Neste texto, o Daniel Oliveira descreve fielmente a sociedade portuguesa, presa num ciclo de desigualdade e autoritarismo que faz as delícias dos ideólogos da Direita. Sair desta situação não será fácil, não só, mas também, porque requer inverter um processo de individualização que não se restringe à sociedade portuguesa e que encontra defensores quer à Esquerda quer à Direita.
Neste outro texto, a Joana Lopes relembra o Verão de 1975, em que esteve para ocorrer uma radicalização da revolução de 25 de Abril de 1974. No entanto, apesar da forte adesão popular, e do apoio explícito de várias unidades militares, essa tentativa de radicalização acabou por fracassar com o golpe contra-revolucionário de 25 de Novembro de 1975. É claro que hoje não existe o entusiasmo e o apoio popular que havia então para uma reconfiguração radical das relações sociais e económicas. Portanto, aparentemente, o contexto político e social actual deveria ser menos propício a essa reconfiguração. No entanto, ao contrário de então, também não me parece que hoje tal congregasse a oposição visceral duma parte significativa da população. Por vezes basta o entusiasmo duns poucos, quando todos os outros optam pela apatia.
17/07/12
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4 comentários:
Sim, Pedro, mas repara que "uns poucos", por grande que seja o seu entusiasmo e simultânea lucidez, se são necessários, não são suficientes, a menos que pela sua acção (sem esquecer que a palavra é uma forma de acção) suscitem a reflexão e a adesão dos muitos - de facto, da grande maioria dos homens e das mulheres, que somos enquanto cidadãos comuns. E não só a adesão, mas a apropriação e recriação pelos muitos dos termos da ruptura na base de uma alinaça entre iguais. A transformação igualitária e libertária que tens em vista - e que eu subscrevo, como bem sabes - implica a transformação dos seus agentes ou "sujeitos". O regime e a ordem estabelecida não se mantêm exclusivamente graças à repressão. O seu suporte é a adesão - contraditória, é certo, implícita e reflexa, habitual - aos critérios e significações imaginárias essenciais do "sistema": hierarquia social e dos rendimentos, justificação das desigualdades baseadas na "competência" e na "preparação", aceitação da distinção estrutural e permanente entre governantes e governados, submissão à lógica da representação e da "procuração", etc. Assim, o patente descontentamento e a revolta larvar perante os efeitos da crise - cuja gestão pelo governo, apesar de desastrosa de outros pontos de vista, tem tido êxito como consolidação das posições dirigentes das fracções de topo da oligarquia dominante - não bastam para a criação de uma alternativa ou para o sucesso da ruptura com o regime actual. Não é só nem fundamentalmente de uma mudança de governo e de outras decisões que precisamos, mas de outra forma e modo de exercício - efectivamente democráticos - de governar, de outro modo de decidir, na base da generalização aos cidadãos comuns do poder que por eles - ou por nós - decide e governa. Com os resultados à vista.
Abraço
miguel (sp)
Olá Miguel, claro que concordo com tudo o que dizes. Mas o que descreves equivale efectivamente a uma revolução cultural, absolutamente necessária concordo, mas impossível de efectivar a curto, ou mesmo médio, prazo através da difusão e discussão de ideias. Parece-me mais realista, mas também assumo que mais perigoso, tentar que tal revolução cultural ocorra a reboque duma revolução sócio-políitca assente num aprofundamento dos mecanismos de participação democrática. Ou seja, não me parece que esteja próximo termos manifestações espontâneas de muitos milhares a pedir formas de democracia mais participativas. Mas talvez o entusiasmo e argúcia de alguns poucos consiga que arrastar atrás de si a apatia e alienação em que mergulharam muitos milhões.
Um abraço,
Pedro
De acordo, Pedro. Mas o meu ponto não é substituir os "objectivos históricos" aos "objectivos imediatos". É, de certo modo, recusar essa alternativa. Ou, dito positivamente, assegurar nas lutas imediatas a extensão da participação democrática, para que a resposta à crise, ou a o desenvolvimento desta, não leve a um reforço de um poder dos poucos sobre os muitos. Como suponho que é também a tua ideia.
Tudo muito bem. Só que está a surgir no Golfo Pérsico uma escalada militar assustadora e gigante, ensaiada e bipolarizada pelos EUA e URSS. Em campos opostos e adversos,claro. Tendo como alvo: o Irão, justamente. Experts internacionais atribuem-lhe os contornos da maior concentração de dispositivos de guerra depois da invasão do Iraque em 2003. Será que Obama se une à direita israelita e incendeia a zona mais rica de hidrocarbonetos do Mundo? E que intensas e dramáticas repercussões económicas mundiais um grande conflito armado no Médio Oriente pode acarretar? E depois,como se pode prever, a faúlha do internacionalismo árabe pode tentar propagar a democracia real à Argélia e Marrocos- com reflexos dinâmicos na frente de forças populares que lutam contra o capitalismo austeritário na Ibéria! Salut! Niet
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