexões. Repetimos: mais de 20 anos após o colapso da URSS, eis que em Portugal os herdeiros do estalinismo têm mais peso e influência eleitoral e social do que o conjunto das outras correntes à esquerda. A restante esquerda vai continuar a deixar passar em branco este fenómeno ou irá finalmente reflectir nas suas implicações?"
Um abraço
msp
A propósito da acusação de má fé o que me parece é que a posição de MSP cabe no espírito da controvérsia
em que o próprio VD acaba por entrar
e picardias à parte nada disto me espanta ao contrário fiquei absolutamente surpreendido com o teor do "comunicado" que refere como progressistas posições da extrema-direita francesa.
Não é sério confundir o discurso do PCP com um qualquer ideário nacionalista.
O facto de o PCP advertir para a necessidade de preparar uma saída da moeda única não transforma o partido em partido nacionalista. Até porque, ao defender que se recuperem para o país os sectores estratégicos da produção nacional, se defende a única forma de cumprir os compromissos internacionais que o povo português tem com os outros povos.
É claro que, para que tem como desígnio de vida o combate ao PCP, qualquer argumento serve como arma de arremesso.
Apenas lamentável
MSP,
Faltou-lhe dizer que o Prof. João Ferreira do Amaral anda de braço dada com o Le Pen.
Corrija-se que ainda vai a tempo.
RG
Mas afinal o PCP costuma içar, ou não, a bandeira nacional; cantar o hino nacional e defender um «governo patriótico»?
Longe vão os tempos do «internacionalismo proletário»...
Como sabe, quem quer, no «nosso» PCP essa tradição nunca chegou a ser significativa pois desde a clandestinidade que a coisa caminhava mais entorno da unidade com todos os patriotas e democratas honrados.
Não basta cantar:
«Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional»
e depois ficar a apelar aos sentimentos «nacionais» e «patrióticos» quando o que é necessário é mais, muito mais, internacionalismo na Europa e no Mundo contra o poder global dos capitalistas e gestores que dominam a política global.
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