01/10/10

Regressar ao esperanto

Entre os apoiantes do governo e os críticos do governo situados à sua direita, dá-se hoje, no que se refere ao apuramento da causa da crise, uma contraposição de argumentos que, porém, não deixam de ser simétricos. Do lado do PS, de António Costa a Vital Moreira, a culpa do estado a que o país chegou é da crise internacional. Tudo ia bem até que os malandros lá de fora começaram a fazer das suas. Do lado do PSD e CDS, essa coisa do lá de fora é apenas desculpa de mau pagador e e é a incompetência do governo que explica o estado a que isto chegou. Ora, o que se pergunta é se esta gente acredita mesmo nisto do "lá fora" e do "cá dentro". Não é preciso ter grande capacidade de síntese, ou sequer abusar dela, para compreender que existem correntes político-ideológicas e posições económico-sociais que, de modo mais ou menos difuso, mais ou menos matizado, atravessam fronteiras. A partir de Portugal é relativamente fácil perceber isto: olhem para a figura de Durão Barroso e nele procurem distinguir o que é "lá fora" e o que é "cá dentro". Vital Moreira, o próprio, quando escreve em termos como o "cá dentro" e o "lá fora", convinha lembrar-se que o seu rabinho está sentado em Bruxelas e em Estrasburgo. Eu sei que tudo isto que para aqui escrevo é básico e elementar mas convém lembrá-lo. Hoje mais do que nunca. Aliás, convém lembrar a nós próprios, situados à esquerda do PS. A crise que aí está é uma crise para durar. Dela podemos sair pior ou melhor mas nunca ficaremos na mesma. E uma das questões centrais neste dilema será a questão nacional. O que acontece com a expulsão dos ciganos em França foi grave mas mais grave ainda foi a incapacidade de sobressalto face ao sucedido. Uma das primeiras tarefas dos que se situam à esquerda do debate entre PS e PSD é recolocar na ordem do dia a internacionalidade da crise. Não temos que culpar Sócrates mais do que culpamos a aristocracia financeira global, como fazem o PSD e o CDS; nem temos que culpar a aristocracia financeira global mais do que culpamos Sócrates, como faz o PS. Temos, isso sim, que voltar a aprender a falar esperanto, mesmo que seja em português ou em "mau inglês".

1 comentários:

Francisco Castelo Branco disse...

novidade :

é Durão Barroso pedir responsabilidades ao seu partido de sempre, o PSD