— Comentário de André
Data: 9 de Outubro de 2010, 13:59
“O que seria necessário seria paralisar o país, impedir o governo de levar por diante esta nova versão do PEC, sabotar “o normal funcionamento das instituições”. —Um plano brilhante, Miguel. Depois de paralisarmos as instituições e o país, poderíamos organizar pequenas assembleias deliberativas onde participariam cidadãos resolutamente autónomos que, com grande clarividência, constituiriam uma nova e vibrante democracia participativa, destituída de perversões e de contradições. Tudo isto em plena guerra civil. Seria uma experiência fantástica. Mal me consigo conter.
—Comentário de António Figueira
Data: 9 de Outubro de 2010, 15:34
O que eu mais aprecio em msp é o seu agudo sentido prático, que – por acaso, sem dúvida – me parece sempre inversamente proporcional à praticabilidade de qualquer objectivo útil a atingir. Haja pachorra – eu não tenho. Deve ser um problema meu: não devo ser “resolutamente autónomo”, como diz o André, cheio de graça (and whatever that b. may mean).
Publico aqui a resposta a estes comentários, na esperança de contribuir para uma perspectiva de superação das deficiências e distorções assinaladas pelo Pedro, que hoje volta aqui à carga a propósito de um outro post do Nuno Ramos de Almeida.
André e António Figueira,
não fui [eu] que antecipei cenários de tomada do poder através da guerra civil. Assim, é muito fácil, mas não se passa da caricatura.
Falando em termos práticos, só o poder – ou contra-poder – trava o poder. E é disso que se trata: de impedir as medidas ditadas pela oligarquia financeira aos seus subordinados políticos. Tal é o objectivo útil a atingir. Pela força dos trabalhadores e das camadas populares que, com eles, formam a imensa maioria dos homens e mulheres na(s) nossa(s) sociedade(s). Isto, quanto ao primeiro ponto.
O segundo tem a ver com o propósito de não ficarmos pelo protesto, de reconquistarmos direitos e reimpormos limites às direcções governamentais e governantes (estatais ou económicas). Também aqui a auto-organização dos trabalhadores e outros cidadãos, o seu desenvolvimento progressivo ao longo da acção, será a melhor maneira de travar a ofensiva “neoliberal” do capital financeiro e dos seus subordinados “políticos”.
Uma greve faz-se para causar estragos nas fileiras e interesses dominantes e não só para marcar convicções ou à laia de protesto. É impossível combater sem lesar o funcionamento normal das instituições de um regime que assegura a perpetuação e visa a extensão dos privilégios e poderes discricionários das oligarquias económicas e administrativas do capitalismo. O post do Pedro Viana que cito mostra-o bem, e bem lucidamente, muito terra a terra.
Se há garantias de sucesso de um movimento reivindicativo mais ou menos nos moldes do que o Pedro Viana evoca e eu tento delinear com ele? Não, não há garantias e as condições iniciais não são famosas. Mas, desde quando, é que não devemos tentar que os objectivos de uma greve geral sejam efectivamente atingidos e superem os obstáculos que ameaçam transformá-la num gesto puramente simbólico?
Há que ir para as negociações – cuja necessidade não nego – numa posição o mais forte possível. E essa posição será tanto mais forte quanto mais a pressão exercida impedir o governo de governar como se propõe e os interesses económicos se reforçarem a sua dominação nos planos legislativo, institucional, dos locais de trabalho, etc.
Ou será que o André e o António entendem que, no fundo, os objectivos que greve estipula como metas não são para cumprir, que é preciso proclamá-los por princípio, mas não os levar muito a sério, pois que levá-los a sério seria prematuro? Tal é, no mínimo, uma posição perigosamente próxima das de alguns responsáveis do PS que lamentam e acham injustas as medidas do governo, mas entendem que tem de ser assim, pois não há alternativa. Digamos que quem entende que os objectivos proclamados pela manifestação não podem ser alcançados e que não nos devemos interrogar sobre o modo de os fazer prevalecer se distinguem apenas desses responsáveis do PS porque protestam – mas protestam partindo do pressuposto de que não há alternativa àquilo que é alvo do seu protesto, o que quase os identifica com aqueles de que fazem gala em distinguir-se, ao mesmo tempo que retira força e credibilidade à sua posição.
4 comentários:
«Falando em termos práticos»?
Prático menos prático não há!!!
Caro Miguel SP, concordo, claro, com tudo o que afirmas no comentário que fizeste ao post do NRA, e que transcreves neste post. Nesta discussão, não deixa de "espantar" que quem habitualmente é etiquetado, de modo prejorativo, como social-democrata e reformista, ou seja nós, tem uma posição bem mais radical que quem ainda recentemente se afirmou revolucionário (NRA) ou quem faz questão de se afirmar como o "puro comunista revolucionário" (Carlos Vidal). Ironias...
Nunca me descrevi como o "puro comunista revolucionário".
Sou um crítico de arte. Mais nada.
CV
Se mo permitem, deixo aqui um conselho, na linha de uma série " ontológica " que tenho publicitado, em cadência cada vez mais vertiginosa e alarmante: " É preciso romper com o que nos resta de dogmatismo e com o que, no nosso perfeccionismo super-relativo, não é senão negativismo e inibição. Existem um certo número de pontos programáticos fundamentais, sobre os quais devemos ser extremamemte estritos e determinados: Gestão operária, poder dos Conselhos Operários, inanidade do reformismo, destruição da hierarquia, ígualdade dos salários,democracia directa, direito à informação total"(C.Castoriadis). Liberté et Égalité. Niet
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