17/04/15

GREXIT.QUAL O PONTO DA SITUAÇÃO?

 Que sabemos nós, afinal, sobre a maior ou menor possibilidade de a Grécia ser forçada a romper com o Euro e com a União Europeia? Não me parece que saibamos grande coisa. No entanto, de acordo com a informação dominante a Grécia estará a cada dia que passa mais perto da saída do Euro. Esta convicção é-nos transmitida com uma cada vez maior certeza, à medida que nos aproximamos do dia 24 de Abril. Essa é a data – carregada de simbolismo, vista deste lado - em que uma reunião do Eurogrupo permitirá ou não concluir o acordo. Para acentuar este clima de “desgraça anunciada” contribuem as sucessivas declarações de responsáveis políticos europeus e dos credores internacionais. Essas declarações visam, tanto quanto se percebe, afastar qualquer expectativa de acordo próximo. As fugas de informação, se é que lhes podemos chamar assim, actuam a dois níveis: por um lado assegura-se que o colapso da Grécia estará devidamente previsto pelo BCE e pelos credores, existindo uma resposta já devidamente desenhada e pronta a implementar; por outro lado a situação de pré-colapso da Grécia, leva o seu Governo a pela calada andar a pedir aos credores, particularmente ao FMI, disponibilidade para o adiamento das próximas amortizações.

Neste clima de incerteza – que alguns do lado esquerdo da política vêm como cada vez mais próximo do fim que há muito anunciaram – não deixa de ser interessante perceber que há, pelos vistos, quem avalie de forma diferente o impacto de uma saída da Grécia do Euro. Há quem ache que a rotura com a Grécia coloca, economia mundial, perante o “biggest immediate threat to the global economy”  e que um passo mal dado pode “ easily return European economies to the kind of perilous situation we saw three to four years ago.”

Será que o pequeno país do Sul, com o primeiro governo anti-austeridade da União Europeia, consegue resistir às estruturas pós-democráticas que submetem os diferentes governos europeus ao seu programa e à sua ideologia neoliberal/neoconservadora? Será que a União dos Povos da Europa consegue reconstruir-se a partir do berço da democracia? Eu valorizo os sinais que me dão alguma esperança.
PS - na dita informação que por aí circula omite-se descaradamente o facto de, sem contar com a última tranche do resgate, existir um crédito a favor da Grécia de 3 mil milhões de euros que o BCE ilegitimamente retém.

2 comentários:

Anónimo disse...

Dois efeitos da saída da Grécia, e correspondente caos financeiro e social, não são lembrados:
No Ru, com os Conservadores e os Trabalhistas empatados nas intenções de voto (34/34), empate que não se altera há semanas, o Grexit assustaria de tal maneira o eleitorado que este daria a Vitoria aos Conservadores. O mesmo se passa na Espanha, que tem igualmente eleições em Maio, onde poria fim ao Podemos.
Demasiado bom para ser ignorado pelos defensores da austeridade não acha ?

José Guinote disse...

Não defendo a saída da Grécia, como julgo ter ficado claro no post. Julgo que é na Europa, com os europeus, que temos, apesar de todos os problemas e todas as ameças e agressões, a única hipótese de reconstruirmos a democracia europeia. O Syriza, se outros méritos não tivesse, tem o mérito de ter percebido essa dimensão da permanência na Europa. Concordo consigo no que se refere à situação em Espanha. A estratégia das instituições europeias passa por evitar que se repita em Espanha a mesma situação política da Grécia. A situação ideal para os austeritários parece-me que será arrastar a situação e ir conseguindo duas situações: obter concessões que anulem o programa eleitoral do Syryza e esperar que a tensão social se volte contra o Governo Grego. Parece que o Syriza tem resistido a esta estratégia com algum sucesso. Mas não rsistirá eternamente. Julgo, foi isso que pretendi salientar,que nem todos os trunfos estão do lado dos pró-austeritários. Há níveis de incerteza importantes que lhes impõem alguma prudência. Vejam-se as declarações deste fim de semana, de Draghi, por exemplo. Já agora, este fim de semana o Die Welt noticiava um acordo energético a celebrar entre a Grécia e a Rússia ,com a construção de um gasoduto através da Turquia, e com importantes contrapartidas financeiras para o Governo grego. Os alemães estavam a dar muita importância e esse acordo.
Já agora acho que para o caso inglês esta discussão não aquece nem arrefece, na disputa entre Conservadores e Trabalhistas. São ambos muito pró-austeritários, infelizmente. Terão ambos dúvidas sobre as consequências para a economia do seu país e não lhes agradará a saída da Grécia. O posicionamento que se discute no RU é em relação ao referendo para a saída da UE.