31/01/17

Guterres e as autoridades palestinianas

Deixem-me ver se compreendi bem a engenhosa correcção política das autoridades palestinianas ofendidas com as declarações de Guterres sobre o Monte do Templo de Jerusalém. A ideia parece ser a seguinte: se as autoridades israelitas agem injustamente na Palestina, é legitimar a sua injustiça afirmar que "o templo que os romanos destruíram em Jerusalém era um templo judeu" e que, sendo todavia essa a verdade histórica — ou, sobretudo, porque o é —, torna-se evidentemente necessário substituí-la por algum "facto alternativo". O que nem sequer é difícil, bastando, por exemplo, sustentar para o efeito que, embora tenha havido um templo judeu no local, destruído mais de quinhentos anos a.C., a verdade é que, sendo os templos judeus falsos templos, o primeiro templo não pode ter sido senão a mesquita edificada mais de setecentos anos d.C.  Só a pouca ou má fé de alguns pode aqui dar lugar a margem para dúvidas.

2 comentários:

joão viegas disse...

Presumo que a intenção tenha sido protestar contra o facto de Guterres não ter mencionado imediatamente que o lugar também é sagrado para os muçulmanos, etc. o que é estupido porque, a acreditar na noticia, o Guterres não deixou de referir isso mesmo.

Ja agora, não ha referências à Torah e aos evangelhos no Corão ? Eu acho que ha... Portanto trata-se de um livro blasfematorio ? Se aplicarmos a logica exposta acima, parece que teremos de concluir que sim...

Pode ser que a fé salve, não sei, mas o que se vê imediatamente, é que ela nem sempre ajuda...

Abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Pois é, João. O meu propósito não era propriamente defender ou criticar Guterres, mas sublinhar a estupidez do protesto das autoridades palestinianas. Ma, reparo agora, que temos de ter cuidado, pá, porque ambos usámos termos que as ditas autoridades podem considerar ofensivos, além de termos recorrido a razões blasfemas…
Abraço

miguel