18/08/10

A Propriedade e o Estado

[A respeito disto e disto]

É verdade que a última coisa que a esquerda deve sacralizar é a propriedade privada; mas é boa ideia não confiar também muito no Estado como "transferidor" da propriedade.

Mais exactamente, se no contexto político actual o Estado fosse expropriar terrenos florestais mal-cuidados, não seria para depois os transformar em "colectivos de produção florestal" ou em "parques naturais públicos"; mais provavelmente seria para depois os vender (quiça a um preço módico) a empresas de celulose com o argumento de que "estas cuidam bem das suas matas". Aliás, leia-se os artigos de opinião que têm sido escritos sobre "a floresta mal-cuidada" e vê-se que os autores,normalmente, depois de cascarem nos proprietários que "não ligam nada" aos seus terrenos, na excessiva parcelarização, etc. fazem o contraste com as matas propriedade das empresas de celulose, estas supostamente "bem geridas".

Indo mais longe, arriscaria-me a formular uma regra geral: expropriações feitas com o argumento de "tirar a quem aproveita mal para entregar a quem aproveita bem", quando não vêm acompanhados de um objectivo explícito de distribuir mais igualitariamente a riqueza, têm normalmente o efeito de "tirar aos pequenos para entregar aos grandes". Aliás, grande parte da chamada "acumulação primitiva de capital" consistiu nisso - no Estado confiscar terras aos seus proprietários ancestrais para os entregar elites favorecidas com o argumento de que seriam mais "eficientes".

2 comentários:

Niet disse...

Oh. Miguel Madeira: Estamos em férias mas, para um libertário,a sua análise peca- e isso terá importância- por um penchant excessivo pela lógica do Estado. Eu, que divulguei mais Castoriadis e Bakounine nos últimos anos na Blogosfera,desde os idos de 70 via Imprensa alternativa, apesar da microscopia analítica do excelente e levemente equivocado MS Pereira, não seria capaz de
escorregar na sua "tolerância" democrática, meu caro. Como diz o Castoriadis," sob o despotismo, ou sob a oligarquia- e mesmo sob a " democracia" restrita,parcial sob a qual vivemos- um povo está condenado a não ter memória- ou a sofrer uma pseudo-memória fabricada, o que vem dar ao mesmo ou para pior". Salut! Niet

Anónimo disse...

Nesta questão estou mais de acordo com o 31 da armada do que com os posts prévios do vias de facto. É que, de facto, muitos incêndios têm começado em matas do Estado. Portanto, é um falso argumento o de a expropriação melhorar o desempenho de Portugal neste campo. Não que concorde com a propriedade privada da terra, note-se.