20/11/12

Alerta do Passa Palavra contra os riscos de "fascização da sociedade portuguesa"

Já se pode ler no Passa Palavra a segunda parte do artigo subscrito pelo seu colectivo, intitulado Behemoth Mata Leviatã e Morre, cujo início de publicação assinalei aqui há dias. Esta segunda parte, que desenvolve as suas reflexões a partir de uma análise de alguns aspectos centrais do programa do PCP, ainda que sem atribuir a este o exclusivo do "nacionalismo de esquerda, centra-se na reflexão sobre as convergências temáticas inquietantes, que sublinha muito concretamente, entre o "nacionalismo de esquerda" e o fascismo, ainda que sem proceder a identificações abusivas entre os dois campos:

À esquerda, a apropriação dos símbolos e dos discursos nacionais pelos fascismos tem dificultado enormemente uma reflexão séria, focada mais no essencial do que no ritual. Nesse aspecto seria bom que aqueles que à esquerda continuam a suspirar por uma nova Moscovo vermelha se lembrassem das relações económicas e políticas certamente muito fraternas e entre iguais que ocorreram entre os vários “países socialistas” ao longo do século XX. Talvez um pouco de sensatez ajudasse a lembrar aos nacionalistas portugueses actuais que o projecto encabeçado pelo PCP (veja aqui), de uma «construção europeia assente em nações livres e Estados soberanos e independentes» longe de «eurocracias federalistas redutoras da soberania nacional e empobrecedoras da democracia» não é, nos traços apresentados, muito diferente do de Marine Le Pen. Esta líder do principal partido francês de extrema-direita «deseja a implosão da União Europeia, a fim de tornar possível a Europa das nações» (veja aqui), um objectivo político não muito diferente do apresentado pelo PCP. Mas como estamos à espera de bramidos histéricos, dizemos desde já que não identificamos os nacionalistas portugueses com os fascistas, simplesmente chamamos a atenção para a justaposição de propostas políticas que não apresentam diferenças de fundo na sua arquitectura internacional.

Na conclusão, antecedida por uma argumentação que aborda tanto à crítica ideológica como a análise de dados económicos, e que vale a pena acompanhar na íntegra, soa de novo um alerta contra riscos mortais que seria imperdoável subestimarmos:

(…) a completa injustificação económica para o nacionalismo apenas encontra respaldo no âmbito estritamente ideológico. Quando assim é, o nacionalismo é ainda mais perigoso, porque apenas se sustenta na gritaria de slogans e na completa ausência de discernimento racional das dinâmicas em questão. O culto pela frase revolucionária e as práticas irracionais de análise só devem merecer de toda a esquerda anticapitalista um grau máximo de frieza racional e analítica.
O projecto político do PCP é, assim, um programa nacionalista por duas grandes ordens de razões. Primeiro, porque partilha todas as características políticas e ideológicas do nacionalismo e da correlativa aliança dos pequenos e médios capitalistas com os trabalhadores. Segundo, porque o seu programa económico é ainda mais retrógrado do que o já de si retrógrado tecido económico e empresarial português. O mais demencial em tudo isto é que não têm sido poucos os militantes e dirigentes da esquerda nacionalista portuguesa a responder a estes dados políticos e económicos com vitupérios e ofensas das mais vis. O que demonstra à saciedade a penetração de outro dos vectores promotores de uma possível fascização da sociedade portuguesa: o irracionalismo.

0 comentários: