Os defensores do AO apresentaram-no como uma forma de uniformizar a escrita da língua portuguesa; alguns dos seus críticos dizem que é uma tirania estatista, com o Estado a querer mudar a maneira como as pessoas escrevem.
Mas, atendendo à carrada de comentadores que terminam as suas crónicas dizendo "Fulano escreve de acordo com a antiga ortografia", e aos correctores ortográficos que agora vêm em duas versões (pré- e pós-AO), parece-me que o resultado prático acabou por ser que, agora, o "Português de Portugal" tem duas normas ortográficas socialmente válidas (note-se que não digo legalmente válidas), e cada um pode escolher qual quer seguir sem se considerar que está a escrever "mal" - no fundo, entramos numa situação parecida com a da Galiza, em que há duas normas concorrentes sobre qual a forma "correcta" de escrever galego.
Ou seja, contrariamente aos objectivos do acordo, não se uniformizou nada (muito pelo contrário); por outro, inversamente ao que diziam alguns críticos, não há nenhuma estatização da língua: muito pelo contrário - neste momento, na prática, há muito mais liberdade para escrever de forma diferente da ortografia "estatal".
24/03/12
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3 comentários:
Aqui no Brasil, nossa mania de grandeza quer que digamos que falamos uma língua europeia e não um 'créole' do português. O pior foi que, desde a mudança ortográfica de 1943, fomos obrigados a mudar a grafia do país que o acompanhou desde o descobrimento até, inclusive, a primeira constituição da república: 'Estados Unidos do Brazil'.
[Durante a ditadura militar, passou-se a falar em 'Brasil dos Estados Unidos' e os generais reagiram mudando para o título atual de 'República Federativa do Brasil', mas o 'z' não voltou mais...
DdAB
Penso que o seu texto é uma reflexão interessante, mas largamente inacabada.
Falta dizer que a esperada harmonização, que não sera mais do que a adopção (social) de um padrão ortografico comum, nunca poderia ser imposta, a não ser de forma indirecta, progressiva, contando com a lenta modificação dos habitos, um pouco como se espera que um tutor influencie a forma como cresce uma arvore.
Portanto é muito cedo para nos pronunciarmos sobre o sucesso do acordo, ou alias sobre a sua falta de sucesso.
Em contrapartida, não parece ser tarde demais para constatarmos que se trata de uma questão meramente instrumental e de incidência menor. Uma picuinhice. Faz parte dos mistérios insondaveis da alma lusa o facto de ser capaz de se apaixonar por essas minudências.
Boas
Conclusão: num mundo digitalizado, 6 anos de convivência legal entre duas ortografias é demasiado tempo e o principal fator de problemas e inconveniências.
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