31/08/10

Et tu, Rui?

Acho sempre imensa graça aos debates pós-eleitorais em que se discute acaloradamente o que é que "o povo" quis ou não quis "dizer". Este é uma espécie de pensamento mágico, que personaliza milhões, dando-lhes um só corpo, uma só cabeça e, claro, uma só forma de decidir o seu voto. Imaginaria eu que não é preciso um doutoramento em sociologia para perceber que o voto popular representa uma agregação de incontáveis comportamentos individuais, produtos de outras tantas atitudes, motivações e posturas políticas – que naquele momento se combinaram de uma dada forma, produzindo aqueles resultados. Querer personalizar eleitorados só serve mesmo para caricaturas.
Por isso, muito me espantei ao ver o Rui Tavares a dedicar-se ao mesmo exercício divinatório: «os portugueses não gostam de mais que uma reeleição (Soares que o diga), tal como não gostam de dinastias políticas (João Soares que o diga), tal como não gostam de ver candidaturas "do partido" em eleições pessoais (o PCP e o BE que o digam)». Presumo que este floreado tenha em vista um fim preciso (justificar como ganhadora e do agrado "dos portugueses" a candidatura de Alegre), pois de resto não faz lá muito sentido. Tirar grandes lições sobre o psicologismo de uma entidade que nem sequer existe enquanto pessoa, gabando e analisando a inteligência do "bom povo", parece-me mais coisa de José Hermano Saraiva do que do Rui.

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