14/10/10

Ainda sobre o "modelo chinês" — com ligação directa para um post do Rui Bebiano

Vale a pena, por isso, lembrar neste momento de alegria [perante operação bem sucedida de resgate dos mineiros chilenos] a situação catastrófica dos mineiros chineses, com índices de sinistralidade e de mortalidade – associados a condições de trabalho e salariais miseráveis – verdadeiramente inconcebíveis. Estudos recentes apontam para cerca de 1.000 (mil, não é engano) mortos por ano, correspondendo a 80% do número de fatalidades ocorridas em todo o mundo quando a produção mineira da China é apenas de 35% da global. Em 2006, e de acordo com os números oficiais, o número de mortos foi mesmo de 7.500. Um acidente praticamente em cada 7 dias, a maior parte sem referência nos meios de comunicação e nenhum deles com um décimo da atenção mediática dada ao acidente de San José. Será de recordar estes dados aos responsáveis do partido político português que calam os crimes diários praticados na China contra os trabalhadores mas se preocupam tanto com a atribuição do Nobel da Paz ao activista dos direitos humanos Liu Xiaobo. É que uma sua posição de denúncia, a ser feita na devida altura e sem rodeios, seria por certo um gesto internacionalista capaz de «contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre os povos». Passe a expressão que de há muito trataram de tornar inócua.

E já agora, como não ver que, para animar a malta da casa — que bem precisa disso para lutar contra os esbulhos da oligarquia dirigente — em vez de apoiar os desígnios globais da grande potência exploradora chinesa, invocando a sua rivalidade com os  EUA, como certos aspirantes a guias da classe operária propõem, o melhor que podemos fazer é deixar claro como água que a transformação democrática da exploração e da prepotência hierárquica e classista em poder do auto-governo dos cidadãos que visamos nada têm a ver com o regime da RPC, e que, se não podemos desistir do combate, é precisamente para travar os que por cá nos querem reduzir às condições de precariedade, sobre-exploração e ditadura vigentes na China — do mesmo modo que é tanto por solidariedade como em legítima defesa que devemos apoiar os que lá se batem contra um regime que disputa avidamente os primeiros lugares entre a vanguarda da ofensiva da economia dominante contra os trabalhadores e a imensa maioria das mulheres e homens de todo o mundo?

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