Apesar de o comentário de Pedro Viana se dirigir ao Miguel Serras Pereira (e se Pedro Viana quisesse dirigir-se ao Passa Palavra certamente teria colocado o seu comentário nesse site) pareceu-me conveniente intervir. A minha ligação ao Passa Palavra é conhecida e, embora aquele artigo seja colectivo e assinado pelo colectivo, poderei adiantar o seguinte:
1) Em numerosos artigos, tanto colectivos como assinados pelo Manolo, pelo João Valente Aguiar, por mim mesmo e por outros autores, o Passa Palavra tem mostrado a impossibilidade de reflectir sobre a economia actual em termos nacionais. Nem sequer é o inconveniente político de o fazer, é a sua impossibilidade de facto. A transnacionalização do capital deixou as fronteiras totalmente inoperantes, no caso de pequenas economias, ou parcialmente inoperantes, no caso dos cinco grandes países subcontinentais. Isso significa, entre outras coisas, que nenhuma economia pode desenvolver-se sem investimentos externos directos, a tal ponto que uma parte considerável e crescente do que é contabilizado como comércio externo é hoje constituído por comércio intrafirmas. Não é com homilias que se inverte esta situação nem é ignorando-a que ela desaparece.
2) A adopação de uma moeda nacional depreciada, em situação de inadimplência, provocaria o descalabro jurídico da vida económica sobretudo no interior do país. Os compromissos assumidos com o estrangeiro, em termos de euro ou de dólar, teriam de ser cumpridos nessas moedas — embora com muito mais dificuldades — sob pena de corte das relações internacionais. Mas tanto no caso de cumprimento como de incumprimento a situação para o exterior seria juridicamente clara. O caos jurídico verificar-se-ia nos compromissos assumidos internamente, firmados em euros e a cumprir na nova moeda, mas a que taxa? Na estipulada oficialmente, o que corresponderia à ruina dos credores? Numa que correspondesse ao valor real do compromisso assinado, o que seria impossível para os devedores? Se estes litígios fossem levados a tribunal o sistema jurídico ficaria praticamente paralisado.
3) Quando Pedro Viana atribui àquele artigo do Passa Palavra «a crítica da nacionalização, em particular como meio de controlo social sobre a economia, vista como inevitavelmente conducente ao totalitarismo», só posso concluir que ou não leu o artigo ou está a tresler. Nesse artigo nunca se menciona a «nacionalização», mas sempre a «estatização», precisamente porque o Passa Palavra, tanto enquanto colectivo como os seus colaboradores individualmente, não consideram que naquelas circunstâncias política haja possilidade de os trabalhadores exercerem o seu controlo sobre a economia. Para todos nós, no Passa Palavra, a estatização — e repito que foi este o termo que usámos — é o oposto ao controlo social sobre a economia. E é porque defendemos o controlo social sobre a economia que atacamos a estatização. Para mim, pessoalmente, é uma posição que assumo desde há muito, e que assumimos todos os que a seguir ao 25 de Abril criámos e mantivemos (até 1978) o jornal Combate, Miguel Serras Pereira incluído.
4) A mesma alternativa que me vi obrigado a colocar há pouco tenho de a colocar de novo quando Pedro Viana escreve que existe naquele artigo «uma argumentação apenas e só assente em considerandos económicos». Em primeiro lugar, o que preocupa o colectivo do Passa Palavra é que um capitalismo de Estado instaurado em condições de miséria pressupõe um autoritarismo político reforçado. Isto está claramente dito naquele artigo, como aliás nos artigos anteriores sobre o mesmo assunto. É como sinal vermelho para o autoritarismo político que o Passa Palavra se preocupa com o risco de estatização da economia. Em segundo lugar, por muito que custe aos diletantes da demagogia, os problemas sentidos pela periferia meridional da zona euro são problemas económicos. E quem não os quiser — ou não os souber — analisar em termos económicos estará a dar o aval a soluções economicamente catastróficas e politicamente nocivas.
Finalmente, uma observação. Todos nós, no Passa Palavra, lamentamos muito ter de analisar a situação portuguesa no plano estrito do capitalismo. Fazêmo-lo apenas porque não existe nem parece despontar nenhuma alternativa revolucionária, anticapitalista. E sob a estatização económica e o autoritarismo político será mutíssimo mais difícil criar condições de desenvolvimento de uma alternativa anticapitalista.
Mas a indignação de pessoas como Pedro Viana e tantos outros explica-se quando observamos a facilidade com que, onde o Passa Palavra escreveu «estatização», ele leu «nacionalização». Esse será o tema da 2ª parte do artigo, que analisará por que motivos o capitalismo de Estado e o autoritarismo político podem servir, para toda essa gente, de farol.
João Bernardo
32 comentários:
Este texto, bem como o anterior, levaram-me a escrever uma resposta (http://jardimdemicrobios.blogspot.com/2012/11/discussoes-esquerda.html), que transcrevo tambem aqui:
(...) Confesso que, tal como o Pedro Viana, acho esta sequencia de textos extraordinaria (no pior sentido da palavra).
Enfim, creio que bastaria observer os casos recentes do “calote” que tanto parece incomodar os autores (Argentina, Ecuador, Islandia) para perceber que o apocalipse nao se abateu sobre eles (e, ja agora, que o seu sistema judicial continuou a funcionar, ao inves do caos que eles preveem). E isto deveria ser suficiente para fazer os autores, no minimo, sobre algumas das proclamacoes categoricas que efectuam e em que nao se distinguem de um qualquer Joao Duque ou Medina Carreira (ou qualquer outra das habituais vozes do regime que inundam a comunicacao social) – e, novamente, tais companhias talvez devessem ser suficientes para repensarem o nivel de certezas com que se apresentam.
Depois, ha afirmacoes que simplesmente nao se compreendem ou que dependem de pressupostos facilmente criticaveis:
“uma moeda fraca facilitaria as exportações, que sairiam mais baratas para o estrangeiro. Todavia, (…) 75% das exportações portuguesas se dirigiram para a União Europeia e 51% foram absorvidas pela Espanha, a Alemanha e a França (50% em 2011), isto significa que o país se isolaria monetariamente do seu principal mercado.”
Presumo que a unica forma de entender isto seja a de que uma saida de Portugal da zona euro provocaria o colapso de todos os outros paises, de tal forma que isso afundaria as exportacoes. Ora, isto e’ meramente um pressuposto, e nao e’ especialmente solido, particularmente se a saida fosse gerida e prevista, ao inves de ser desordenada (como corre o risco de vir a ser, tanto em Portugal como na Grecia). Ora, falhando o pressuposto da ruina absoluta dos nossos parceiros comerciais europeus (ou considerando simplesmente que a desvalorizacao do escudo face ao euro ou a outras moedas reintroduzidas seria suficiente para compensar qualquer abrandamento nesses paises), torna-se evidente que as exportacoes poderiam efectivamente aumentar.
Sobre a questao da divida, os autores parecem tambem esquecer-se de dois pormenores:
1) A falta de acesso aos mercados internacionais nao implica que o Estado Portugues nao pudesse contrair divida (basta, novamente, considerer que a Argentina teve deficits depois de 2002 e conseguiu financia-los – por exemplo, atraves de acordos bilaterais com outros paises).
2) Por outro lado, a melhoria que estaria subjacente a uma recuperacao da economia em que a variavel de ajustamento passasse a ser a taxa de cambio (e nao a descida dos salarios e o aumento do desemprego, genericamente designados como “desvalrizacao interna”) poderia implicar que, dado o aumento da actividade economica e a diminuicao do desemprego, as receitas de impostos tenderiam a aumentar, o que poderia resolver por si so a questao da necessidade de financiamento do estado. Numa economia que se encontra tao abaixo do potencial, e com uma vasta proporcao de “recursos” nao utilizados, como e’ necessariamente o caso de Portugal, com uma taxa de desemprego muito elevada, tal cenario nao deveria ser impossivel.
Adicionalmente, um esclarecimento: tal como os autores do texto no Passa a Palavra, tambem eu gostaria que a solucao para a crise fosse feita no ambito da UE e da Zona Euro. Mas, tendo em conta o grau de improbabilidade de que as necessarias mudancas na arquitectura da Zona Euro sejam aplicadas (orcamento federal digno do nome, rejeicao de politicas pro-ciclicas, etc.), e tendo em conta a falta de progresso evidenciada nos ultimos anos, tenho dificuldades em ver o que e’ que qualquer pais europeu ganha em manter-se neste colete de forcas. A isto ha ainda que adicionar que, na ausencia de mudancas relevantes na Zona Euro (ZE), e considerando que eventualmente a crise sera ultrapassada (como e’ obvio, todas as crises passam), duas consequencias adicionais poderiam resultar:
(Continua)
(Continuacao do anterior)
1) A estrategia de austeridade/desvalorizacao interna poderia sair vindicada, e poderiamos facilmente contar com tentativas de re-escrever a historia – nao sera dificil de imaginar discursos oficiais a apontar para o “sucesso” da receita austeritaria e de como ela permitiu a saida da crise.
2) Decorrente de 1), futuras crises, novamente causadas por choques assimetricos na ZE, voltariam a gerar o mesmo tipo de politicas e, previsivelmente, a ter o mesmo resultado (crise profunda e perfeitamente evitavel, tal como o sofrimento humano associado, em varios paises).
Por fim, causa-me estranheza, que neste e noutros textos no Passa a Palavra (do Joao Valente Aguiar, do Joao Bernardo, ou de outros), se continue a atribuir ‘a intencao de sair da ZE um impeto nacionalista e isolacionista, como a primeira tivesse necessariamente de implicar a segunda.
Caro Sérgio Pinto,
não vou considerar os seus argumentos um a um. Limito-me a observar que V. esquece um aspecto político com consequências maiores - de princípio ou de "fins" - de toda esta questão.
O que estamos a discutir não é se devemos ou não opor-nos à troika, ao FMI, ao autoritarismo austeritário promovido pela UE na zona euro e não só. O que estamos a discutir é se devemos lutar contra tudo isso - e por esse objectivo revolucionário ou final que seria a democratização das rleções de poder instituindo a participação igualitária e responsável de todos os cidadãos nas decisões que afectam a sua existência colectiva - pela via do soberanismo, do reforço do Estado-nação, do isolamento nacionalista e da mítica "independência nacional", ou se, pelo contrário, a luta defensiva e a passagem, sempre que possível, à ofensiva deve ignorar e superar as barreiras nacionais do Estado-nação, e "exportar", generalizando-os e alargando o seu alcance, os conflitos e as reivindicações de que estamos a falar.
(continua)
(continuação do comentário anterior)
Como há um ou dois dias escrevi, em resposta a um comentário do meu amigo Pedro Viana:
"…não vejo porque é que a luta pela democratização de que falas e a luta em defesa dos direitos e liberdades ameaçados terá de passar pela reivindicação da saída unilateral do euro, em vez de se fazer em torno da renegociação da dívida, de resistência aos cortes, de reivindicações democráticas ao nível da UE, etc., etc.
Francamente, não vejo o que tem de democratizador a reivindicação da saída unilateral do euro nem em que é que essa saída a consumar-se reforçaria a capacidade de intervenção dos trabalhadores e da maioria dos cidadãos comuns - quer europeus, em geral, quer portugueses, em particular.
O cortejo de consequências previsíveis do isolamento soberanista de Portugal seria, pelo contrário, desastroso aqui e um passo em frente na via de uma balcanização da UE. Um governo militarizado, ainda que com a banca nacionalizada e um programa de salvação nacional populista, restringiria as liberdades políticas e sindicais, militarizaria a esfera da produção "estratégica" alegando necessidades de defesa, oporia todo o tipo de barreiras à acção e à participação independentes dos cidadãos na vida pública e "laboral", perseguiria como "traidores" e "contra-revolucionários" os que tentassem resistir-lhe, poria a questão nacional como uma mordaça sobre a questão social, e por aí fora".
(continua)
(continuação do comentário anterior)
Independentemente de críticas que se devam fazer ao Syriza, veja-se a sua atitude perante a questão europeia (quem quiser dados sumários, mas abundantes sobre o assunto e links para outras fontes, procure neste blogue os posts que publiquei sob o título "Lição de grego"). E leia-se também o que escreve, destoando pela positiva sobre a gaguez do BE sobre o tema, alguém como o José Manuel Pureza na crónica que há dias aqui citei (http://viasfacto.blogspot.pt/2012/11/jose-manuel-pureza-sobre-uma-outra.html)
Em todo o caso, se tenho de me repetir, acontece que:
'Por fim, se passarmos a considerar, não já a "independência nacional" ou a "liberdade do Estado" — inversamente proporcional, dizia Marx, à do "seu" povo —, mas a indepndência que conta e que é a de um regime cujos cidadãos se dêem livre e responsavelmente as leis por que se governam e livre e responsavelmente decidam dos seus assuntos comuns, convém ter presente que os Muros de Berlim ou as Jangadas de Pedra — a arregimentação nacionalista, o Estado forte e militarizado mobilizador da defesa da soberania, a subordinação hierárquica que, dentro de cada Estado-nação, o horizonte da guerra entre as nçaões, acarreta, o primado da "questão nacional" sobre a "questão social", etc., etc. — têm por efeito a sua repressão e exclusão sistemáticas em benefício de formas mais ou menos recicladas e reforçadas de exploração e opressão classistas.
Por muitas objecções de fundo que se possam e devam pôr à sua leitura da Revolução Russa, se Moshe Lewin acertava ao escrever que "o socialismo é uma forma de democracia que supera todas as formas [de democracia] possíveis no mundo capitalista", e que, se isso não nos fornece qualquer receita ou fórmula precisa acerca do "do tipo de distema económico que essa democracia poderá querer adoptar", significa, pelo menos, que o poder deve estar "nas mãos da sociedade" e ser igualitariamente exercido "sem capitalistas nem burocratas" (cf. Octobre 1917 à l'épreuve de l'histoire, Le Monde diplomatique, novembre 2007) — então, poderemos ver melhor que nada pode estar mais longe da democratização instituinte — que, a todo o momento e desde o início, só ela, pode garantir uma alternativa que nos torne de facto independentes do capitalismo e do poder político classista — do que a lógica e a prática que a via do Muro de Berlim e da defesa da soberania nacional propõem como "revolução" ou "combate anti-imperialista"'. (http://viasfacto.blogspot.pt/2012/11/da-aposta-num-muro-de-berlim-para.html)
Cordialmente
msp
Muito rapidamente:
1) Será que Sérgio Pinto sabe qual é a moeda em curso no Ecuador desde há doze anos? Ou está a propor que Portugal abandone a zona euro e adopte o dólar?
2) Na Argentina a crise financeira e económica foi acompanhada por uma enorme vaga de lutas de base, autónomas dos partidos políticos e alicerçadas em fortes organizações de bairro e em cooperativas ou empresas em falência convertidas em cooperativas. Nada disto acontece em Portugal.
3) Mas as classes dominantes argentinas contam com um aparelho político muito forte e experiente, capaz de lidar com descontentamentos de massa, saído do peronismo, que constituiu a modalidade mais sindicalista do fascismo (se excluirmos a República Social, que nunca chegou a governar na prática poque era a Wehrmacht quem detinha toda a autoridade sobre esse território). Ora, Néstor Kirchner conseguiu, através de financiamentos e de uma política de cooptação, acelerar a burocratização daquele amplo movimento de base e integrá-lo no aparelho peronista, que estava bem preparado para o receber. Não é por acaso que no Passa Palavra tanto nos preocupamos com um fascismo surgido à esquerda, como um horizonte muito possível. Pensamos nessa experiência e noutras.
4) Numa época em que o capital não está apenas internacionalizado, mas transnacionalizado e em que as cadeias produtivas estão dispersas por vários países, o nacionalismo conduz obrigatoriamente ao isolacionismo.
Caro Sérgio Pinto,
só duas notas muito breves. Como é possível comparar um país integrado no plano produtivo, comercial (creio que 75% das exportações de Portugal são para países da zona euro) e monetário com países como os que mencionou? São situações completamente distintas das que enuncia. Por exemplo, a recuperação argentina ocorreu numa base um pouco precária e foi devida em boa parte ao arranque económico brasileiro dos últimos 10 anos. E como é possível comparar a estrutura industrial de Portugal com a da Argentina?
Por outro lado, as pessoas estão a esquecer-se do problema fundamental de uma saída da Grécia e de Portugal do euro: o impacto no resto da zona euro, a possível implosão desta e as perdas económicas num grau que não podemos imaginar. A deterioração das condições económicas a nível internacional só por si estão longe de ser negligenciáveis. E teriam um impacto profundamente negativa na actual economia portuguesa.
Esqueci-me de acrescentar o seguinte:
Lamento que Sérgio Pinto não consiga entender que o facto de um país se isolar monetariamente do seu principal mercado lhe prejudique o comércio externo. Mas tenho a esperança de que, com um pouco de esforço e de aplicação, consiga compreender o problema.
Pegando na palavra do JVA, pensar que, depois da bater com a porta, por meio de uma saída unilateral do euro, Portugal poderia manter idênticas, só que melhoradas, as suas relações com a zona euro e a UE, traduz um desejo infantil de guardar o bolo e comê-lo.
Por outro lado, insisto, se as "perdas económicas" de uma implosão da zona euro - objectivo último de uma área que podemos considerar sob a influência do PCP e consequência inevitável da ingenuidade política de parte dos sectores "keynesianos" - seriam piores do que, como diz o JVA, "podemos imaginar", as consequências políticas não andariam longe da reemergência de regimes de tipo fascista ou aparentado em boa parte da Europa (seriam o preço do isolacionismo, da balcanização, do ressurgir das políticas de potência "nacionais"…).
msp
Valha, pelo menos, o facto de o comentario ter suscitado respostas (e, particularmente, respostas que vao alem da habitual de arrogancia do Joao Bernardo, que tao poucas razoes tem para o ser).
Indo por orderm:
Caro Miguel Serras Pereira,
Como referi no comentario inicial, preferia que a solucao se fizesse dentro da UE e da ZE. No entanto, nao vejo como se possa ignorar a inexistencia de mudancas institucionais de fundo nessa area (descontando as intencoes de vir a ter de submeter os orcamentos nacionais 'a aprovaacao de Bruxelas, que presumo que nao considere um "aprofundamento democratico). E, convenhamos, a menos que espere que o Die Linke ganhe as proximas eleicoes na Alemanha e que o PSF passe a adoptar a visao da Front de Gauche, nao me parece especialmente provavel que venha a haver progressos num horizonte minimamente proximo. E, parece-me, nao podemos igualmente ignorar que a Grecia vai entrar no seu 6o ano de recessao em 2013 - e que Portugal, como os restantes paises do sul que, perante problemas identicos, sejam forcados a aplicar medidas semelhantes, tendera a obter um resultado semelhante. Alias, acho que o Pedro Viana ja' tinha feito referencias semelhantes a estas e qualquer um de voces os tres continua a ignorar este "pormenor".
Nao creio que alguem tenha dito que a saida do Euro, por si so, seja democratizadora (eu nao o fiz, e creio que o Pedro Viana tb nao, embora ele nao precise de um advogado). Paralelamente, nao vejo nada que implique que a saida da ZE provoque, por si so', um governo militarizado, restricoes, sindicais, etc. Para dizer a verdade, continuo sem perceber porque e' que o MSP continua a tomar isso como um dado adquirido, em vez de ser como o pressuposto bastante falivel (ou criticavel) que e'.
Relativamente ao SYRIZA, parece-me, como alguem tambem referiu (acho que o Pedro Viana, novamente) que isso seria uma posicao essencialmente para consumo interno - nao seria dificil de imaginar que, se tivessem ganho, a Grecia poderia ser empurrada para fora da ZE, quer o SYRIZA o pretendesse ou nao, assim que recusassem (e bem) o memorando com a troika.
Joao Bernardo,
1) Sim, sei, tal como sei que a dolarizacao e', precisamente, um problema que eles terao de resolver mais cedo ou mais tarde (sobre isso, http://jwsr.ucr.edu/archive/vol17/Vernengo_Bradbury-vol17n2.pdf; em jeito de 'a-parte, um dos autores, economista pertencente 'as correntes heterodoxas, tem um blogue que vale bem a pena acompanhar: http://nakedkeynesianism.blogspot.com/).
Em todo o caso, como deveria ter percebido se se desse ao trabalho de ler antes de se afundar na sua propria arrogancia, o que eu referi foi que o "calote" nao provocou nenhum apocalipse nem lhes destruiu o sistema judicial. Alguma coisa sobre isso, ou continua a chutar para o lado?
2 e 3) Ex-post e' sempre facil atribuir as causalidades que sao mais convenientes (estou a presumir que nao se esta' a basear em nenhum estudo e que isso e' meramente uma opiniao). O facto e' que, durante os anos em que estiveram submetidos a politicas austeritarias semelhantes 'as do sul da UE (e da Irlanda), a trajectoria foi semelhante: quebra brutal do PIB, desemprego galopante, agravamento da miseria. E, tal como aqui, nao faltaram profetas da desgraca aquando da recusa em pagar a divida.
4) Mais uma proclamacao que tem tanto de categorica como de falta de suporte que a possa justificar. Alias, e' um amontoado de termos obscuros que nao diz absolutamente nada. Posso voltar a repetir que o regresso ao escudo nao tem de ter nenhuma base nacionalista, e e' perfeitamente justificavel tendo em conta a disfuncionalidade actual do sistema na ZE, mas imagino que o efeito seja nulo. Para la' disso, tenho algumas duvidas que, perante uma nova moeda, consideravelmente desvalorizada face ao Euro (e o menos custo laboral dai decorrente), o efeito para qualquer empresa privada nao fosse precisamente o oposto desse isolamento. Mas suponho que voce tenha um justificacao irrebativel para tal proclamacao.
5) Quanto ao arrazoado sobre "isolamento monetario", gostava de lhe perguntar o que acha que aconteceu 'as exportacoes argentinas depois do fim da paridade com o dolar, bem como 'as exportacoes islandesas depois da desvalorizacao da coroa.
Caro Miguel Serras Pereira,
Uma adenda ao meu comentario anterior: com o que referi nao quero dizer que a possibilidade da emergencia de um regime autoritario nao e' um risco que deva ser considerado. Quero apenas dizer que nao me parece, de todo, uma inevitabilidade. E que, dada a dimensao do problema e a improbabilidade de mudancas na UE, esse risco me parece menos mau que o caminho da austeridade sem fim.
Boa noite,
Para já, e relativamente às posições do Syriza, atente-se a esta resposta de Maria Bolari, uma das mais importantes e experientes actuais deputadas do Syriza numa recente entrevista ao Publico de Espanha:
Pergunta do entrevistador: "Se a opção que oferecesse a troika fosse continuar com os memorandos ou a expulsão do euro e da União, que escolheriam?"
Resposta da Maria Bolari:
"Se chegarmos a este nível de chantagem por parte da UE, o que vamos fazer é defender a nossa sociedade, os trabalhadores, e pedir o apoio aos países que estão a sofrer as mesmas políticas de austeridade. Não vamos pagar.
Não há que ter pressa de responder a esta pergunta. A UE também está a atravessar uma crise muito importante. O que queremos dizer com a unidade é que queremos uma ferramenta que nos permita mobilizar coletivos muito amplos, e é por isso que temos escolhido esta direção. Lutamos nas bases dos sindicatos e temos uma relação com as forças organizados de toda a esquerda. Também tentamos falar e convencer a base da social-democracia. Mas tudo isto de uma perspetiva de resistência e de rutura."
A entrevista pode ser lida aqui
http://www.esquerda.net/artigo/situação-na-grécia-é-tão-instável-que-nos-estamos-preparar-para-qualquer-coisa/25654
Como se pode constatar, o Syriza continua a jogar o jogo, a meu ver desonesto para com o eleitorado, do não-sei-que-faço-se-a-troika-disser-não. É ridículo na mesma entrevista afirmar-se que a situação na Grécia é de tal modo instável que daqui a alguns meses o Syriza pode ser governo, e depois afirmar que "Não há que ter pressa de responder" à mais importante questão que o Syriza terá de enfrentar caso seja governo. E o problema não é só a desonestidade da ausência de clareza, é também o facto de tal posição inibir a discussão pública e em particular nos seio da Esquerda dos caminhos alternativos que podem ser seguidos caso a troika diga não, não cedemos às vossa exigências (que passam antes de mais pelo "Não vamos pagar" enunciado por Maria Bolari). Mas poucas coisas serão mais certas nesta nossa Europa do que esse não da troika, basta ver a maneira como o subserviente actual governo grego está a ser tratado.
Cumprimentos,
Pedro
Caro Sérgio Pinto,
até mesmo os adeptos da saída do euro reconhecem que ela teria custos económicos consideráveis - quebra do poder de compra, nomeadamente. além de todos os outros aspectos já referidos nesta discussão.
Dir-mem-á você, se adoptar uma postura radical, que, embora o bolo diminuísse, seria possível através de uma diferente "repartição do produto" fazer com que a saída do euro fosse favorável para os trabalhadores.
Mas considerando a fraqueza das organizações populares e a pouca força - por comparação com outros países da Europa - dos sindicatos, como é que, em condições mais difíceis, os trabalhadores conseguiriam uma repartição do produto mais favorável, tendo pela frente um aparelho de Estado reforçado e militarizado, pilotado por gestores e tecnocratas nacionais, cujas prioridades seriam salvar a "economia nacional" e aumentar a pressão sobre a força de trabalho?
Mais ainda: porque seria mais fácil conseguir esta modificação da relação de forças em Portugal isoladamente do que impor, através de lutas travadas no terreno europeu, a modificação dos aspectos imediatamente mais aberrantes da arquitectura da UE, criando condições mais favoráveis à democratização das relações de poder hoje governantes?
Por exemplo, quando um keynesiano como o João Rodrigues (cf. http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2012/11/flexinseguranca.html) escreve: "as periferias pagam um preço elevado do ponto de vista da tóxica ideologia dominante por estarem no euro", não seria mais razoável dizer que o problema não se resolve isolando as periferias nas suas condições degradadas, mas que a solução imediata passa pela integração política, orçamental e fiscal das periferias, e pela defesa e extensão nesse quadro das liberdades e direitos que a austeridade corrói?
msp
foi um jornal anarquista com capacidade de se adaptar ao público e mesmo a franjas de operariado instruido
já o combate elitista e dogmático como o avante foi um flop...
O preço do combate de 2$00 contra os mil e quinhentos réis da concorrência também não ajudava
e a qualidade de impressão foi piorando até à artesanalidade de 76 com o monteiro cardoso no leme
pensava que tinha acabado em 76
durou até 78?
fantástico mike...
Aos leitores do Vias de Facto:
E assim um sujeito, que mostra ignorar que o Ecuador dolarizou a economia, que mostra ignorar a situação da Argentina e o processo político ocorrido nesse país nos últimos anos, que mostra ignorar as consequências do nacionalismo numa economia transnacionalizada e que mostra ignorar as consequências exercidas pelo isolamento monetário sobre o comércio externo, ou seja, que mostra ignorar tudo aquilo de que fala, pensa que sai da situação chamando arrogante ao João Bernardo. Seria simples.
como diz o gaijo
uma moeda fraca facilitaria as exportações, que sairiam mais baratas para o estrangeiro. Todavia, (…) 75% das exportações portuguesas se dirigiram para a União Europeia e 51% foram absorvidas pela Espanha, a Alemanha e a França (50% em 2011), isto significa que o país se isolaria monetariamente do seu principal mercado.
e desvalorização competitiva é outra forma de cortar salários
e muito mais depressa
basta ver o index de preços de 1974 1989....
ou as notícias de greves pelo aumento de 30 e 20% da massa salarial
Caro Joao Valente Aguiar,
Muito rapidamente porque agora nao tenho muito tempo (portanto, peco desculpa se houver alguma desorganizacao ou pontos pouco claros).
O proposito do meu comentario nao foi o de afirmar que Portugal e a Argentina sao semelhantes. Foi, tao-somente, o de afirmar que o catastrofismo que voces atam a uma eventual bancarrota nao tem, necessariamente, tanta razao de ser como a que voces lhe atribuem, pelo menos tendo em conta outros casos recentes.
Naturalmente que o crescimento brasileiro podera ter sido benefico para a Argentina. Mas:
1) Ao contrario do que e' habitualmente propalado, a recuperacao argentina nem sequer dependeu especialmente das exportacoes: http://www.cepr.net/documents/publications/argentina-success-2011-10.pdf. No entanto, e' tambem visivel que, depois de abandonarem uma moeda sobrevalorizada, a sua balanca comercial melhorou de forma muito significativa (tal como aconteceu na Islandia), e tal como tenderia, genericamente e ignorando "efeitos sistemicos", a acontecer com qualquer pais cuja moeda sofra uma desvalorizacao significativa, independentemente da estrutura produtiva.
2) A Argentina foi o pais da America Latina que mais cresceu desde 2002 - por maior que tenha sido a influencia do crescimento do Brasil nesse arranque (e tendo em conta que esse crescimento nao se deveu principalmente 'as exportacoes), certamente que isso nao pode explicar tudo.
Quanto ao seu ponto final, eu reconheco os problemas sistemicos que podem surgir. Novamente, ha' alguns 'mas':
- Tendo em conta a situacao actual, e' perfeitamente possivel que a corda parta por outras vias - por exemplo, a Grecia tem agora um saldo da balanca primario positivo, o que obviamente torna a possibilidade da bancarrota e rejeicao da austeridade mais atractiva, particularmente tendo em conta que continuam a ser submetidos a doses sucessivas de "planos de ajustamento". Daqui decorre tambem que qualquer decisao de renuncia da divida ou saida do euro nao corresponde propriamente a uma birra ou a um acto nacionalista: pode simplesmente ser uma forma de tentar minorar uma situacao terrivel (e que o e', principalmente, devido a politicas suicidarias que foram impostas pela troika) de desemprego, recessao, e miseria.
- Tendo em conta a inexistencia de mudancas na UE que possam conduzir a uma alteracao de fundo na organizacao da ZE, nao vejo grandes razoes para Portugal e Grecia continuarem atados a tal situacao. Na verdade, mesmo para os restantes paises da UE, nao se percebe que vantagem possa existir no afundamento dos paises do Sul. Nesse sentido, uma saida organizada da ZE poderia fazer mais sentido, mesmo para os paises nao-perifericos.
- Ao chamar a atencao para o ponto das possiveis consequencias sistemicas (e tem razao em faze-lo), nao percebo como pode passar por cima da quebra que ja existiu nos paises europeus mais afectados pela crise ate agora, e da mais que previsivel continuacao dessa tendencia, tendo em conta a situacao actual e a inexistencia de mudancas significativas na estrutura da UE e da ZE nestes ultimos anos. Duvido que algum dos proponentes da saida do Euro o seja por ver tal medida como uma panaceia, mas simplesmente porque parece a menos ma na situacao actual.
por falar nisso com entrevistas quilométricas e textos densos eram obra de quem...
ninguém cortava uns parágrafos naquilo
eram quase soporíferas
a bem da verdade nos anos de 75 e 76 não aumentaram muito o preço da folha de couve com 2 folhas não era
ou eram 8 ou pouco mais do que isso...
inadimplência?
bolas já parece portaria do estado novo!!!!!
Um breaking point muito salutar para se avaliar o estado " ontológico " do austeritarismo que sacode a Europa. Não percam,pois o orador sabe do que fala,mesmo que assuma um internacionalismo muito ortodoxo: Jean-Luc Mélenchon em entrevista na France 2, via o blogue http://lesmoutonsenragés.fr.O que é que ele diz de relevante: 1) Que a via preconizada pela troika não tem futuro e vai fazer explodir a UE e o Euro;2)Com subtileza, defende as virtualidades de uma nova estratégia económica para a Europa, se Merkel sair derrotada em Bruxelas e Berlim. Condição prévia incontornável,sugere sibilino;3) Em filigrana, Mélenchon
valoriza a posição política e incontornável da França na Europa. Tomem nota. Salut! Niet
Caro Pedro,
eu vejo bastantes inconsequências ou contradições no Syriza. Mas não nas declarações que citas, que nada têm de desonesto.
Trata-se de chutar a bola para o campo do adversário, por um lado; de apostar na exportação/europeização da luta, por outro, e, por fim, de dizer qualquer coisa como: "Não contem connosco para desistir do euro e da UE nem para desistir de transformar a sua arquitectura".
Acrescento que o teu comentário deixa sem resposta a questão: porque é que será mais fácil inverter as relações de força existentes no quado do isolamento português do que na arena europeia? Porque é que a luta que preconizas privilegia a secessão da periferia em vez da transformação do centro que a periferiza? Porque é que a notória e desoladora debilidade dos movimentos sociais e das organizações de tipo sindical em Portugal se tornaria, com a secessão, uma força tal, que passaria a ser capaz de impor ao poder do capital e do Estado mudanças que declaras fora do alcance dos trabalhadores e movimentos de cidadãos dos outros países da região?
Por fim, parafraseando Rosa, a democracia defende-se aprofundando e alargando as liberdades e direitos existentes e não suprimindo as conquistas democráticas que limitaram a dominação do capital e do Estado graças a lutas anteriores nem atribuindo poderes reforçados a novas formas de governo classista. Os princípios e fins últimos ou se traduzem com os meios imediatos de que dispomos ou não servem para nada - a menos que, pior ainda, passem a desempenhar o papel de escatologias que convertem futuros míticos em justificação da miséria presente.
Abraço
miguel (sp)
Caro Miguel,
Muito rapidamente, que se faz tarde ;0)
"Trata-se de chutar a bola para o campo do adversário"
Desculpa-me mas em política exijo clareza, de outro modo não é possível discutir nem optar. Dito de outra maneira, uma decisão é tanto mais adequada aos fins pretendidos quanto menor for o déficit de informação. Em política ninguém se pode furtar a responder, mesmo que seja condicionalmente a diferentes cenários de evolução futura.
"porque é que será mais fácil inverter as relações de força existentes no quado do isolamento português do que na arena europeia?"
Porque nós podemos controlar o que fazemos, mas não o que outros fazem. Só nós temos controlo sobre o nosso destino.
"Porque é que a luta que preconizas privilegia a secessão da periferia em vez da transformação do centro que a periferiza?"
Não privilegia. Mas também não faz depender a luta na periferia da luta no centro. Recuso-me a colocar o meu destino, a minha autonomia decisória seja nas mãos dos burocratas da troika seja na dos trabalhadores na Alemanha. Não quero ficar à espera, nem sentado, da altura, altamente incerta e pouco provável a curto e médio prazo, em que os trabalhadores alemães saiam à rua para derrubar a oligarquia que os governa.
"Porque é que a notória e desoladora debilidade dos movimentos sociais e das organizações de tipo sindical em Portugal se tornaria, com a secessão, uma força tal, que passaria a ser capaz de impor ao poder do capital e do Estado mudanças que declaras fora do alcance dos trabalhadores e movimentos de cidadãos dos outros países da região?"
Tal mudança é possível em todos os países, na medida em que a instabilidade económica e social leve as pessoas a questionar quem as governa. Sem isso, nada mudará. A história assim o demonstra. A existência prévia de organizações que possam enquadrar esse descontentamento não é uma condição necessária para a mudança que descreves, apesar de sem dúvida ser algo que ajudaria a conseguir-se o pretendido. As revoluções são sempre imprevisíveis.
Um abraço,
Pedro
Antes de mais saúdo estas discussões, que são verdadeiramente importantes e como diz o Pedro Viana devem ser tidas publicamente para que as pessoas que não militam em partidos possam formar uma opinião e saber que posição tomar quando as coisas aquecerem (acredito que nos próximos meses, tal como a militante do Syriza cuja entrevista está no Esquerda.net).
Um ponto que tem sido ignorado em todas as discussões que tenho acompanhado e que joga a favor dos "nacionalistas" é que se essa situação acontecer em vários países nada impede que a longo prazo criem entre si um mercado comum, mas com políticas de esquerda. Evidentemente que isto terá pouco sucesso se se restringir às economias periféricas, mas hoje já se prevê que a França vai estar em apuros antes da Alemanha, pelo que poderia até vir a liderar a coisa. Se o capitalismo é transnacional o que pode impedir uma nova vaga de ver trabalhadores de várias nações a combatê-lo?
É evidente que não tenho tanta certeza nas minhas previsões, ao contrário parece acontecer no Passa Palavra. É provável que se a Grécia saísse do euro com isolamento e um governo de esquerda, o FMI e a própria UE tudo fariam para que tivéssemos uma outra Cuba embargada na europa, para que todos pudéssemos observar o falhanço do socialismo aqui mesmo ao nosso lado (têm dúvidas que os EUA subsidiariam a existência de uma Cuba decadente?). A eficiência do mercado e o capital que fogem do risco como o rabo à seringa tratariam de contribuir para condenar tal ousadia. Dez milhões é pouca gente, já sabemos. Mas tem de se começar nalgum lado não é verdade? A Grécia é o elo mais fraco da União Europeia. Dêmos-lhe a nossa solidariedade na fila da frente do combate. Assim seremos 20 milhões.
"Acrescento que o teu comentário deixa sem resposta a questão: porque é que será mais fácil inverter as relações de força existentes no quado do isolamento português do que na arena europeia?"
O MSP sabe que nenhum dos "nacionalistas" acha que isso seja mais fácil. Mas continua sem resposta o vosso lado da bifurcação: se a UE quiser chutar a Grécia para fora do euro caso o Syriza ganhe e se recuse a pagar a dívida, V. estará disposto a aceitar mais austeridade por quanto tempo? Tem de existir um limite!
"Como veterana militante na esquerda grega, Bolari participou na formação do Fórum Social Europeu, no movimento contra a guerra do Iraque, no Afeganistão e na criação do Syriza. Poucas horas antes da conferência de imprensa para anunciar a reunião internacional da Esquerda Anticapitalista, em que ela dá apoio a esta formação, falou com o Público [espanhol] sobre a situação do seu país, a aposta política da sua formação e as possibilidades de mudança na Europa."
(http://www.esquerda.net/artigo/situa%C3%A7%C3%A3o-na-gr%C3%A9cia-%C3%A9-t%C3%A3o-inst%C3%A1vel-que-nos-estamos-preparar-para-qualquer-coisa/25654)
Já agora, se alguém neste blog sabe de documentos públicos tratados no âmbito de reuniões do GUE/GNL seria interessante saber o que se debate por lá...
Caro Miguel Serras Pereira (em resposta ao seu comentario das 23:26),
Naturalmente que nao discordo que haveria custos, pelo menos numa fase inicial. Mas qualquer analise, neste caso, tem de ser comparativa, e ja' sabemos que ha custos (e notoriamente elevados) em continuar preso 'as solucoes austeritarias. Em resposta a esses custos possiveis custos iniciais poderia contrapor, como indica, uma maior redistribuicao, bem como uma recuperacao do emprego (dado que a desvalorizacao cambial teria um efeito semelhante ao da desvalorizacao interna, mas sem o enorme custo associado ao desemprego).
Dito isto, naturalmente que nao rejeito que possa ser possivel uma degradacao da situacao que gere um regime autoritario, e que essa possibilidade tem de ser tida em conta. Naturalmente, esse risco e' maior se a saida do Euro for decidida por um governo de direita, como o actual, do que num governo alternativo de Esquerda (mas creio que em comentario algum neguei isto).
Quanto 'a possibilidade de ser mais facil travar esta luta dentro do quadro da UE, nao acho que haja uma resposta conclusiva. Nao vi nenhuma alteracao nos ultimos anos, apesar da enorme acumulacao de evidencias que chocam com as previsoes dos proponentes das doutrinas austeritarias, o que me leva a ter duvidas que a probabilidade de haver alteracoes em qualquer futuro proximo seja elevada. Por outro lado, num cenario optimista em que Portugal e Grecia saissem do Euro (preferencialmente de forma minimamente planeada) e houvesse uma recuperacao de ambas as economias, tal daria forca e poderia ser uma prova inegavel das mudancas que a UE ha muito deveria ter operado (alem de se poderem constituir como uma ilustracao inegavel de vias alternativas e progressistas). E' certo que isso aconteca? Claro que nao, mas tambem nao o e' a sua alternativa.
Note que nao estou a negar quaisquer dos riscos que voce e o JVA referem. Simplesmente, acho errada a rejeicao absoluta que (parece-me) voces defendem de qualquer solucao que possa implicar a saida da ZE.
Quanto ao seu ultimo paragrafo, sobre a afirmacao do Joao Rodrigues: em abstracto, naturalmente que concordaria consigo e preferiria a integracao orcamental e fiscal das periferias (e, pelo que leio ha bastante tempo dos Ladroes de Bicicletas, presumo que tambem eles teriam essa preferencia). Mas, tendo em conta o contexto actual, e principalmente a improbabilidade de qualquer mudanca, a formulacao dele parece-me correcta.
Joao Bernardo,
O seu comentario e' absolutamente desonesto e voce sabe que mente descaradamente.
E nao, referir-se a si mesmo na terceira pessoa, optar por ignorar as afirmacoes sem sentido que fez e as contradicoes em que entrou, e refugiar-se em jargao vazio e pretensamente inteligente nao o livra da triste figura que fez, nem cauciona a absoluta falta de suporte para as argumentacoes categoricas que faz. Ha algumas diferencas entre Economia e Literatura...
Anónimo da 1 e 24 e também Sérgio Pinto
Você escreve: ' O MSP sabe que nenhum dos "nacionalistas" acha que isso [inverter as relações de força existentes no quado do isolamento português do que na arena europeia] seja mais fácil. Mas continua sem resposta o vosso lado da bifurcação: se a UE quiser chutar a Grécia para fora do euro caso o Syriza ganhe e se recuse a pagar a dívida, V. estará disposto a aceitar mais austeridade por quanto tempo? Tem de existir um limite!'
Ora bem, não estou, nem me parece que o JB, o JV ou o JVA, por exemplo, estejam dispostos a aceitar a austeridade. Trata-se de ver e decidir como lutar contra ela.
"Se a UE quiser chutar a Grédia", ou Portugal, "para fora do euro", o que temos a fazer é recusar a "expulsão", reclamar o nosso direito à Europa e o direito da Europa aos direitos e liberdades historicamente conquistados, apelar aos cidadãos da Europa contra os seus governos e as medidas de expulsão, mostrando e afirmando que medidas como essa degradarão inevitavelmente as condições de existência da grande maioria de todas as populações da UE.
Caros Pedro Viana e também Sérgio Pinto
a pergunta que te faço é a seguinte: porque é que identificas o "nós" (quando dizes que podemos controlar o nosso destino e não o dos outros) com os "portugueses", indiscriminadamente, e não com a imensa maioria dos trabalhadores da região que inclui a UE e a zona euro? Porque é que a oposição "nós"/"eles" se faz em termos das fronteiras do Estado-nação e não dos problemas e interesses comuns dos trabalhadores e cidadãos da região a que pertencemos? Não te ocorre pensar que o "controle sobre o destino" dos trabalhadores e cidadãos comuns portugueses passe pela capacidade que tenham de lutar ao lado dos demais no terreno europeu e de modificar as relações de força na UE? Se as nossas perspectivas económicas dependem das exportações, as nossas perspectivas de democratização (tanto defensivas como ofensivas) dependem igualmente da nossa capacidade de exportação da luta e de europeização das reivindicações…
msp
Um comentário anónimo diz: "Um ponto que tem sido ignorado em todas as discussões que tenho acompanhado e que joga a favor dos "nacionalistas" é que se essa situação [ de intensificação das lutas contra a austeridade ] acontecer em vários países nada impede que a longo prazo criem entre si um mercado comum, mas com políticas de esquerda. Evidentemente que isto terá pouco sucesso se se restringir às economias periféricas, mas hoje já se prevê que a França vai estar em apuros antes da Alemanha, pelo que poderia até vir a liderar a coisa. Se o capitalismo é transnacional o que pode impedir uma nova vaga de ver trabalhadores de várias nações a combatê-lo? "
Mas, se as coisas aquecerem desse modo, porque é que a "nova vaga" não aproveitará a oportunidade para rejeitar a secessão e mudar o centro ou núcleo do problema, impondo uma redefinição das regras da zona euro e da UE, uma arquitectura diferente do conjunto?
msp
"Mas, se as coisas aquecerem desse modo, porque é que a "nova vaga" não aproveitará a oportunidade para rejeitar a secessão e mudar o centro ou núcleo do problema, impondo uma redefinição das regras da zona euro e da UE, uma arquitectura diferente do conjunto?"
O comentário parte do pressuposto que vários países, conjunto do qual o elo mais fraco é presentemente a Grécia, virão a ser expulsos do euro/UE.
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