Morreu António Dias Lourenço. Mas se a morte é sempre uma notícia triste, a verdade, confesso, é que, enquanto historiador do comunismo e enquanto historiador comunista, foi sempre com um imenso prazer que teclei António Dias Lourenço no meu computador. E esse prazer repete-se nesta ocasião. Ao longo dos sete ou oito anos que passei a estudar o comunismo em Portugal cruzei-me várias vezes com a vida de Dias Lourenço mas uma das principais razões para o meu encanto pela sua figura resultou do dia em que ao folhear o Mensageiro do Ribatejo, em perseguição de uns textos de Redol que acabei por não encontrar, me ter cruzado com esta balada de sua autoria que vos deixo no fim deste post. Não será uma balada citada pela Heloísa Apolónia na intervenção que fizer em São Bento no dia em que o parlamento se levantar diante da memória do militante comunista. Mas será sempre um pedaço de escrita internacionalista que não cede nadinha de nada. Um homem vermelho como a cor do cimento e a cor da ferrugem.
Eu te saúdo, ó fumo negro das fábricas!
Eu te saúdo!
Aí onde maculas o azul,
Onde rolas ao sabor da ventania,
Há homens que o carvão tingiu de negro,
Homens verdes, brancos, amarelos,
Homens cor do cimento e da ferrugem,
Homens sem raça!
Homens sem cor!
Eu te saúdo, ó fumo negro das fábricas!
Tu que és o negro resíduo
Desse estupendo cadinho
Onde se fundem tragédias.
Eu te saúdo, ó fumo negro das fábricas!
Nessa raça de homens que não têm raça,
Nessa raça de homens que não têm cor.
Eu te saúdo!
Pelos rostos banhados de suor,
Verdes, brancos, amarelos,
Cor do cimento e da ferrugem
Que o carvão risca de negro!
António Dias Lourenço, publicado no Mensageiro do Ribatejo em 1939
08/08/10
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1 comentários:
Até Sempre!
Camarada António Dias Lourenço!
Foste um exemplo a seguir pelas
futuras gerações de Comunistas.
António Carvalho
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