Mário Soares, depois de longamente perorar sobre tsunamis, vulcões e outras desgraças mais ou menos naturais, resolve apontar a sua míope atenção (não esqueçamos que este foi o visionário que garantiu que a morte de Savimbi não traria a paz a Angola) para Cuba. E fá-lo ao seu estilo habitual: declarando o seu umbigo centro do mundo e da civilização ocidental. Diz ele que numa cimeira ergueu a voz para Fidel: «eu tive uma grande admiração por si quando venceu o ditador Baptista. O pior é que hoje dirige um regime mais opressivo do que o de Baptista, tem mais presos do que havia antes do Senhor chegar ao poder. Uma ditadura mais violenta que, para sobreviver, recorre ao tráfico de droga, ao turismo sexual para os ricos e mantém um regime despótico». Além das naturais dúvidas sobre a veracidade do relato, fica o espanto: então as jineteras de Havana afinal trabalham para o Estado? E há por ali grandes plantações de papoila dormideira ou de coca para alimentar o tráfico dos acólitos de Fidel? Grandes e ponderosas novidades.
Menos cómica é a forma como Soares descreve Fidel: «uma imagem patética. Com alguma dificuldade na fala, e uma pessoa extremamente fatigada. "Après moi le déluge", é o que se deve pensar. Um mau fim!» Se eu fosse um pouco menos caridoso, acrescentaria que este triste fim é precisamente aquele em que Soares se arrasta há anos. Com candidaturas absurdas, amigos teleguiados para lixar o ex-amigo Alegre, a insaciável vontade de holofotes e microfones, etc., etc. Talvez o nosso auto-nomeado Pai da Pátria esteja apenas a manifestar uma certa inveja por alguém que ainda pode exibir a sua degenerescência num pedestal do poder. E talvez este artigo seja uma declaração unilateral de guerra de verborreias entre dois gerontes solipsistas.
PS: Ainda por cima, nem a súbita ternura ecologista o redime de um passado medíocre: que grandes medidas em prol do Ambiente terá o Soares primeiro-ministro levado a cabo?
17/08/10
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