30/05/12

O “custe o que custar” explicado às crianças

Este país não é mesmo para velhos; nem para novos. Dando tinta oficial ao palpite comum de que a austeridade está a corroer sobretudo as vidas mais frágeis, a UNICEF veio explicar-nos que quase um terço das crianças portuguesas vive em condições de pobreza. Nos 35 países analisados, só quatro nações do antigo bloco de leste estão pior do que nós.
Se a senhora Christine Lagarde tivesse vagar para estes assuntos miúdos, ainda nos recomendaria que seguíssemos todos o exemplo da Casa Pia, que alugava os seus meninos para testes clínicos, financiados por governos do mundo civilizado. Isto para não chegarmos à “modesta proposta”, de índole mais culinária, de Jonathan Swift, já velha de séculos mas agora de novo tão actual.
Em Fátima, centro comercial-religioso fundado sobre a memória de três crianças, lá se bateram recordes de velas queimadas, com legiões de crentes a pé, de autocarro ou de joelhos em busca de respostas divinas às suas aflições. Deve ser sina lusa, esta ideia de recorrer a entes invisíveis em vez de modificarmos a vida enquanto por cá andamos e com as ferramentas que temos à mão, começando pelo voto. Mas quem espera pelos favores da Virgem também deveria ter em conta a forma como ela tratou os seus dilectos videntes, da famosa ameaça “Ides, pois, ter muito que sofrer” à confirmação de que Deus andava muito satisfeito com as cordas que os pastorinhos amarravam à cintura para aprimorar o seu martírio.
Se calhar, este Portugal nunca devia era ter tido filhos.

2 comentários:

Libertário disse...

Não posso deixar de achar curioso que este blog dedique tão pouca atenção a um dos temas mais actuais,e escaldantes,da nossa realidade política: a questão dos serviços de informação. Principalmente porque este caso põe a nu a natureza de facto de direito, dos acordos ocultos entre os grandes grupos e os aparelhos de estado, os esquemas mafiosos que unem políticos e empresários e o pacto de sangue entre todos os partidos do Poder...Para lá do que demonstra de como são tratados os chamados direitos fundamentais dos cidadãos.

alexandra disse...

Bom post!