21/12/11

Teorema

Os que avalizam ditaduras noutros países, invocando o direito de cada povo a determinar o regime que o governa, enunciam, de facto, o seu desprezo por essa forma de governo dos cidadãos, pelos próprios cidadãos e para os mesmos cidadão — ou governo do povo, pelo povo e para o povo — que a democracia visa politicamente instituir, ao mesmo tempo que reiteram a vocação de ditadores que os move e que, contra qualquer forma de cidadania livre e responsável, anima a sua concepção classista e hierárquica do governo e do exercício do poder.

3 comentários:

Libertario disse...

O problema será em definir os contornos da "ditadura"e da 'democracia"e como se torna "legitima"a intervenção externa...As intervenções das grandes potências, em particular USA e URSS, no século XX e dos USA nos últimos anos tornam difícil essa discussão em termos simplistas. Por isso continuo a pensar que cada povo deve contar com as suas próprias forças para derrubar os grupos dominantes contra os quais tenha razões de queixa e não esperar que outros Estados lhes resolvam os problemas...

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Libertário,
não foi o problema, sem dúvida tão importante como exigente, da "intervenção externa" ou das suas condições de legitimidade que eu quis discutir (Onde começa e acaba cada povo, por exemplo? Ou: porque teremos de aceitar as fronteiras do interior/exterior definidas por um Estado, etc., etc.?)
Trata-se somente de sublinhar o absurdo de invocar o direito de cada povo a decidir que regime quer dar-se para justificar formas de governo que se definem por lhe negar - ao "povo" em causa - o direito de decidir disso mesmo.

Abraço

miguel (sp)

Libertário disse...

Obviamente eu também concordo que cada povo tenha o direito de decidir o regime, ou melhor o sistema, em que deseja viver...
A questão é outra: será que os povos costumam poder decidir sobre o regime, ou o sistema, em que vivem ou desejariam viver?
Pois se efectivamente o sistema fosse resultado da vontade real, maioritária, e claramente, expressa por mim podiam até viver em regime canibalista desde que só se comessem uns aos outros. Mas nesse caso as minorias, ou os que não desejassem ser comidos, deveriam ter assegurado o direito a mudar de país...