06/07/12

Manuel António Pina: sobre o Partido Comunista da China, o PCP e o CDS/PP

A ler na íntegra e a reter na memória esta crónica sobre "Parentes pouco recomendáveis" de Manuel António Pina:


A maior parte dos "partidos irmãos" que sobraram da família ideológica do PCP depois do desmoronamento da URSS e do Bloco de Leste é daquele tipo de parentes que as famílias comuns se recusam a receber em casa e de quem nem querem ouvir falar.


O Partido Comunista da China era, em vida da URSS, um parente de quem o PCP activamente se envergonhava. Mas família é família e os laços de sangue acabam por falar mais forte, sobretudo em situações de orfandade. O PCP tem feito tudo para preservar as relações "fraternais" com o PCC, esticando além dos limites do tolerável o conceito de "assuntos internos" (para não falar do de "construção do socialismo") e apoiando acriticamente na China o capitalismo selvagem e sem regras que condena em Portugal.


Pensar-se-ia que os rasgados elogios agora feitos pelo vice-primeiro-ministro, Li Keqiang e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Yang Jiechi, à política de austeridade em Portugal e ao "exemplar cumprimento" pelo governo português daquilo que o PCP justificadamente chama "pacto de agressão" merecessem algum comentário, mesmo que tímido, do PCP.


Não mereceram. Nem isso nem as relações bilaterais recentemente formalizadas entre PCC e CDS/PP. Trata-se de relações mais saudáveis e transparentes do que as fundadas numa oportunística consanguinidade ideológica. Ao menos CDS e PCC defendem a mesma coisa, independentemente das latitudes.



1 comentários:

José Guinote disse...

A excelente crónica sobre uma questão evidentemente séria apenas reaviva, na nossa memória, a clássica duplicidade do PCP. Defensor insuperávell das liberdades, dos direitos dos trabalhadores, da democracia, convive depois, sem hesitações, com regimes como o chinês ou o norte –coreano, liderados pelos sinistros partidos irmãos. Partido que, no caso chinês, suporta um regime que explora centenas de milhões de trabalhadores, que faz da mão-de-obra barata e sem direitos um dos seus maiores factores competitivos e que, pelos vistos, acompanha com indisfarçável emoção a virtuosa política austeritária que o CDS-PP e o PSD aplicam com desvelo aos portugueses.
Só faz falta neste ramalhete, em que o CDS-PP estabelece relações com o PCC, passar a existir uma cimeira tripartida PCC-PCP-CDS/PP. Ou será que o PCP vai cortar/esfriar relações com o PCC?