É, sem dúvida, louvável que, num texto que celebra os recursos da língua portuguesa, Pacheco Pereira manenha o cosmopolitismo suficiente para, a linhas tantas, recorrer à importação do termo franc parler, manifestando o bom gosto de não lhe preferir o "sem papas na língua" luso. E há ainda várias outras observações certeiras, na forma e no fundo, na sua crónica do Público, "Demasiado Lampeiros para Serem Sérios".
No entanto, quando atribui, a moderação da oposição do PS ao actual governo ou a sua aceitação satisfeita do Tratado Orçamental, bem como muitas outras coisas ainda, à cegueira da sua direcção, Pacheco Pereira engana-se bastante. Aconrece, com efeito, que toda a sua argumentação esquece que, no fundamental e de há muito tempo já, o aparelho e a nomenclatura "socialistas" defendem, comportando-se como se comportam, a sua "posição de classe", ou, mais precisamente, o statu quo que lhes assegura uma posição favorável no regime das actuais relações de poder e da sua (re)produção. Não é, portanto, ao PS, como sugere José Pacheco Pereira, mas a este último e aos indignados que subscrevem as suas posições actuais, que devemos perguntar, primeiro: Será que não percebem o que se está a passar? — e, depois, se não será, afinal, uma fundamental "comunhão de interesses governantes" com os responsáveis do PS e os seus parceiros de jogo, locais e europeus, que os impede de reconhecer que o aparelho e a nomenclatura "socialistas", descontando uma ou outra inépcia, se têm revelado preservantes e persistentes na defesa do seu quadrado.
20/06/15
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2 comentários:
Meu caro Miguel, o Pacheco Pereira, como tu referes é, neste e noutros textos e nas suas intervenções na Quadratura do Círculo, certeiro na forma e no fundo. Quer isto dizer que, julgo eu, a crítica que faz à maioria de direita e à política europeia é no essencial acertada e lúcida. Mas, Pacheco Pereira depositava infundamentadas esperanças na liderança de António Costa, bem como alimenta um desejo messiânico de ver Rui Rio ascender à liderança do PSD. Há um bug na lucidez analítica de PP que corresponde ao momento em que ele apoquentado pelo diagnóstico que é capaz de realizar se sente obrigado a perguntar-se a si mesmo: Que fazer? Despojado já dos ardores revolucionários de outrora a opção que lhe resta é .... fulanizar.
Este texto mostra bem, como referes, que PP faz um esforço para não perceber o que se está a passar. O melhor que ele tem para propor ao PS é " (...) preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.". Mas, como podem o ar fesco e a indignação entrar neste aprazível e rotineiro lugar em que o PS se encontra, esse lugar de conforto em que, como referes, desfruta da posição que lhe está atribuída no "regime das actuais relações de poder e da sua (re)produção".
PP não quer perceber que a proposta politica do PS no essencial mantêm o quadro actual austeritário, conferindo-lhe pequenas modelações. Pela "responsabilidade" que o caracteriza, pelo facto de o PS ser um partido "responsável", por ser um partido "pró-europeu", blá,blá,blá. O PS tem um projecto: governar Portugal no quadro da relação de poderes ditado pelos países mais poderosos, aceitando as regras desse jogo. Já o fez, no consulado de Sócrates, quer voltar a fazê-lo. Para isso apostava tudo na retórica anti-austeritária e em medidas mínimas que no essencial preservam a austeridade e mantêm as suas consequências mais injustas socialmente. Talvez desta vez não seja suficiente por mais ar fresco que PP lhes recomende.
Permita-me que cite um deputado da aliança anti-austeridade e membro do partido socialista irlandês:"La creación de una mayoría de izquierdas en la sociedad exige dos cosas: una lucha activa que permita a los ciudadanos la sensación de tener el control y una izquierda con un programa y una alternativa de izquierdas que los inspiren".[Irlanda: Oportunidades, sondeos y la izquierda,Sin Permisso].Saudações democráticas
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