Qualquer reflexão minimamente crítica da cimeira de Bruxelas, que teve lugar de 8 para 9 deste mês, deverá começar por ter presente que a UE, agora em vias de liquidação explícita, nunca foi uma federação e, menos ainda, uma democracia. E deverá também lembrar, a seguir, que, de longa data já, todos os aparentes passos no sentido de uma maior integração europeia, se fizeram à custa de quaisquer perspectivas, ainda que modestas, de democratização da União. Embora se possa e deva dizer que os países que esta última reuniu estão também longe de ser democracias, o certo é que o quadro da União foi, sem dúvida, utilizado para eliminar as liberdades e direitos de inspiração (ou conquista) democrática dos regimes e constituições dos seus membros. O que, entre outras coisas, permitiu alimentar a mistificação das teses que afirmam uma espécie de afinidade electiva incontornável entre o Estado-nação e a democracia, ao mesmo tempo que adoptam a ideia absurda de uma incompatibilidade definitiva entre a democratização e a via federal.
Seja como for, o certo é que as resoluções da cimeira são uma expressão clara (pois "toda e qualquer esperança de democracia à escala europeia morrerá se este plano for avante", como escreve o Rui Tavares) da vontade e da supremacia oligárquicas, independentemente do juízo que se possa fazer sobre o acerto ou desacerto, do ponto de vista dos interesses da própria oligarquia europeia, das medidas agora adiantadas. Mas, se tanto basta — ainda que muito mais houvesse a dizer — para que não possamos considerar a morte anunciada da UE uma derrota da democracia, isso não torna menos vital nem menos urgente compreendermos que essa morte — e as perspectivas de ditadura, guerra, identitarismo étnico e nacionalismo que antecipa — só poderá ser, tanto na Europa como à escala global, uma derrota para a democracia.
14/12/11
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4 comentários:
Não deixa de ser curioso não ter visto até hoje qualquer movimento de demissão dos chamados deputados europeus, nem individualemnte, nem colectivamente, em repúdio do facto dos poderes factuais Franco-Alemães se estarem a impor sobre a «legalidade» do sistema europeu...
Mais uma vez pode ser feita a pergunta (a mesma podia ser feita a nível nacional): para que servem os deputados? Certamente só para dar uma verniz democrático ao Sistema e alimentarem a ilusão dos eleitores de «participarem» nas decisões políticas...
Acho muito boa esta perspectiva avançada pelo Libertário sobre a inépcia e descaramento com que, os representantes da fraude risível chamada democracia representativa, se tolhem de medo e pânico nos seus " lugares " ao serviço da super-oligarquia política e financeira que " desgoverna " a Europa dos 27. Por outro lado, conforma frisa Michael Hudson, uma crise gerada pela dívida soberana ou/e particular capacita sempre a " élite financeira de cada país/ região e os bancos estrangeiros para sacar(!) o máximo de meios financeiros ao resto da sociedade, usando o seu privilégio em fazer crédito( ou poupanças em crescendo pela diminuição dos impostos progressivos) como uma alavanca para conquistar repentinamente certos objectivos e remeter a populaça para um estado de dívida-dependência crónico ". Robert Fisk num recente artigo compara os banqueiros mundiais com os esbirros Moubarak e Ben Alli´s, verdadeiros donos dos seus países pela perversão da lógica eleitoral que lhes permite(iam) por habilidades e prémios acaparar insaciavemente a riqueza dos povos. Dean Baker, Mark Weisbrot e mesmo Martin Wolf defendem uma União Fiscal e Monetária como solução para a crise do Euro.Tudo isso implica um processo federativo longo e democrático,claro. É o que Conh-Bendit e Joascher Fischer defendem, pela dinâmica de um realismo político de alta perfomance.Há também uns avisos muito sólidos avançados por T.Garton Ash e Michel Rocard de inspiração neo-keynesiana e de forte contestação às teses do monetarismo-fetichista caras à oligarquia alemã sintonizada com a eng.a Merkel...Niet
"os representantes da fraude risível chamada democracia representativa"?
Já agora, com tanto tradutor por aqui não há quem ensine o Niet a escrever?
Anónimo das 20,30-Como é ignorante e mal-intencionado, nem vale a pena perder tempo a sinalizar de quem é essa expressão, percebido? Niet
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