O Podemos fez um acordo político com o PSOE e garantiu, dessa forma, que a comunista Manuela Carmena, cabeça de lista da candidatura cidadã Ahora Madrid, será a próxima alcaidessa da capital. Desta forma, o longo domínio da direita política sobre o governo da capital, que se estendeu durante 24 anos, é interrompido. Madrid junta-se a Barcelona, como duas cidades presididas por mulheres que emergiram dos sectores cidadãos e das lutas populares contra as medidas mais gravosas da austeridade. Duas cidades que assumem no seu governo uma cultura política na qual os cidadãos mais do que reinvindicar o direito à cidade decidem e constroem esse direito todos os dias.
Há uma questão política relevante neste compromisso entre o Podemos e o PSOE. Afinal é possível estabelecer compromissos entre as esquerdas, mesmo que os seus projectos políticos sejam em muitos e relevantes aspectos irreconciliáveis? Será interessante conhecer os termos em que esse acordo foi celebrado para perceber que bloqueios foram com ele removidos.
Adenda: também em Valencia foi possível um acordo. Neste caso é um socialista que será o alcaide. Os aspectos políticos do compromisso político estão disponíveis aqui.
12/06/15
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4 comentários:
Caro José Guinote,
julgo que o teu post deixa, apesar de tudo, algumas questões na sombra — o que não invalida a pertinência da reflexão que propões.
Uma delas, crucial, é a da diferença de concepções e de funcionamento orgânico entre os "comunistas" como Manuela Carmena e, digamos, os "comunistas" do PCP ou a actual linha do BE.
Outra questão, não menos decisiva, é, em parte, a que tem sido levantada por diversos elementos do Podemos (Echenique, entre outros), quando alertam contra o perigo de, através de acordos entre estados-maiores, o Podemos se tornar mais um partido governante do que um partido ou movimento capaz de promover o "governo da gente" (a "cidadania governante").
Por outras palavras, precisamos de ter atenção suficiente para explicitar que "união da esquerda" é desejável numa perspectiva orientada para a democratização efectiva do exercício do poder político (incluindo, é claro, a sua dimensão económica) e que concepções e formas de organização são necessárias para que esta ou aquela força de esquerda possa ser, de facto, agente do mesmo tipo de transformação, em vez de um obstáculo que o desenvolvimento das capacidades governantes dos cidadãos comuns terá de superar à medida que se afirme.
Creio, de resto, que aprovarás as preocupações que motivam esta minha achega.
Um abraço
miguel(sp)
Subscrevo as tuas achegas, meu caro Miguel. A união das esquerdas para chegar ao poder apenas e só pode ser uma inutilidade, ou mesmo algo com resultados detestáveis a prazo. A questão, como bem a colocas, é a de saber que união das esquerdas é necessária para construir a democracia de que precisamos. Ou, se quisermos ir mais ao fundo, ainda antes da questão da unidade é a de sabermos de que esquerda precisamos para que democracia. Por exemplo o tipo de unidade que o Livre/Tempo de Avançar propõe - com aquela ideia peregrina da esquerda do meio - coloca o assento tónico na governação, na conquista do poder, mesmo que seja para fazer tudo como sempre que o PS governou. Trata-se de uma “unidade-véiculo” já que ela está pré-anunciada e não obrigou a nenhum compromisso político. Apenas uma vaga recusa da austeridade, mesmo que seja feita assumindo o quadro austeritário como contexto e referencial. Era importante conhecer o tipo de compromisso político estabelecido em Espanha, até para perceber se são ou não justas as críticas que se fazem. O que eu acho, com a informação disponível, é que em Espanha o carácter potencialmente dirigista, top to bottom, do Podemos é contrabalançado pela importância das organizações populares de base, que são o berço de onde emergiram quer a a comunista Carmena quer a indignada Ada Colau. Talvez os espanhóis nos estejam a mostrar que é possível compatibilizar a revolução democrática com a Europa. A Europa dos cidadãos, algo que ainda está para acontecer
Sim, meu caro — é isso mesmo.
Abraço
msp
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