18/11/12
O anti-europeísmo da "esquerda anti-imperialista"
por
Miguel Serras Pereira
Apesar de erodidos e em recuo os direitos e liberdades garantidos aos cidadãos da UE incomodam a estratégia capitalista global, cuja ofensiva não tem parado de insistir, através dos mais diversos porta-vozes da oligarquia dominante, na necessidade de acabar com os entraves e maus exemplos para outros povos que esses direitos e liberdades representam. Podemos dispensar-nos aqui de citar as declarações de responsáveis e dirigentes, membros quer das fileiras oligárquicas europeias, quer das oligarquias das potências emergentes, com destaque para a RPC, que insistem na urgência de pôr fim aos "privilégios anacrónicos" dos trabalhadores europeus.
Ora, tal é precisamente o que não querem entender ou, melhor, que procuram activamente que os cidadãos entendam os que, declarando-se adversários irredutíveis do capitalismo e do imperialismo, apostam, não na defesa e extensão das condições ameaçadas da cidadania europeia, mas na desagregação da zona euro como primeiro passo para a desagregação da UE, a pretexto de que essa desintegração seria uma derrota para as forças imperialistas.
O que é curioso assinalar é que os porta-vozes desta "esquerda" anti-imperialista chegam a apresentar as liberdades e direitos de que dispõem ainda os cidadãos dos países europeus mais avançados como armas do capitalismo global, ao serviço da burguesia e da finança internacional, acabando por contribuir para o seu enfraquecimento e eliminação, não menos do que a ofensiva oligárquica que os declara obsoletos e insustentáveis.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
O pensamento da trupe mais nacionalista é mecânico e dicotómico: como a UE é má, logo sair do euro é bom. Deixemo-nos de cantigas este é o pensamento dessa gente que está ao nível do formalismo aristotélico mais primário.
Mas apesar do primarismo do raciocínio antes o problema residisse neste aspecto. A verdade é que essa gente defende uma sociedade altamente autoritária e que não teria problema nenhum em calar as vozes dissidentes, sobretudo as vozes à esquerda. Tal como no bolchevismo os primeiros a pararem na cadeia seriam os elementos da esquerda anticapitalista. O pessoal mais à direita, salvo algumas excepções, seriam novos quadros dentro de um estado altamente repressor e castrador de qualquer tipo de liberdade dos trabalhadores. Lembremos a facilidade com que o bolchevismo absorveu os antigos gestores e antigos quadros militares vindos directamente do czarismo.
O nacional-bolchevismo de certa esquerda portuguesa é isso mesmo: a tentativa de construir um capitalismo muito mais violento, com um peso colossal do aparelho repressivo do estado e com uma reconstituição de uma cadeia hierárquica de comando próxima ao das instituições militares. Não por acaso são esses que mais reclamam pela intervenção dos militares no actual processo e que continuam a suspirar por umas forças armadas que desta vez não lhes comprometam o seu projecto político.
Enquanto a esquerda não-leninista portuguesa não perceber isto, os riscos de essa gente aspirar a tornar a sociedade portuguesa num espaço concentracionário será real. Mais ainda no actual contexto de crise do euro.
João,
antes de ler este teu comentário, mas movido por preocupações semelhantes - a falta de uma alternativa consequente a uma concepção da alternativa ao capitalismo como a que referes e cujos adeptos correm o risco de descobrir um dia que abriram caminho, através de defecções nas suas próprias fileiras e bases de apoio, a um movimento de tipo fascista - escrevi dois posts mais: um saudando a tomada de posição federalista do José Manuel Pureza, outro assinalando a insuficiência, para não dizer pior, do BE como alternativa (quer aos "partidos de governo", quer à "esquerda" que sabemos). A verdade é que, neste momento, as duas soluções mais fortes que nos são propostas como alternativas não podem levar senão a uma deterioração agravada da situação já muito precária em que nos encontramos.
Abraço
msp
Enviar um comentário