01/10/15

Voto em branco ou voto útil na papoula?

A democracia, como tenho repetido a todo o momento na maior parte dos posts que publiquei neste blogue, não é a eleição de representantes, mas a participação entre iguais nas decisões que governam a vida em comum. Tendo-o presente, considero aconselháveis duas maneiras de votar no próximo dia 4 de Outubro: uma, o voto em branco, que, além de exprimir a recusa de tornar os representantes eleitos "legítimos superiores", não abdica de participar, apostando embora na democratização da participação; a outra, o voto útil no Livre/Tempo de Avançar, não pela papoila apesar das críticas que lhe enderecei e reitero (cf. aqui, aqui ou aqui) nem pelo justificado prestígio de alguns dos nomes dos que o apoiam, até porque há outros apoiantes democraticamente repugnantes (caso de um conhecido apóstolo da censura religiosa e porta-voz de serviço ao "socialismo do século XXI" pós-lulista e bolivariano, por exemplo), mas pela relativa instabilidade que a improvável presença de deputados seus no AR poderia ajudar a causar no sistema político, bem como pela sua aposta, ainda que demasiado moderada, mas federalista e anti-austeritária no plano europeu. Entre les deux mon cœur balance.

9 comentários:

Libertário disse...

Nem voto branco, nem voto útil.

Abstenção sempre! Este sistema não é nosso, é deles…

Miguel Serras Pereira disse...

O meu problema, caro Libertário, é que não vejo que a sociedade que queremos transformar tenha exterior — um exterior a partir do qual possamos começar a transformá-la. E, por outro lado, se devemos opor a participação à representação, a autogestão e o autogoverno à distinção entre governantes e governados, acontece que, apesar de tudo, o sufrágio universal foi uma conquista que limitoiu os poderes dos grupos governantes — pelo que se trata de radicalizar essa limitação do poder classista e hierárqucio e não de abrir mão de um direito — ainda que defensivo, ainda que utilizado pelos gestores e burocratas como instrumento de mistificação e resignação. É por isso que tenho muitas vezes votado em branco em vez de me abster. Com efeito, se vários movimentos abstencionistas minimamente articulados e numerosos fizesse campanha pela abstenção, reclamando outro tipo de assembleias e outras formas participação, o caso seria diferente e poderíamos, então, discutir da oportunidade e acerto circunstancial da sua palavra de ordem. Tal como estão as coisas, a abstenção fica-se pela… abstinência. Ou é, em todo o caso, o que me parece.

Abraço

msp

Libertário disse...

Caro Miguel,

Quem sofre de "abstinência" são os eleitores que de quatro em quatro anos tem de ir meter aquela coisa no buraco da urna. Ainda por cima são exibicionistas e dados à necrofilia na sua ejaculação precoce que os deixa satisfeitos por mais um longo período…
Por mim, libertário que sou, cada um que faça o que bem entender seja no dia 4, 5 ou 6 de cada mês.

João Vasco disse...

A eleição de um ou mais deputados do L/TdA não é improvável. Pelo menos nos círculos de Lisboa (1-2), Porto (1) e Setúbal (1).

Os resultados das Europeias permitiriam ao LIVRE eleger dois deputados por Lisboa, estando à beira (escassas centenas de votos) de eleger um no Porto. As condições agora são piores, mas o LIVRE entretanto quadriplicou a sua estrutura, e fez uma campanha pelo menos cinco vezes maior.

Diga-se também que o programa do L/TdA apresenta inúmeras propostas para reforçar a componente participativa do sistema democrático: veja-se o ponto 3.5, medidas a), b), c), d), e) e f):

http://tempodeavancar.net/?page_id=16739

Joana Lopes disse...

Miguel.
Com o que se sabe hoje, na melhor das hipóteses, o L/TdeA elege um deputado. (Que grande instabilidade que isso fará na AR!) Nem sei se votas em Lisboa. mas se não votas, esquece. Abraço.

João Vasco disse...

Joana Lopes,

O que diz não é verdade. As margens de erro de qualquer tipo de sondagens para um pequeno partido são muito elevadas, e existe uma real possibilidade de eleição no Porto e em Setúbal, isto sem sequer levar em linha de conta que uma elevada proporção dos indecisos corresponderá a votos do PS, L/TDA e BE.
Na pior das hipóteses a candidatura L/TdA não elege nenhum deputado, na melhor elege quatro.

Sobre sondagens vale a pena ver este agregador: (http://www.popstar.pt/sondagens.php) e ter em conta que a distribuição de votos do L/TdA é assimetrica, estando mais concentrada nos grandes centros urbanos (nas Europeias o LIVRE teve mais votos que o BE no concelho de Lisboa). A obtenção de dois deputados no círculo de Lisboa, um no Porto e um Setúbal é, mantendo a distribuição regional que existiu nas europeias perfeitamente compatível com as margens de erro deste agregador de sondagens (que é muito mais fiável que qualquer sondagem individualmente considerada),

Joana Lopes disse...

Quem tinha razão, João Vasco?

João Vasco disse...

Cito-me "Na pior das hipóteses a candidatura L/TdA não elege nenhum deputado".
Infelizmente, foi isso que aconteceu.

Os dados disponíveis eram compatíveis com muitos desfechos, e verificou-se o pior deles para o L/TdA.

Anónimo disse...

"mas a participação entre iguais nas decisões que governam a vida em comum"

Enfim, a RGA permanente, sonho molhado do MSP, ou então como acontece no BE em que há não sei quantas almas a querer ditar a tática, ao ponto de não se conseguirem definir no que toca a uma eventual participação ou apoio a um governo alternativo à PAF.

MS