A Joana Lopes, a propósito deste meu post La Dame Patronesse — uma Canção de Brel para f., publicou estes dois comentários:
1. Miguel,
Eu gostei deste post da Fernanda e destaquei-o, já há umas horas, nas «sugestões» do Brumas. «Dame patronesse» me sinto, portanto, na tua apreciação.
E registo o tom machista deste teu post, que não esperava de ti; 2. Acabo de ler este post do Rui Bebiano. Dedicas-lhe a mesma canção?
Segue-se a minha resposta:
Joana,
vamos lá ver se nos entendemos.
Em primeiro lugar, creio que os posts e comentários que tenho deixado por aí a propósito desta campanha não dão margens para dúvidas sobre a minha tomada de posição. Só me faltava que, depois das denúncias dos adeptos da "resistência islâmica" e do fascista Vidal, tivesse agora de ouvir a crítica de que apoio, sim, a campanha contra a legislação religiosa e a ditadura, mas não com a sensibilidade ou a correcção devota devida. Para mim, a solidariedade aqui não é do tipo assistencial ou "amai-vos uns aos outros", releva antes da legítima defesa e da causa própria.
Assim, lembrando-te o que escrevi aqui perante acusações descabeladas feitas à Fernanda Câncio, pergunto-te eu se achas que não tenho o direito de discordar dos termos e do tom em que ela analisa a manifestação de ontem ("muito atenta aos silêncios e às ausências", como quem prepara uma lista negra, ou diz: "Para mim, estás marcado"). Se tu tens o direito de incluir o post da FC nas "sugestões" do teu blogue — como de retirar da tua lista de "inevitáveis" o nome do Vias de Facto —, não terei eu o direito de ver as coisas de outro modo, por razões que formulo no post que citas e noutras intervenções?
A tua acusação de "machismo" raia o ininteligível e/ou o fundamentalismo, pois não vejo que outra base lhe possas dar excepto a de eu criticar uma mulher. Assim, é muito fácil, ganhas sempre: até, dada a tua condição feminina, já ganhaste esta também, uma vez que, para tanto, te bastará repetir a acusação de "machismo". Mas aqui fica o desafio: indica-me, sem "galambizar", uma palavra ou uma frase machista naquilo que escrevi no post maldito.
O post do Rui Bebiano merece o meu acordo geral, e usa, em boa medida, no estilo que é o dele, muitos argumentos semelhantes aos que eu próprio utilizei nestes últimos dias. Talvez eu não formulasse tudo da mesma maneira — na medida em que entendo que a manifestação é só um dos meios de expressão de solidariedade com Sakineh Ashtiani, havendo outros igualmente legítimos (petição da AI, etc.) que alguns têm o direito de preferir. O que não pega, como o Rui concordará, é acusar as campanhas que denunciam o regime iraniano, o seu sistema e práticas judiciais bárbaros, de serem manobras imperialistas contra o Irão, confundindo este com a oligarquia islâmica que o oprime — a exemplo, de resto, do que faz esta última e aplicando os mesmos critérios. (Mas também não pega, ainda que venha de uma mulher, aparecer na caixa de comentários de um certeiro post do Miguel Madeira a exibir a superioridade que se gosta de ostentar em matéria de competência linguística, sem dizer uma palavra sobre o fundo da questão, ou ostentar, num post de balanço da manifestação de ontem, a intimidade que se tem com a "Juju" ou outras relações mundanas…).
Espero ter respondido às tuas perguntas. Mas, se assim não foi, serás tu a ter de te explicar melhor sobre tudo isto. O que talvez te ajude a arrumar as ideias e a discutir comigo mais de igual para igual.
29/08/10
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6 comentários:
Miguel,
Como sabes, não é meu hábito responder a comentários com posts e, por isso, não o farei também desta vez.
Tenho lido os teus posts, mas não o que tens comentado por aí (o Protesto de ontem deu algum trabalho a preparar, não tenho tido muito tempo livre).
Também não sei do que falas quando referes a «c. de comentários de um post certeiro…», porque, quando clico nessa frase, vou a ter «Not found Error».
Mas vamos ao que interessa: nunca escreverias isto se se tratasse de um homem e o resto é conversa: «… quem estava e não estava em tom de maledicência de dame patronesse (ou dama de caridade) à hora do chá».
Joana,
a tua prova do meu suposto machismo é de pasmar, O machismo, pelos vistos, é dizer que há damas de caridade que praticam a maledicência à hora do chá e que a Fernanda Câncio adopta um tom semelhante ao dessas conversas? Se o disparate não fosse teu, dava-me vontade de rir.
Nunca reparaste que há milhares de coisas que se dizem de uma mulher - "a saia dela era horrível" - que nunca se diriam de um homem, sem que acarretem "machismo". E vice-versa ("tinha uma barba que tornava sinistro o seu sorriso, como o de um ogre").
O que é criticado é um traço negativo que NÃO é inerente à condição feminina e que eu não generalizo a essa condição. É tão "machista" como como seria pejorativo para o "sexo masculino" dizer "num tom de conversa de caserna revelador" falando de qualquer apoiante nacionalista de qualquer um dos próximos candidatos à Presidência da República.
Não creio que seja eu quem desatina. Deve haver mais quem o veja.
msp
Joana,
aqui vai o link para o post do Miguel Madeira: http://viasfacto.blogspot.com/2010/08/re-pornografias.html
Já agora, deixa-me acrescentar que a hostilidade de que me acusas em relação à campanha contra as lapidações e o regime iraniano foi de tal ordem que a própria Fernanda Câncio "publicita" um dos meus posts num dos que escreveu nas vésperas da manifestação. Não deste por isso?
Mas volto ao teu grande argumento e motivo de escândalo:
"nunca escreverias isto se se tratasse de um homem e o resto é conevrsa: '…quem estava e não estava em tom de maledicência de dame patronesse (ou dama de caridade) à hora do chá".
Pois, não, nunca escreveria isso de um homem - ou seria pouco provável que o fizesse. Tu também nunca escreverias: a "dama de ferro" do Bush, nem o "burlesco cowboy" da ex-primeira-ministra de Sua Majestade. Achas que isso torna esses "cognomes" sexistas? Será sexista admitir que tenho por vezes ganas de chamar "megera" à Pegado - coisa que nunca diria de Rui Pedro Soares -, ou que me passa pela cabeça dizer que o Pacheco Pereira evoca o M. de Norpois - coisa que nunca diria da Manuela Ferreira Leite?
Não estarás a confundir "sexuar" com "discriminar sexualmente"? E tens a certeza de que não estás a fazê-lo, sacrificando a lógica que noutras ocasiões te é tão cara, porque te irrita quem responde com posts a comentários; não se recusa a polemizar (até quando isso implique ir a uma caixa de comentários do 5dias, imagine-se!) com o Renato Teixeira ou a responder ao fascista Vidal (em vez de se limitar a dissecar o César das Neves ou o Arroja); dá na touca da candidatura do Manuel Alegre e alerta para os sofismas do Louçã; considera o Ferreira Fernandes uma nulidade, e, enfim, não passa de um vulgar machista por se opor assim aos juízos da mulher que és - o que, de resto, te dispensa de argumentações complicadas, ou te permite economizá-las trocando-as por acusações de sexismo machista? Só alcançarei graça aos teus olhos se adoptar pseudónimos femininos em tonalidades cereja? Ou terei de dissimular por decoro a minha capacidade de distinguir o discurso do Miguel Cardina ou o post do Rui Bebiano para que ontem me remetias dos da Fernanda Câncio ou Ana Vidigal sobre o mesmo assunto?
Bom, vou ficar por aqui, senão daqui a nada isto ainda se transforma, na tua opinião, em mais um atentado à deontologia blogosférica perpetrando a conversão de um comentário em post, quando é evidente que não domino os altos critérios que aplicavas quando, outrora, o fazias a pequenas coisas que eu te enviava para o Brumas…
msp
Miguel,
Vou sair do país daqui a umas horas e estou sem vontade, nem vontade, confesso-o, para responder a dez assuntos e quinze suposições que fazes.
Só uma coisa: se escreveres algo sobre mim que seja semelhante, toma nota que, às cinco da tarde, não bebo chá: prefiro uma cerveja – provavelmente como tu.
Redondamente enganada, Joana.
Eu prefiro o chá e, efectivamente, não o dispenso ou só a custo. Litros dele - lapsang souchong, de preferência, mas também (e sobretudo frio) Earl Grey.
msp
Da " eterna luta", " hostilidade original e recíproca dos sexos ", adverte Lou Andreas-Salomé, não vamos, caro MSP, tirar nenhuma grande arte, como diria Castoriadis, pois não? O busílis da questão é a entrada da Política nesse duelo eterno, caprichoso e permanente. De novo, Castoriadis ajuda-nos a pensar: " O homem contemporâneo comporta-se como se a sua existência em sociedade fosse uma odiosa obrigação que só uma malfadada fatalidade o impede de evitar( que isto seja a ilusão mais monstruosamente infantil, não muda nada evidentemente em nada os factos). Ele age como se suportasse a sociedade ( quer esta tenha a forma de Estado ou outra qualquer), como se se encontrasse sempre pronto a culpá-la de todos os seus infortúnios, solicitando-lhe, simultâneamente, pedidos de assistência ou soluções para os seus problemas".Já não alimenta projectos a seu respeito, nem o da sua transformação ou, sequer, o da sua conservação/reprodução Já não aceita as relações sociais no seio das quais se sente encurralado e que só reproduz na medida em que não consegue agir de outra maneira ". Tudo esta caracterização emerge/exala dos textos e das intervenções de F.Câncio- e a " nossa " querida Joana Lopes aplaude de olhos vendados...Niet
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