29/06/14
Vergonha e falta dela
por
Miguel Serras Pereira
Quem poderá não dar razão à Joana Lopes quando considera uma vergonha que numerosos países ocidentais votem contra a defesa dos direitos humanos quando as propostas de medidas nesse sentido desagradam aos proprietários e gestores dos seus capitais? Mas talvez não faça grande dano ao mundo assinalar também a não menos ignóbil falta de vergonha dos governos que subscrevem no papel medidas de dignificação do trabalho e de reconhecimento alargado de direitos, ao mesmo tempo que perseguem nos seus países e em todas as partes do mundo ao alcance da sua influência tudo qie que evoque liberdades políticas e direitos sociais. Isto, para já não falar da curiosa ideia de entregar a supervisão da defesa de liberdades e direitos a governos como os da China, Rússia, Cuba, Marrocos, entre outros mais ou menos igualmente insuspeitos de "ocidentalismo".
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14 comentários:
AVISO À NAVEGAÇÃO:
por lapso apaguei irreversivelmente um comentário do meu amigo EZEQUIEL que, entre outras considerações, me dirigia os seguintes e excessivos cumprimentos (a generosidade excessiva do Ezequiel talvez seja responsável pelo meu acto falhado):
'Caro Miguel, continuas a ser o radical mais inteligente deste país. tu sim, és verdadeiramente "perigoso." nunca deixas que o fervor ofusque a nuance. porra, que saudades!! (…) és uma raridade, uma pérola num mar poluído de banalidades. tudo de bom para ti grande abraço "companheiro" ezequiel'.
Para o comentador, aqui fica um afectuoso, ainda que comprometido, abraço
msp
Olá Miguel
tentei conversar com o sra lopes acerca deste interessante tema mas acho que está mega ocupada na patagónia, no less...
gostaria de perguntar-lhe o seguinte:(a mesmíssima pergunta que fiz á sra lopes)
onde tem surgido os movimentos não-governamentais que reivindicam direitos sociais, políticos e económicos para chineses, bangladeshis, etc???
como tem os estados liberais-democratas e capitalistas reagido a estes novos movimentos??
ou, se desejar, como tem reagido as elites a estas pressões de ngo's dinâmicas e reivindicativas???
mais importante, como tem reagido as sociedades civis das sociedades liberais-democratas e capitalistas a estes pressões from below???
estas campanhas online tem sido bem sucedidas?
--
quanto ao elogio merecido, não tem de quê, companheiro.
abraço
ezequiel
e a resposta, caro Miguel?? quando puder, claro.
continuarei a passar por cá. presumir uma equivalência moral entre o ocidente e países como a china e Rússia não é apenas implausivel. é uma tese absurda e indefensável. só a mais fervorosa miopia pode ofuscar este facto.
PS: os EUA, por exemplo, já começaram a avaliar cuidadosamente todas as Multinacionais que produzem têxteis no bangladesh. O escândalo do ano passado (fogo em q padeceram centenas numa sweatshop em bangladesh) transformou-se em cause célebre nas redes sociais americanas.
a pressão exercida contra as multinacionais foi de tal ordem que eles tiveram que alterar os seus "processos produtivos" no bangladesh.
esta consciencialização cívica começou há muito tempo atrás. e começou nas sociedades liberais-democratas e capitalistas do ocidente. (e não foram apenas liberais e esquerdistas que as iniciaram...)
abraço
ezequiel
Caro Ezequiel,
o meu silêncio perante o teu comentário anterior significava, claro, que o achei pertinente e que poderia subscrever, no essencial, as interrogações que formulas. A única coisa que me pareceu menos feliz foi o tratamento de "Sra. Lopes" dado à Joana. Mas vai aparecendo sempre, e traz o Rainha também.
Abraço
miguel
Miguel
Já sou grandinho, com todo o respeito.
Sra Lopes é = distanciamento. Não conheço a Sra. Joana Lopes.
Quanto ao Rainha, tb não o conheço e, para ser sincero, sempre achei a sua verbiage algo barroca e destituída de substância filosófica. Já estou farto de acrobacias de retórica&quite inflated egos.
Não conheço o Raínha também, nem tenho grande interesse em o conhecer. Preferiria conhecer o chato, o inexcedivelmente insofrível Vidal.
Estava a falar consigo. Fiz-lhe umas perguntas.
Responda, se lhe apetecer, claro. A mim não me interessam intimidades. Apenas os argumentos.
O que irrita verdadeiramente é a ligeireza com que os araustos da moralidade alternativa chamam "ocidente" a x ou a y, ignorando as mais elementares constatações: 1) que o ocidente não é apenas = estados ou multinacionais; 2) que o ocidente é PLURAL e, como tal, progressivo; e 3) historicamente, este sistema LIVRE não tem precedentes na história humana e; 4) não pune ou reprime os seus "radicais", os tais que reivindicam por um universalismo progressivo (direitos para os bangladeshis etc)...e mais...mas paro, por ora!!
Boa noite, Miguel.
Ezequiel, O tom não me agrada e abstenho-me de comentários. Trata-se justamente de não pessoalizar as questões. O resto fica para melhor ocasião.
miguel (sp)
outra ocasião, miguel? nem pense nisso.
eu escrevi a Sra Joana Lopes porque queria colocar-lhe estas perguntas. eu não uso o google plus, por isso não podia comentar no blogue. escrevi-lhe para o email disponibilizado no blogue.
respondeu-me de forma petulante e mal criada.
não a tinha ofendido . disse-me q não respondia a comentários por email. foi mais fria do que o meu bosch. ora, miguel, berdamerda! eu não conheço a dita Sra.
não existem respostas para as constatações simples q mencionei. as respostas seriam, inevitavelmente, contradições indefensáveis.
a existência de um milieu radical (verso books, bloomsbury-continuum, etc etc) é prova mais do q suficiente que o "ocidente" não é o bicho papão que a esquerda radical apregoa.
não preciso de mais nada para demonstrar a minha tese. a vossa existência é o meu argumento.
ironic, innit??
mas não gosto de gentinha snob. nadinha mesmo.
já não passo por aqui mais. um grande abraço. o meu elogio mantém-se inalterado, como é evidente.
ezequiel
Ezequiel,
a tua crítica do anti-ocidentalismo é-me simpática, o que não equivale a subscrever o slogan de que "o que é ocidental é bom", nem a esquecer que boa parte do que de pior o anti-ocidentalismo tem para vender é de origem "ocidental". Aliás, se há alguma coisa que devemos manter do legado cultural da Europa é a capacidade de — e a injunção a — dessacralizarmos e pormos livremente em causa as "nossas" instituições. Indo por aqui a conversa prometia. Foi por isso que chamar à colação os desentendimentos com a Joana Lopes ou o Luís Rainha ou os entendimentos com o Carlos Vidal me pareceu inadequado, mais fonte de ru´dio do que reiteração do fio de linho branco da palavra, sem cuja tecelagem incessante não há nem democracia nem filosofia que prestem. Se não quiseres passar mais por aqui, a decisão é tua, mas assiste-me a mim, reconhecerás, o direito de a lamentar.
Um abraço
miguel
Caro Miguel
o "bom" = interrogação o que por sua vez = não essência (heidegger: a essência do ser é questionar o ser...a essência do Ser é ?????? o ponto de interrogação...paradoxal, é certo)
> a "essência" do ocidente é uma não-essência
não se pode sacralizar uma interrogação, a potencialidade de um devir x, y ou infinitude...
por favor não banalize a coisa com o "ocidente é bom!" não foi isto q defendi. é bom porque o Bom é um valor/valorização por determinar...
não fazemos outra coisa senão questionar as "nossas instituições"...porra...fazemo-lo com tal fervor que a pós-modernidade em que vivemos questiona TUDO...até os mais elementares Grunds ontológicos...tudo é devir, possibilidade transformada em verdade...absolutizada em determinados momentos históricos como X indeterminado...(o singular universalizado temporariamente, em Eras, regimes-época)
a sacralização, infelizmente, é levada a cabo por aqueles que transformam o ocidente numa entidade ficticiamente una...(o ocidente malévolo que explora, que viola direitos humanos...)
Miguel, eu não foi mal criado com ninguém. Então podemos questionar as nossas instituições e eu não posso questionar o fascinante fanatismo do Vidal (apreciava muito as suas digressões pela história de arte etc...o Rainha escreve mt bem mas nunca foi a minha cup of tea...prontos, não vem mal ao mundo por causa disso.
habituei-me mal. na pátria do liberalismo pode-se dizer o que se pensa dos escritos de x ou y sem incorrer a censura das boas maneiras (não obstante o fetish dos ditos com as good manners)
enfim.
eu n me desentendi com o Rainha. acho que nunca troquei um email q fosse com ele. nunca nos desentendemos. nem com a joana. eu estou a dar uma mera op sobre o que li, rien plus.
se alguém deixa um email num blogue...
Miguel, não tenho paciência. olhe, gosto de steiner, peter dews, ricoeur, castoriadis mas detesto (a escrita, a postura) dos ditos analíticos.
era o q faltava não poder criticar posturas e escritos.
boa noite, Miguel.
obrigado por ter respondido. assim é q é,
fica feio virar as costas...seja a quem for.
além de brilhante és tb um cavalheiro.
desejos de muita saúde e felicidades,
abraço
ezequiel
Ezequiel,
não sei se estaremos de acordo sobre o pós-modernismo, que eu penso ser muito mais conformista do que crítico, muito mais tagarela do que dialógico, etc. Mas, evidentemente, quem demoniza o "Ocidente", sacraliza a China, a Síria, a Rússia e o Irão— nem mais.
E também coadmiramos Steiner e Castoriadis (Ricœur é uma leitura preciosa, o problema é que ele próprio limita o alcance do que faz ver, talvez por demasiado irénico…). E cheguei a pensar que me falarias também de Orwell. Mas fica para outra vez.
Obrigado e abraço
miguel (sp)
acerca do pós-modernismo: acho q tens razão.
bizarramente, estranhamente conformista, sem dúvida.
é "muito mais tagarela do dialógico"
tudo é ou parece ser "playful irony"(rorty)
muito bem dito. o pós-modernismo é infantil, esquizoide até.
"fleeting disembodied moments transformed into singular essences, disconnected from the whole"
...
no 1984 de orwell, o estado age, pune, reprime...
não dialoga, não discute e não gosta de tagarelar...
os editores da Verso não estão em guantanamo, felizmente.
as multinacionais etc do ocidente, as tais q violam direitos laborais na china, podem e deve ser criticadas sem enveredarmos pela sacralização do ocidente transformando-o numa unidade indecomponível e indistinta...
sempre que falámos do ocidente que reprime esquecemo-nos dos ocidentais que lutam pelos direitos dos não-ocidentais...
abraço,
Z
desvulpas pelo péssimo Português, Miguel. escrevi isto num telemovel.
o "muito bem dito" referia-se ao teu comentário, claro.
abr
Z
Obrigado, Ezequiel. Vou ler quando acabar o trabalho — pesado — que tenho em mãos.
Abraço
miguel(sp)
"infantile mythologies" (referindo-se à Modernidade)
o inconfundível Steiner.
https://www.youtube.com/watch?v=HPtJeGo0P6w
n se preocupe em responder. n lhe quero incomodar.
bom trabalho
abr
z
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