03/05/12

Nem Idealizar o Oprimido, Nem Apoucar o Consumidor

O ponto 3 deste post do João Rodrigues sobre o affair Pingo Doce é muito importante: "De qualquer forma, as pessoas fazem o melhor de que são capazes nas circunstâncias que são as suas. Esta hipótese não é trivial porque coloca o enfoque nas duas dimensões centrais da actividade política: o que as pessoas podem ser e fazer nas suas vidas, as tais capacidades, e as circunstâncias, já que as pessoas são, em parte, seu produto. Trabalhar em ambas as dimensões, desenvolver e humanizar, exige conhecimento e simpatia prévios, capacidade de se colocar no lugar do outro. Também assim se pode evitar o espectáculo, política e intelectualmente lamentável, dos que apoucaram quem foi ao Pingo Doce no 1º de Maio". Não se trata aqui de idealizar o oprimido (perigo para que o Miguel Serras Pereira já aqui alertou) mas também não se trata de "lamentar" o comportamento do comprador (e a esse respeito não posso se não "lamentar" o post do Sérgio Lavos). 
  

3 comentários:

HORIZONTE XXI disse...

Nem é preciso idealizar o oprimido porque os factos por si só encarregam-se de demonstrar a condição ideal em que os seres humanos abdicam da sua dimensão social e nesse sentido é mesmo necessária, não a idealização, mas a constatação da realidade que torna factual essa idealização.
A produção deste episódio está claramente interligado com a circunstância que lhe está na origem e que objectivamente tende a perpetuar; a necessidade, as dificuldades em que as pessoas vivem.
O uso da necessidade, da pobreza em que se encontram as pessoas, da incerteza, do medo (sim medo, que muito boa gente não sabe se perderá o emprego e/ou a casa) como arma na qual um qualquer benefício imediato (em que a não continuidade desfaz o mito da filantropia ou qualquer outra intenção altruísta) corresponde dissimuladamente ao desligamento de símbolos relacionados precisamente com instrumentos de “balanceamento” das causas que criaram as condições de manifestação do próprio episódio não requer idealização, a realidade mostra-se nua, conforme é.
A mensagem é claríssima.

Não há palavra que mova
Não há paisagem que deslumbre
Não há poema que solte
Se a fome for razão.

Libertário disse...

Há ou não autonomia e liberdade no comportamento humano?

Este discurso das «circunstâncias» ronda o velho determinismo que pode levar a tudo, justificar todos os comportamentos e infâmias da história. Afinal teremos de compreender o povo apoiante de Salazar ou Hitler, os judeus colaboradores dos nazis, os soldados que foram para as guerras...

Há uma coisa que é difícil de assimilar pelos marxistas: a autonomia e liberdade dos seres humanos, que podem dizer sim ou não para lá de todas as circunstâncias e condicionalismos sociais e pessoais.

HORIZONTE XXI disse...

Caro Libertário

Essa autonomia e liberdade é o que se procura.
Actualmente não existe, o condicionalismo está em todo o lado, ninguém é livre sem condições de vida dignificantes, nem autonomo com o aprofundamento das dependencias.
Abraço.