14/10/10

Vive la France!


Em França a greve geral tem como objectivo paralisar o país, e forçar o governo a negociar, antes que as medidas contestadas sejam definitivamente aprovadas. Por cá, Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, dá uma entrevista ao Público que prima pela inocuidade... enquanto prepara uma inofensiva greve geral, para bem depois da aprovação das medidas que pretensamente a justificam.

11 comentários:

m disse...

Estou de acordo com as análises que tem feito sobre a greve geral. É de admirar que pareça ser uma opinião tão minoritária.

Anónimo disse...

Continuo há semanas à espera que alguém, me demonstre que a VOTAÇÃO FINAL GLOBAL do Orçamento é ANTES da Greve Geral.

Se não conseguem demonstrar, então haja lisura política e intelectual e deixem de sentenciar que a greve geral se vai realizar depois das medidas aprovadas.

Luis Rainha disse...

«Jorge Lacão, ministro dos assuntos parlamentares, assumiu hoje que o governo não se vai atrasar na entrega do Orçamento do Estado para 2011 mas pediu uma antecipação em uma semana da cotação do documento na generalidade. O ministro justificou com a necessidade de se dar "um passo na desejável estabilização da situação política". A proposta não reuniu consenso mas acabou por ser aprovada. Assim, em vez de ser discutido e votado em plenário na primeira semana de Novembro – três semanas depois da entrega na Assembleia da República – o Orçamento do Estado será discutido no dia 28 e 29 de Outubro, neste último dia onde será votado.»

Pedro Viana disse...

Caro Vítor Dias,

A citação do Luis Rainha demonstra aquilo que sabe muito bem: a votação do orçamento na generalidade vai ocorrer 1 mês antes da greve geral. Esta é a votação que interessa. A votação final global, após as votações na especialidade, é praticamente irrelevante: depois da votação na generalidade passa a haver um comprometimento político impossível de quebrar, e não vão ser as discussões na especialidade que vão mudar radicalmente o orçamento, como é necessário. De qualquer modo, tudo aponta para que a votação final global ocorra no máximo no dia 26, antes da greve geral, como pode constatar por esta notícia:

http://economico.sapo.pt/noticias/orcamento-e-votado-no-parlamento-a-29-de-outubro_100846.html

Nela também pode ler as deguintes palavras de Jorge Lacão, Ministro dos Assuntos Parlamentares:

Desta forma, acrescentou, é dado "um passo na desejável estabilização da situação política", já que após a votação do Orçamento na generalidade se ficará a perceber se o documento "está efectivamente viabilizado na Assembleia da República".

Portanto, deixe de atirar poeira para os olhos.

Ainda, a data da greve geral não é o único problema. Mais grave ainda é que com esta não se pretende mais do que um inócuo "marcar de posição", como se pode constatar pelo ocos discursos que vamos ouvindo por parte dos dirigentes sindicais. Não há qualquer intenção de criar uma situação de ruptura que force o governo a negociar.

Miguel Serras Pereira disse...

Bem respondido, Pedro e Luis.
O certo é que uma greve geral só tem sentido se corresponder, coroar, preludiar ou acompanhar, uma mobilização e formas de luta que apostem em tornar impossível a normalidade enquanto os governantes insistirem na aplicação das medias formuladas pelo OE. Tal é também a via da tomada de consciência de que as coisas, a política e a economia, podem ser diferentes, podem fazer-se de outro modo.
Se isto é esquerdismo, não sei nem me interessa saber. Interessa-me, sim, que me digam para que serve uma greve geral senão para forçar a oligarquia dos dirigentes governamentais e da economia a capitular, forçando-os a recuar e fazendo avançar a força democrática dos trabalhadores e cidadãos que reivindicam os seus direitos e liberdades.

Abraço para ambos

miguel sp

Anónimo disse...

Para Pedro Viana,Luís Rainha e outros:

Convém-vos dizer que a votação na generalidade arruma tudo quando, mesmo em outros Orçamentos, se viu que não arrumava tudo.

Mas não se atrevem a dizer que, com ela, o Orçamento entra em vigor.

Se fosse como dizem, eu até não me importava de dixer: «pois bem, aprovem na generalidade e não façam mais nenhuma votação depois !».

Depois, havendo quem diga aí atrás que a votação final global será a 26 (presumo que só possa ser de Novembro, eu cá pensava que 26 era depois de 24 mas devo estar enganado...

Por fim, quanto à pressa, sem ofensa, é o costume: quem nãio faz talvez a mais pequena ideia do que é o trabalho de organizar uma greve geral e pensar que isto é só apitar, é claro que vai ser sempre achar que 24 de Novembro é tardíssimo.

Pedro Viana disse...

Caro Vítor Dias,

Teoricamente, quanto mais tempo houver para organizar uma greve geral maior será a mobilização que se conseguirá. Na prática, a adesão a uma greve depende antes de mais da motivação dos trabalhadores. E essa motivação depende fortemente da raiva que sentem e da utilidade que julgam poder ter a greve. Ora, por estas razões é agora que essa motivação está no máximo. Daqui a (mais de) um mês teremos uma greve muito bem organizada, muito alinhadinha, com toda a gente a marchar a perceito... excepto os muitos que se sentirão impotentes para mudar seja o que fôr no OE2010, porque efectivamente tal não será possível, por mais fantasias que alimente sobre chumbos à última hora do OE2010.

á de moura pna disse...

Em França a Assembleia Nacional e o Senado já aprovaram a alteração da idade mínima das pensões e as greves continuam.
Por cá, em vez de mobilizar-se todos os trabalhadores para a Greve Geral continua a questionar-se a sua realização no dia 24 de Novembro. Porque é tarde. Dizem. Porque depois de aprovado o Orçamento não há nada a fazer. Como se a luta dos trabalhadores se devesse cingir à aprovação ou rejeição de um orçamento ou à queda de um governo e não fosse uma luta permanente contra a política que lhe está subjacente.
O dia 24 de Novembro não é tarde. Nunca é tarde. O que é preciso é que seja uma jornada grandiosa de luta. Que continuará no dia seguinte. E por aí fora. Dos fracos e chorões não reza a história. É tempo de deixar de chorar. Quem quer lutar contra esta política só pode fazer uma coisa: MOBILIZAR! MOBILIZAR!

Pedro Viana disse...

Olhe que está enganado, à de moura pna...

"O Governo acusa as estruturas sindicais e a Oposição de esquerda de darem mostras de “irresponsabilidade” ao defenderem a participação de jovens nas acções de protesto. Ao mesmo tempo, a esquerda no Senado intensifica o braço-de-ferro, protelando a votação da versão final do diploma para 20 de Outubro. Isto quando há mais de 800 emendas ao projecto de lei em cima da mesa."

http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Sindicatos-prometem-manter-o-combate-contra-a-reforma-das-pensoes.rtp&article=383397&visual=3&layout=10&tm=7

De qualquer modo, a questão não é as greves continuarem depois da aprovação de tais medidas. Porque elas começaram antes. O problema é quando se convoca graves sabendo de antemão que muito provavelmente terão lugar depois da tal aprovação. Mas que fique bem claro que apoio a greve geral convocada. Não vou é deixar de criticar os dirigentes sindicais pela sua "timidez".

Miguel Serras Pereira disse...

Caro e claro camarada Pedro Viana,
subscrevo esta tua resposta. E preciso que apoiar a greve geral convocada deve passar, para que ela seja bem sucedida, pela sua inscrição num movimento grevista e/ou de outras formas de luta que, como costuma dizer-se, façam a vida impossível ao governo e inviabilize o funcionamento normal das coisas na esfera da economia e da produção. Democraticamente, uma jornada de luta não se avalia pela grandiosidade do espectáculo que fornece, mas pelos resultados que obtém, pelas mudanças que consegue operar na situação e consciência política dos trabalhadores e restantes cidadãos que são a grande maioria de uma sociedade. Essa mudanças traduzem-se em novas ou simultâneas iniciativas, formas de luta, comités de acção. Na sua extensão e sempre que possível coordenação com outras iniciativas, comissões de luta engendradas pelo próprio movimento. Sem esquecer o plano internacional e, no imediato, europeu em que é uma urgência inadiável a confluência dos protestos e das formas de oposição que bloqueiem o regresso á normalidade.

Abraço solidário

miguel sp

á de moura pna disse...

A votação final. Cá a votação final também será depois. Mas nem isso é importante. O importante é que se lute. Nada tenho contra a crítica. Não serei suficientemente crítico, eu? Acontece que ao navegar pela blogosfera a crítica se tem sobreposto à mobilização. São tímidos os dirigentes sindicais? São. E os trabalhadores vão pactuar com essa timidez? Os dirigentes sindicais escolheram o dia 24. É tarde? Contribuamos para que seja cedo. Empregados, desempregados, precários, reformados, estudantes. Todos, contra a timidez! Para que esta greve não seja apenas um «marcar de posição».