19/12/11

Leitura recomendada: Russian Bill, nos Ladrões de Gado, sobre um comunicado do PCP

Célere e atenta como sempre, a Joana já chamou a atenção para o post de Russian Bill, nos Ladrões de Gado, que lucidamente comenta a inépcia incomparável do comunicado do PCP sobre o óbito do coriféu máximo do regime norte-coreano. Aqui fica também a chamada da atenção para o mesmo texto. Resta apenas dizer que, antes do triunfo da "bolchevização" na URSS, acompanhado da abundante sangria que se sabe nas próprias fileiras bolcheviques, que conseguiu fazer com que a palavra "socialismo" passasse a ser usada, um pouco por todo o mundo, como nome oficial do que era o contrário absoluto, e ponto por ponto, do que até então se entendia e visava por "socialismo" — resta dizer, pois, que, até essa viragem regressiva e catastrófica, qualquer socialista consideraria um objectivo prioritário o derrubamento de qualquer regime semelhante ao de Kim Jong-Il, e acharia um gracejo de mau gosto que alguém invocasse o direito à "independência nacional" a seu propósito, ou, a seu propósito, falasse do "direito que lhe assiste a determinar o seu rumo próprio de desenvolvimento em condições de paz e não ingerência nos seus assuntos internos".

6 comentários:

Sérgio disse...

Isto é incrível! Às vezes não compreendo em que Mundo vive esta gente... Tudo o que se diga sobre a morte de Kim Jong-Il que não seja "já vai tarde", "lamento profundamente, pelo povo coreano, que este idiota e o pai dele tenham sequer nascido", "se tivesse que escolher entre salvar um bonsai com bigode ou a vida do Kim Jong-Il salvava o bonsai" ou "hoje morreu uma pessoa que foi tão útil para a Humanidade como o vírus da SIDA" é estúpido.

Libertário disse...

Quando no século XIX e começo do século XX o movimento operário e socilista lutaram contra o capitalismo e pela Revolução Social jamais imaginaram que um dos futuros possíveis desse combate seria instituir um novo poder ainda mais arbitrário, autoritário e explorador do que o da velha burguesia. A Coreia e a China são exemplos caricatos e surpreendentes dos rumos do «comunismo». Razão tinha já Proudhon e Bakunin quando anteciparam o desastre do «socialismo de Estado».
Se há um resultado positivo de toda essa experiência do século XX, que se prolonga ainda hoje, é de permitir concluir que os caminhos da transformação social e do fim do capitalismo que queremos não passa pelo Estado,nem por uma pequena vanguarda...

Anónimo disse...

Caro Libertário: Uma pequena deixa para aprofundar a sua visão justa, dinâmica e humanamente superior. Do meu ponto de vista, Marx e Bakounine ainda partilharam muitos estigmas e aporias para a construção de um (im)pensável processo de autonomia político e social. O comunitarismo/dfederalismo de Proudhon recuperou hoje muitos pontos para o dispositivo de libertação radical da sociedade, no entanto. Mas, o tempo urge, e traçolhe este ângulo de visão, a qualificar ainda mais em pormenor noutra oportunidade,claro." A história é o domínio da criação humana;esta criação está submetida a certas condições, mas são condições que lhe traçam um quadro,não a determinam. A ideia de que possa existir uma " teoria " de transformação social é uma das ilusões catástróficas de Marx, conduz à ideia monstruosa de ortodoxia, que o marxismo foi o primeiro a introduzir no movimento operário. Mas se há ortodoxia, há dogma; se há dogma, há guardiães do dogma, a saber Igreja, a saber Partido. E se há guardiães do dogma, há Inquisição, há KGB ".(...) Os elementos democráticos que subsistem nas sociedades ocidentais ricas de hoje não são produto do capitalismo, mas resíduos das lutas democráticas dos povos, e muito particularmente do movimento operário. Mas este movimento foi a partir de certo momento desviado pelo marxismo, depois pelo marxismo-leninismo, que nele introduziram a ideia de ortodoxia, a ideia de um papel dirigente( e, de facto, a ditadura) do Partido, um messianismo mistificador e pseudo-religioso, o desprezo pela actividade criadora do povo, e o imaginário tipicamente capitalista do carácter central da economia e da produção. Se tudo o que nos interessa é o aumento da produção e do consumo, podemos ficar com o capitalismo; são coisas que ele consegue fazer bastante bem. Se o que nos interessa é a liberdade, teremos de mudar de sociedade"., C. Castoriadis, in " A Sociedade à Deriva ". Salut! Niet

Anónimo disse...

Mantém-se incorrigivel este MSP.

Com efeito, nem uma palavra dedicou ao assassínio do Presidente Keneddy. Ao assassínio do quase Presidente Bob Keneddy. Ao assassínio de Luther King. Ao assassínio de Lennon. Ao assassínio de Malcolm X. Todos, mas todos, pelas organizações secretas do imperialismo americano.
Nem uma palavra sobre o Vietnã, o Iraque, o Afeganistão. a Operação Condor, as 500 bombas atómicas americanas em solo europeu, as mil bases americanas que cercam o planeta, a rosa de hiroshima, etc. etc. Esqueceu-sde de tudo o que é relevante para o futuro da humanidade. Trate-se, homem, trate-se. Largue a peçonha que o envenena e nos quer envenenar.
E, já agora,silencie-me, como fizeram no passado e no presente.
PS: Mais os agora 100.000 soldados americanos que ocupam a Europa desde 1945, depois da redução de efectivos, ou seja, da sua deslocação para outros teatros de guerra.
Edmundo Dantas

Miguel Lopes disse...

MSP,

Não consegue fazer uma única crítica concreta. Uma única.
Vive protegido no consenso de 40 anos de propaganda de guerra contra a RPDC e sente-se feliz aí. É um lugar fofinho. Não tem que discutir nada, é só apontar o dedo e rir, como fazem as crianças.
Kim Il-Sung, o filho e todas os coreanos que estão por trás do regime, nunca esconderam ao que vinham. As suas teses estão escritas e podem ser lidas. Porque razão não critica directamente as teses, o programa - a que eles chamaram juche e songun?

A hostilidade frontal ao Império, o papel predominante que é dado ao exército, o programa nuclear, a autarcia e a economia de direcção central, o culto da personalidade, o sistema político com a coligação pós-eleitoral unitária para a reunificação da Coreia. Tudo isto são aspectos importantes a debater. Porque razão insistir no bitaite fácil e pacóvio, em vez de discutir as questões com profundidade, verdade e frontalidade?
Traga qualquer coisa de novo. Ensine-nos qualquer coisa nova.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Miguel Lopes,
eu não tenho uma concepção propriamente docente destas coisas.
Limitei-me a assinalar que as relações de poder classistas e o Estado policial que existem na Coreia do Norte (um regime hereditário, que insiste em denominar-se república, embora levando a privatização do poder a extremos delirantes) são a negação radical do projecto de democratização da sociedade e da economia ao qual deveríamos reservar o nome de "socialismo".
Quanto ao Juche, não sei qual é a sua ideia. Ainda que esse conjunto de fórmulas, que Kim Il Sung terá recebido - qual novo Moisés - por iluminação no alto da montanha, fosse o mais animador do mundo, isso não nos dispensaria de analisar as relações de produção, o regime político, a vida quotidiana, etc. que se desenvolvem - ou estagnam - à sus sombra. Mas o Juche é uma espécie de catecismo que opõe a responsabilidade à liberdade para justificar um Estado policial e incentivar a delação permanente como via de "distinção", ao mesmo tempo que projecta como modelo uma hierarquia militar idealizada, absolutamente nacionalista e xenófoba. O que é que há debater com os adeptos de uma ideologia que proíbe justamente o debate e que só excluindo-o por meio da força bruta se pode manter?
Compreender a génese do regime em causa, compreender as razões que o levam a declarar-se "democrático" e "socialista", sendo como tal mais ou menos reconhecido por outros regimes e importantes movimentos políticos, sim, isso valeria a pena; mas é uma tarefa historiográfica que ultrapassa as ambições modestas de um post. E, apesar de tudo, convém não esquecermos que dar historicamente conta de um fenómeno não é justificá-lo politicamente.

Saudações cordiais

msp