O Tarrafal "não era uma prisão mas sim um paraíso", terá asseverado um emissário da Cruz Vermelha, quando o campo ainda estava em funcionamento. Lendo assim, a coisa parece esquisita. Isto até se perceber que a origem deste "relato" foi um agente da PIDE/DGS.
PS: a Ana Cristina Leonardo deu-me a dica para descobrir a fascinante história das visitas da Cruz Vermelha a Theresienstadt e a Auschwitz. A miopia já vem de longe, portanto.
18/08/10
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4 comentários:
Faz lembrar a história do prisioneiro de Auschwitz, André Rogerie:
André Rogerie tinha 21 anos quando foi preso pela Gestapo, a 3 de Julho de 1943, quando tentava juntar-se às tropas francesas no Norte de África. André Rogerie esteve sucessivamente prisioneiro nos campos de concentração de Buchenwald, Dora, Maidanek, Auschwitz, Gross-Rosen, Nordhausen e Harzungen.
Tendo subido ao posto de General, André Rogerie recebeu em 1994 o prémio "Mémoire de la Shoah" [Memória do Holocausto Judeu] da Fundação Bushmann. A 16 de Janeiro de 2005, no Hôtel de Ville em Paris, por ocasião da comemoração da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, André Rogerie foi, a par com Simone Veil (a primeira mulher a presidir ao Parlamento Europeu [1979-1982]), um de dois sobreviventes dos campos a testemunhar.
André Rogerie foi deportado para Dora, adoeceu, foi considerado inapto para o trabalho e, depois de algumas peripécias, chega a Auschwitz-Birkenau em Abril de 1944, nessa altura ele não pesa mais de quarenta quilos.
Em 1945, escreveu uma obra intitulada "Vivre c’est Vaincre" [Viver é Vencer] – Seguem-se alguns excertos:
«Os prisioneiros com fatos às riscas estão lá para nos receber. É um comando especial. Em geral são muito simpáticos, ajudam-nos a descer e depois a subir para os camiões. Estamos muito cansados, chegamos extenuados e a ajuda que nos deram não foi inútil» (pág. 63).
André Rogerie depois de passar pela desinfecção vai para um bloco de quarentena. Ao fim de cinco semanas, pesa 43 kg. Ao ver o seu estado de magreza, o médico envia-o para o campo-hospital (pág. 69): «fomos colocados num bloco muito simpático. O chão está coberto com um pavimento, há janelas, as camas estão espaçadas umas das outras, os cobertores são bons. A sopa é abundante e pela primeira vez desde há uns tempos eu comia o suficiente» (pág. 69).
Ao verificar-se que tinha sarna, foi enviado para o bloco 15, «reservado às doenças de pele» (pág. 70). «Todos os dias, o suplemento de sopa é distribuído àqueles que estão mais magros […] vou portanto para a fila (sempre em camisa) para o meu suplemento». «Em poucos dias, voltei a ter cinquenta quilos. Graças às pomadas do doutor Landemann, a minha pele está completamente sarada» (pág. 71).
No dia em que devia finalmente sair do hospital para trabalhar, André Rogerie ficou com febre: «Os médicos auscultaram-me uns após outros e desconfiaram que eu tinha malária. O doutor Herz recolheu uma amostra do meu sangue para que fosse estudada no microscópio […] o laboratório respondeu na manhã seguinte a dizer que a malária não foi detectada. Eu tenho o sangue muito puro […]. Continuo portanto a viver no bloco 15 com a minha pequena febre semanal […]. Pouco a pouco, graças aos bons cuidados de Piccos, a agulha da balança sobe e em Julho eu já peso 56 quilos» (pág. 72).
«Eis que, ainda por cima, eu contraio uma doença do couro cabeludo que é tratada por depilação. É necessário rapar todo o cabelo, pêlo a pêlo. Para isso, sou levado para o campo das mulheres para ir ao aparelho de raios X, porque não falta nada em Birkenau».
Pouco depois, André Rogerie seria inscrito num comando de trabalho de Auschwitz.
A cruz vermelha também abençoou Theresienstadt
Rainha! E hás de ler da cruz vermelha sobre os Congos e os grandes Lagos...
A coisa não é por mal, mas apenas porque é necessário enrigecer a carnes...
Pois, Luís, mas o J.P Castanheira, para não fugir muito ao estilo, inventou. E como o "Expresso" não tratou de entrevistar o José Vicente Lopes, o jornal angolano "O País" fê-lo. Espreita aqui: correiopreto.blogspot.com.
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