Cada tiro, cada Raposo

Começo a convencer-me de que o Henrique Raposo é um alienígena. A sério. Qualquer ser humano diz ou escreve, de quando em vez,  uma asneira ou outra. Com o HR nada se passa assim: a criatura é incapaz de escrever um texto com mais de 100 caracteres sem meter água. Não falo de disparates relativos, questões de opinião e de ponto de vista. Falo de factos. E não se trata apenas de inventar argumentos para sustentar mais uma alucinação; é mesmo uma coisa patológica, quase sobrenatural.
Veja-se o que ele tem a escrever acerca das nossas origens nacionais: "Na ONU, se os países fossem ordenados pela antiguidade, Portugal só seria suplantado pela China e Inglaterra. E se o critério fosse a imutabilidade das fronteiras, então, até os chineses teriam de se curvar perante o ancião tuga". Assim falou o nosso enviado aos "corredores da investigação", como ele modestamente descreveu uma vez o seu habitat.
Por onde começar?  Talvez pelo começo: não existe qualquer país de nome "Inglaterra" que seja membro das NU - o bom Raposo devia ter em mente sim o United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland.
Depois, nem vale a pena discutir se a China ou a Índia ou a França ou a Pérsia/Iraque serão as nações mais idosas do mundo, se as suas fronteiras mudaram em dias recentes (Olivença também já foi nossa, mas enfim) ou se uma perda temporária de independência coloca o relógio a zero (lembram-se da União Ibérica?). Certo, certo é que San Marino já existe desde o ano 301, mantendo até agora as suas fronteiras. E é membro da ONU.
Tenho ideia de que as colunas do Expresso são pagas. Não seria boa ideia justificar algum do dinheirito recebido e começar a gastar cinco minutos em pesquisa sumária?
Depois destes prolegómenos, a crónica segue por um confuso e banal rebobinar das lengalengas sobre as maldades da I República. Pouco melhor ou mais claro do que se fosse obra da Marta Rebelo. Saltemos então para a derradeira frase: "não, não sou monárquico. Mas também não sou parvo." Acaba assim a coisa com mais uma mentira, palpita-me.