02/10/17

Uma grande vitória da esquerda? (Corrigido)

Não faltam por aí declarações sobre a grande vitória da esquerda. Era inevitável, face ao desastre anunciado do PSD e ao reforço do PS.  Há uma vitória do PS, isso é indiscutível. A maior vitória do PS, que colhe no seu regaço os frutos da politica que tem sido seguida pelo Governo.
No entanto, se olharmos mais ao perto, vemos coisas relativamente diferentes e que querem dizer outras coisas.
Por exemplo, em Lisboa. Fernando Medina obteve um importante vitória mas, e neste caso o mas faz uma enorme diferença, perdeu a maioria absoluta. Perdeu 10.315 votos - 8,9 % do que Costa obtivera em 2013 - e tem menos três vereadores. Desses 10.345votos, a quase totalidade foi absorvida pelo crescimento dos partidos à esquerda. O Bloco regista uma subida de quase 7500 votos e a CDU de 1600 votos. Quando comparamos com 2013 verifica-se que o PS perde votos para os parceiros da Geringonça, um pouco ao contrário do que se passou no resto do País. .
A direita em Lisboa cresce à custa do CDS, já que o PSD tem o pior resultado desde que Helena Roseta liderou a candidatura do partido à Câmara de Lisboa em 1976. Juntos, CDS e PSD, somam 31,80% dos votos, quando em 2013 tinham obtido 22,37% . No seu conjunto a direita aumentou a votação em Lisboa em 29.162 votos quando comparado com 2013.

A Geringonça em Lisboa é a única forma de Medina governar com maioria. A CDU irá decidir se haverá uma Geringonça municipal ou não. Por aqui se comecará a testar como está o instinto de sobrevivência dos comunistas, e o futuro da outra geringonça, a geringonça "grande". O Bloco, que é cada vez mais apenas e só aquilo que sempre foi, um partido parlamentar, já mostrou que recebeu esta eleição de um vereador em Lisboa - concelho em que obteve 29.105 votos em 2015 e agora 18003 - como uma grande vitória. A sua disponibilidade para viabilizar a geringonça municipal é total. A capacidade para influenciar a politica municipal parece diminuta. Aliás, o BE foi o único partido que clamou por uma vitória da esquerda. Até a CDU reconheceu que teve uma pesada derrota. O Bloco que teve menos de 4% dos votos a nível nacional está contente. Os melhores resultados obtidos em eleições legislativas não se traduzem nas eleições autárquicas. O PS reclamou, e com razão, a sua vitória.

Almada, uma cidade com uma gestão municipal comunista, desde sempre, e com um trabalho de qualidade num contesto difícil - curiosamente passei a tarde-noite do sábado antes das eleições na fantástica Casa da Cerca, um centro cultural em Almada Velha, com uma localização única, debruçada sobre o Tejo e sobre Lisboa -foi conquistada pelo PS. O enésimo candidato "itinerante, antes chamavam-se paraquedistas, mobilizado pelo PS para a "tarefa impossível" - desta vez coube a  Inês Medeiros - ganhou por 213 votos. Inês irá atravessar todos os dias o Tejo, de cacilheiro, para ir trabalhar, já avisou. Fica-lhe bem assumir essa itinerância. Neste caso, com excepção de um ou outro eleitor retirado da abstenção, parece ter havido uma transferência directa entre CDU e PS. Uma questão tratada no interior da Geringonça, podemos dizer. Na primeira abordagem minimizei a importância da eleição de um vereador pelo Bloco. Isso traduziu um importante aumento do número de votos, que passaram de 3250 para 6409)

O PS obteve uma grande vitória. A primeira com António Costa. Obteve um número recorde de autarquias e assistiu à implosão da liderança do PSD. Mas, venha quem vier, os tempos irão piorar. Passos era único, e o melhor amigo do PS e de Costa.

Jerónimo de Sousa tem a CDU a clamar por uma ida às termas. Talvez seja possível aproveitar para, entre as massagens e as inalações, parar algum tempo e pensar nos "camaradas" de Angola, Coreia-do Norte e Venezuela, e olhar para o mundo com uma visão mais límpida e menos conservadora.

O BE caiu um trambolhão abaixo do patamar a que tinha subido em 2015. Pouco importará, já que o partido continua no Parlamento, que é o local onde o partido existe, a que se somarão os Paços do Concelho da capital, logo ali ao lado. Por isso os sorrisos, ainda que forçados, não dão testemunho dessa queda abrupta.
Teixeira Lopes, ainda não foi desta que foi eleito no Porto. Mas, em 2021 haverá novas eleições.

PS - Havia vários erros nos números referidos para as votações em Lisboa. O crescimento da direita é superior ao que tínhamos referido. Do mesmo modo, o crescimento do PCP e do BE, que se traduziu em mais um vereador eleito pelo Bloco, absorveu a perda de votos do PS, sendo que os outros dois vereadores perdidos pelos socialistas foram ganhos pelo CDS. A direita tinha 4 vereadores passa a ter 6. A esquerda tinha 13 (11+2)  passa a ter 11(8+2+1). O vereador do BE pode colocar o PS em maioria na autarquia, dispensando o PCP.

1 comentários:

Niet disse...

É um texto muito bom, humanista e heterodoxo, no estilo harmonioso a que nos habituou o autor. E claro que o PS-Costa tem poucas ideias e sofre de um jacobinismo de " sacristia " absolutamente catatónico. de boca cheia e reflexos muito medrosos. Quando poderia existir espaco para a inovacäo social e a audácia cultural. E, daí, ter a suprema coragem de agarrar os grandes temas da nova maneira de fazer politica: fundar a transicäo ecológica, estruturar a golpes de martelo a descentralizacao sem sofismas da burocracia e de lancar em profundidade um repto de alternativa económica a
Bruxelas, tirando partido das sensibiidades que suportam mal o neo-liberalismo sem fronteiras da sra. Merkel e dos seus comparsas do centro e Norte da Europa. Niet