28/10/10

Há quem fique no Restelo e quem avance mar afora

Já ouvimos e lemos mil vezes a litania do nosso monstruoso sistema de ensino, que persiste em empurrar Portugal para o abismo da estupidez e da falta terminal de competitividade. Por isso, sabe especialmente bem deparar com quem não tem pejo em proclamar que «As pessoas cá não têm padrões, é inacreditável. Os exames de matemática em Portugal são mais difíceis que no MIT.»
Agora, adivinhem qual destas posturas tem origem em alguém que está habituado a exportar ideias, inovações e tecnologia, sem complexos nem ataques de niilismo auto-flagelador.

6 comentários:

Justiniano disse...

Rainha, a expressão mar adentro seria mais impressiva, traduziria uma ideia de "alea" que será uma espécie de inerencia da natureza!!
O "mar afora" parece-me coisa assim pela certa, água que não molha!!

Luis Rainha disse...

Essa parece coisa telepática. Estive indeciso.

M. Abrantes disse...

Agora entendi. Os alunos que recebo no politécnico e que não sabem multiplicar devem ter feito a especifica de matemática no MIT.

E os maus resultados dos alunos do ensino pré-universitário em Portugal, vertidos em estudos comparativos envolvendo países europeus, são provavelmente um boato.

Um dos perigos das generalizações à Lagardére é mesmo perder-se qualquer tipo de padrão.

Luis Rainha disse...

E se calhar os estudos PISA, que atribuem uma posição mediana (acima de países como a Itália e bem perto da Espanha) aos nossos alunos de 15 anos, apesar da enorme taxa de retenção que aqui cultivamos, se calhar também anda tudo avariado e você é que sabe.
Por mim, já vou no segundo filho a passar pelo 12.º ano e encontro-os com uma carga de matéria superior à que eu tinha e obrigados a maior exigência, se querem entrar em universidades de jeito.

M. Abrantes disse...

Estar acima de Itália (onde o ensino leva porrada velha dos indígenas) não pode ser motivo de grande satisfação - e resta ver em que parâmetros estamos à frente deles; há um em que não estamos, com toda a certeza, atrás: potencial dos nossos alunos.

Não se trata de eu saber ou não. Trata-se de, por motivos profissionais, e só por esses, lidar com estes problemas.

Quando se ouve dizer que os testes de matemática em Portugal são difíceis, tem que se perceber [sobre o emissor] de que testes se está a falar (grau de ensino, estabelecimento, curso), que perspectiva se tem da matemática, que parte da matemática é relevante para a sua actividade, que experiência se tem sobre o que é a matemática e seu ensino, etc.

Os seus filhos têm cargas de trabalho elevadas? Pois têm. Até lhe posso dizer que se o sucesso se medisse pelas cargas de trabalho, Portugal rebentava com os PISA. O problema é o produto desse trabalho.

Não quero alongar-me mas deixo-lhe 5 pontos que precisam, no meu entendimento, de revisão urgente no ensino da matemática em Portugal: 1) Formação dos professores de matemática (é fraca; cientificamente pouco exigente) 2) Selecção cientificamente exigente dos professores que entram no sistema de ensino 3)Sistema de aferição de conhecimentos (mau; não é só uma questão de tipo de exames - veja as críticas dos especialistas aos exames nacionais; essas críticas não podem perder importância por os críticos não serem testas de grandes empresas tecnológicas - é também o desfasamento entre as notas dadas pelas escolas e as notas de exame, quando estas ficam bastante abaixo daquelas - aqui deveriam ser responsabilizados professores e conselhos directivos; alguém quer saber?) 3) Programas de ensino (sem estar 100% a par, digo-lhe que podiam ser melhores; são extensos e desestruturados; não pode ser mais importante o professor acabar os programas do que certificar-se que são entendidos pelos alunos, e neste momento é mais importante!) 4) Tutela política. Pergunte aos responsáveis do ME que tipo de aluno, quanto á formação em matemática, pretendem obter no fim do secundário. Se tiver uma resposta e a perceber, os meus parabéns à sua capacidade de fechar cenários incompletos, atabalhoados e confusos.

M. Abrantes disse...

4 pontos :)