É a propriedade, estúpido!

O PCP e o BE são não raras vezes acusados de sectarismo por não quererem ir para o governo com o PS. Eu sei que a acusação e todo o problema em redor é mais complicado do que isto mas acho que em última instância a questão se pode resumir assim.

Ora, eu acho muito bem que, nos tempos que correm, o PCP e o BE se coloquem de fora de qualquer solução governativa. O que, porém, me irrita de sobremaneira é ver o PCP e o BE a tomarem posições na pura base da oposição ao governo. Não acontece muitas vezes, mas acontece. Acho que essa dialéctica anti-governo é em grande medida necessária e, sendo o PS e o PSD diferentes, e sendo em teoria e na prática o PS mais simpático à esquerda do que é o PSD, estando o PS no poder, creio mesmo que a questão "estar no poder" altera os dados em prejuízo do PS.

Agora, o que me parece idiota é não aproveitar as gafes dos ministros do PS para ir um pouco mais além numa coisa bem mais importante do que o governo da nação. Por exemplo, a propriedade. Nós podemos devemos não gostar de um governo PS, mas devemos ainda mais não gostar de quem sacraliza o princípio da propriedade privada. A gafe do ministro da agricultura (assim a classificaram os deputados da direita) no contexto dos actuais fogos - disse o ministro que se deveria ponderar a exproriação das propriedades privadas cujos proprietários não têm cuidado - devia ser apoiada por qualquer deputado de esquerda. O eurodeputado do PCP, João Ferreira, ainda disse que o mais importante era haver mais meios para combater o fogo e chutou envergonhadamente para canto. O deputado do BE, Pedro Soares, limitou-se a dizer que o governo é que tinha culpa porque não fez nada para evitar os fogos e mais não sei o quê, sem pingo de vergonha, o que ainda torna a coisa mais inaceitável.