Não se fosse dar o caso de estar em Braga no fórum de debate que o Bloco de Esquerda anualmente promove, é muito provável que tivesse rumado a Lisboa para me juntar a quem, no sábado passado, fez ouvir o seu grito de indignação contra a condenação à morte por lapidação da iraniana Sakineh Ashtiani. Pode acontecer que não tenham sido tantos quanto se desejava ou que a posição colectiva dos manifestantes seja insuficiente para inverter o caminhar das coisas. Mas não partilho o cinismo de alguma esquerda - a direita é outro campeonato - que vê na manifestação um apoio diferido a um hipotético ataque americano ao Irão. Sabemos que o humanitarismo tem servido muitas vezes como cobertura ideológica da aventura armada do Império, mas convém entender as pessoas como algo mais do que joguetes de estruturas político-económicas omnipotentes. Aposto que se um ataque americano acontecesse amanhã, a maioria das pessoas que conheço e que estiveram no Largo Camões seriam contrárias a essa invasão e mesmo capazes de desfilar o seu protesto.
Senti, porém, que um certo sentimento de desconfiança se apoderou dos organizadores de maneira algo estranha ainda antes da concentração. Se o silêncio do governo português é uma realidade, se a esquerda da suspeita existe e tem alguma expressão, se a direita estava ainda em férias ou a inventar a boutade do referendo securitário, não deixa de desconcertar a maneira como se enumerou quem estava e quem não estava, lançando um anátema implícito aos faltosos. Espero sinceramente que a Fernanda Câncio se mantenha coerente com este raciocínio e apareça no próximo sábado, frente à Embaixada de França, para se manifestar contra a expulsão de ciganos em curso no país, sob pena de poder ser considerada, com injustiça, uma defensora da medida.
31/08/10
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4 comentários:
Nem mais, sempre sereno camarada Miguel C.
Abrç
miguel sp
Se lá for a "Caras", pode ser que apareça.
Vai consigo LMR?
Renato
Claro. É famosa a amizade que nos une.
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