23/01/17

"Fogo amigo"... vindo do quartel-general

Vital Moreira queixa-se do "fogo amigo" dentro da maioria parlamentar que apoia o governo:
A possibilidade de a inédita aliança governativa de esquerda perdurar até ao fim da legislatura em 2019 pressupõe pelo menos duas coisas: (...) Governo consegue controlar o "fogo amigo" dos seus próprios aliados no parlamento, que não hesitam em fazer maioria negativa com a direita parlamentar em questões politicamente sensíveis, como sucede agora com a baixa da TSU (e já tinha sucedido anteriormente no caso da administração da CGD).
Vamos lá ver o que estava em discussão em ambos os casos - na CGD, era os elevados salários da administração e, sobretudo, a suposta isenção de entregar a declaração de património; na TSU, é a redução da contribuição patronal - em ambos os casos, BE, PCP e PEV estão a fazer exatamente o que corresponde à sua matriz ideológica, o PSD e (no caso da CGD) o CDS é que fizeram as piruetas (aliás, basta ver as críticas que comentadores de direita como o António Lobo Xavier têm feito à posição do PSD e/ou do CDS nestas questões).
Os supostos aliados do Governo não podem escolher apoiá-lo só quando lhes convém e aliar-se à direita para o derrotar sempre que lhes aprouver. Isso não é aliança nenhuma! Ubi commoda ibi incommoda!
Mas a filosofia dos acordos entre o PS e os partidos mais à esquerda é exatamente essa - há um acordo em que os partidos se comprometem em determinados assuntos, e nos assuntos não cobertos por esse compromisso, cada partido mantêm a sua liberdade de atuação; assim se o PS e o governo têm autonomia para aprovar políticas para a CGD ou sobre a TSU (ou, já agora, sobre a Via do Infante ou o Centro Hospitalar do Algarve*), sem precisarem do acordo prévio do BE, do PCP e do PEV, então o corolário lógico é que o BE, o PCP e o PEV têm autonomia para votarem como bem entenderem. Aliás, vendo que os casos de ferrugem na "gerigonça" tem sido em situações em que o PS defende posições em que quase toda a gente reconhece que era mais natural ter o apoio da direita do que da esquerda, parece-me que se alguém está a fazer "fogo amigo" sobre os aliados é mesmo o "general PS" (e perante fogo amigo vindo do seu suposto aliado, quem pode criticar o BE ou o PC por aceitarem a ajuda que momentaneamente os soldados do outro lado da trincheira lhes dão?).

O caso extremo é mesmo a TSU - porque aqui os acordos assinados com os Verdes[pdf] e com o Bloco diziam mesmo que não constariam do programa do governo qualquer redução da TSU paga pelos empregadores (é verdade que esta redução, mesmo que aprovada pelo governo, não está no programa, logo, tecnicamente, não está violando os acordos, mas isso é pouco mais do que jogar com as palavras).


*declaração de interesses: sou um potencial utente da Via do Infante e trabalho no Centro Hospitalar do Algarve

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