08/12/11

Europa?

A montante e a jusante deste texto, são muitas e, por vezes, claramente antagónicas, as razões que me opõem a José Pacheco Pereira. Mas pouco ou nada encontro, nas linhas que aqui cito a partir do Abrupto, que não me sinta disposto a subscrever.

Vem aí um novo Tratado europeu imposto pela Alemanha como condição para que possa haver um “governo económico europeu” e que sejam tomadas medidas para “salvar” os países periféricos endividados e a moeda única. Conhecem-se em linhas gerais as intenções deste novo tratado, embora ainda se esteja longe de saber como será, ou mesmo, em bom rigor, se irá avante, dadas as objecções britânicas. Não se sabe também se o Tratado se aplicará apenas aos países da zona euro ou a toda a UE. Com excepção da Alemanha, a perspectiva de um novo Tratado, ainda não arrefecido o nado morto Tratado de Lisboa, apavora todos os chefes de governo europeus, que sabem que há muito tempo andam sobre uma fina placa de gelo, dado o crescente divórcio entre as suas decisões europeias e as opiniões públicas dos seus países. Todos eles, a começar por Sarkozy, fizeram um verdadeiro número de circo para evitar referendos ao Tratado de Lisboa. No caso inglês, Cameron viu-se aflito para quebrar as suas promessas eleitorais de fazer um referendo e sabe que pode contar com uma grande oposição dentro dos conservadores. Nos outros países, os da ala dos necessitados, incluindo Portugal, a atitude é engolir tudo em nome dessa mesma necessidade, com o desespero como conselheiro maligno. Uma elite que jura pela pátria todos os dias ao pequeno-almoço, muito embrulhada na bandeira verde-rubra, depois acha que tudo é aceitável para ter almoço, lanche, jantar e ceia. Aliás, em muitos países é só esperar para ver crescer movimentos nacionalistas e populistas anti-europeus, tendo como alvo a Alemanha e os actuais dirigentes europeus e sequiosa de atirar fora o menino e a água do banho.

É por isso que, a confirmarem-se as disposições conhecidas do novo Tratado em preparação, mais do que nunca se justifica um referendo. Se os anteriores Tratados já o justificavam, este ainda mais o exige. E o mais estranho e doentio nos dias que hoje correm é que esta proposta que parece capaz de, caso haja um “sim” reforçar como nunca a legitimidade do processo europeu, e caso haja um “não” obrigar a outras soluções nos âmbito dos tratados actuais, seja recebida como sendo de um extremismo irresponsável. Na verdade, quem a recusa in limine acha que a resposta será certamente um “não” e como não querem essa resposta, que perturba os grandes planos de fazer uma Europa federal sem apoio dos povos e das nações, nem querem ouvir falar de consulta popular. Só que o federalismo autoritário para que se caminha é um projecto de desastre ainda maior do que qualquer “não”, e acabará de vez com a UE e com a paz que ela tem proporcionado às sempre beligerantes nações europeias. Quem vos avisa, vosso amigo é.

4 comentários:

Niet disse...

O virtuosismo narrativo-pleonástico do uso indiscriminado da linguagem codificada do " double-bind ", tão caro a J.Pacheco Pereira,desta vez pode cair num double-bluff,M.S.Pereira! Cuidado,pois,porque JPP de federalista parece não ter nada, assim como o ideário da facção elitista do seu partido...Quem leia Timothy Gaston Ash ou Ben Chu, discrimina uma análise da aterradora política de perder tempo, de fuga-para-diante que a Alemanha impôs e a França anuiu nos últimos dois anos. E, segundo o editorialista económico do The Independent, a era Draghi no BCE despertou por uma série de antinomias e passos-duplos que não inspiram grande confiança nos " mercados " especulativos, que hoje já se confirmam pelos sinais da Standard&Poors contra a banca privada francesa... E a história paradoxal e surrealista alimentada pelo dueto hegemónico franco-alemão para conduzir o Banco Central Europeu a emprestar ao FMI fundos para este emprestar aos super-endividados PIGGS? Salut!Niet

Joca disse...

EhEhEhEhEh
Até tu, Pacheco?

Anónimo disse...

"Mas pouco ou nada encontro, nas linhas que aqui cito a partir do Abrupto, que não me sinta disposto a subscrever".

ESTA CONFISSÃO É TODO UM PROGRAMA POlÍTICO.
Bom fim-de-semana.

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo das 15 e 43

Não é preciso exagerar - nem tresler.
Não, não se trata de um programa político, mas, sem dúvida, do reconhecimento de alguns aspectos importantes da situação presente, aspectos que nenhum programa político verosímil deverá ignorar.

Atentamente

msp