Quando vejo
pessoas que considero inteligentes como a Joana
Lopes ou o Daniel
Oliveira inveredarem por caminhos ínvios acerca desta questão, tais como a
ideia peregrina de que haveria uma confusão entre aplicação da lei penal e da
lei constitucional(*), apetece-me perguntar se estamos mesmo a debater a
questão de fundo, ou a fugir à dificuldade com caricaturas fantasiosas. Com
efeito, na maioria dos casos, as reticências em relação às reivindicações
independentistas :
1/ Não radicam na
negação do direito à autodeterminação, que me parece um princípio fundamental e
que merece obviamente toda a consideração. Neste sentido, julgo que é hoje
óbvio que a sobranceria do governo de Madrid e a maneira policio-desastrosa com
que geriu a crise foi uma cretinice e, numa larga medida, uma forma imbecil e
contraproducente de cair numa cilada engenhosamente armada pelos
independentistas (o que não é uma crítica aos independentistas, a política é assim mesmo).
2/ Mas antes na
questão de saber se as reivindicações catalãs correspondem mesmo a uma vontade genuina
e consequente de separar os destinos da Catalunha do das regiões que a
envolvem, ou antes à fantasia perigosa de uma Europa das regiões ricas, determinada sobretudo a guardar para si os lucros que tira do seu acesso aos mercados
europeus e completamente disposta a deixar de parte as regiões periféricas
pobres a pretexto de que elas são estruturalmente incapazes de se tornar “competitivas”,
mercê da sua atávica fascinação por “mulheres e copos”. É que, no primeiro
caso, a reivindicação pode ser discutível, mas é respeitável. Já no segundo, é
difícilmente audível, pelo menos para quem subscreve aos valores essenciais nos
quais a esquerda se reconhece.
Confesso que a
minha inclinação é no sentido das reticências (o que deriva muito provavelmente
do meu "europeismo"). Mas a questão merece ser debatida e estou
atento aos argumentos dos pro-independentistas. Desde que se debata a questão
de fundo, e não diversões que, em vez de esclarecer o problema real, nos
empurram para o pantanal da desconversa.
2 comentários:
Oh. J.Viegas: Saiu um livro fabuloso sobre o sistema Sarkozy de dois jornalistas de
investigacäo do Mediapart,Fabrice Arfi e Karl Laske, Ets. Fayard, " Com os cumprimentos do Guia ",inquérito de 6 lngos anos sobre o financiamento do sistema Sarko antes e depois dele ter sido Presidente. O trabalho ultrapassa tudo o que até agora tinha sido realizado em Franca sobre as sulfurosas relacöes na V República entre o Executivo ( manipulado cada vez mais pelo PR eleito e os seus gabinetes secretos ...) e a classe politica e os ditadores mundiais que se pelam por ter relac+oes privilegiadas com a pátria de Voltaire. Nesta narrativa fantástica- mesmo superior ao label Le Carré ou os de Péan -se revela e insinua por mil e uns detalhes que a obsessäo nacionalista é o avatar moderno do ultra-liberalismo e da opacidade da violência de classe mais disfarcada. Niet
Obrigado Niet, vou procurar ler. O facto é que neste momento na Europa, quem sai claramente beneficiada com as obstruções e crises ligadas aos diversos nacionalismos é a politica liberal. Existe acesso aos mercados para as empresas, existe concorrência social e fiscal que leva os Estados às mais chocantes cedências para atrair o investimento e existe uma paralisia total (assegurada por varios anos) para as veleidades politicas de impor limites e regras contra a corrupção, que imponham um minimo de redistribuição, ou apenas de equidade fiscal.
Que demande le peuple ?
Abraço
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