13/05/12

Lição de grego (5)

Se, na Grécia, depois da reunião que em breve terá com o Presidente da República,  a quem compete tentar formar um governo depois de as iniciativas partidárias nesse sentido terem falhado, o Syriza se disponibilizar — contra todas as expectativas razoáveis e contra tudo o que tem afirmado — a participar nessa solução, haverá boas razões para que se afirme que terá capitulado. E, naturalmente, como muitos outros, será esse o juízo do KKE, na Grécia, e dos seus apoiantes de vanguarda, em Portugal. O que me arrisco a prever, sem grande receio de errar, é que, se o Syriza não aceitar colaborar num governo "pró-troika" e precipitar as novas eleições, que o KKE tem reclamado como única solução, o KKE e os seus apoiantes de vanguarda lusitanos demonstrarão a sua originalidade dizendo que isso será mais uma manobra do Syriza destinada a enganar o povo grego, uma vez que essa posição aparentemente radical se destina a impedir a verdadeira radicalização da luta contra o imperialismo da UE, pois a "nova social-democracia" — mais perigosa, decerto, do que a velha e já desmascarada, e como irmã gémea do fascismo que é — não pode, faça o que fizer, fazer outra coisa. E, assim, até mesmo quando reclama alguma medida que o KKE também reivindica (as novas eleições, na circunstância), é contra o KKE que continua a agir, na vanguarda da contra-revolução.

3 comentários:

João Valente Aguiar disse...

«Em 1934, com os nazis no poder há mais de um ano e com as prisões alemãs cheias tanto de comunistas como de sociais-democratas, a 13ª reunião plenária do comité executivo da Internacional Comunista decretou, numa das suas resoluções, que «a social-democracia continua a desempenhar a função de principal apoio social da burguesia mesmo nos países em que vigora declaradamente uma ditadura fascista».

Retirado daqui: http://passapalavra.info/?p=5364

Natural, mas infelizmente, os que continuam a preferir avaliar a política como se de uma religião se tratasse, vão continuar a andar em volta de teses delirantes. Não que eu, longe disso, faça o elogio do Syriza, mas colocar esta organização (que tem os seus erros e alguns aspectos conciliadores) no mesmo plano das forças políticas pró-troika acaba por ser extremamente perigoso. Enfim...

Miguel Serras Pereira disse...

É isso mesmo, João.E acresce que o facto de, para certas forças que se distinguem pelo ardor que põem no "delírio", se tratar de uma atitude suicida não torna a sua deriva menos perigosa.

msp

Xavier Brandão disse...

A estupidez e sectarismo do KKE são de tal ordem que se torna um partido perigoso para o avançar das ideias de esquerda. Vejam bem o que se escreve num artigo do Le monde diplomatique, que também devem ser uns sociais democratas disfarçados (link: http://www.monde-diplomatique.fr/carnet/2012-05-08-Grece ):

«M. Tsipras va conserver le plus longtemps possible le mandat qu’il reçoit ce 8 mai. Pendant ces trois jours, il va répéter inlassablement son message d’unité de la gauche, que le PC et la Dimar ont formellement rejeté avant les élections. Cette fois, il va aller plus loin, proposer des congrès communs, tendre la main aux écologistes (qui n’ont pas pu franchir le seuil de 3 %), aux maoïstes, aux léninistes, aux trotskistes, aux dissidents du PC, à toute la galaxie des partis de la gauche. But inavoué et vœu cher à tous les Grecs de gauche : faire imploser le PC pour le reformer sur de nouvelles bases et donner à la gauche grecque sa juste position dans la société.»