26/01/12

Deixem o pobre de espírito em paz

Estive em Guimarães na inauguração de qualquer coisa europeia que por lá havia. Além de uma sessão de convívio íntimo com milhares de pessoas desejosas de ocupar o mesmo espaço que eu, a excursão valeu pela chegada de Cavaco Silva à festança. Sobre a presidencial viatura choveu um coro de assobios e impropérios; mimos no estilo de “Vem comer à borla? Coitado, não tem dinheiro para pagar o jantar...”
Isto não se faz. Castigar com antipatia um lapso sem maldade... só um povo de ingratos. Esperavam o quê do senhor? Que andasse por aí a distribuir abraços e sopas aos contingentes de novos pobres? Tivessem antes votado no Fernando Nobre que ficariam servidos de bons sentimentos. Queriam sonoras declarações de princípios de entreajuda, mesmo que também emitidas do conforto de boas reformas? Já tiveram o poeta Alegre no boletim de voto.
Cavaco nunca foi outra coisa. A sua religião sempre foi a da santa Mão Invisível que trará a felicidade geral mal os ricos se vejam livres de impostos e outras cangas solidárias. Nunca ninguém lhe apontou qualquer assomo de humanidade. Nunca ninguém o viu a distribuir, por exemplo, as mais-valias cedidas pelos amigalhaços do BPN. Jamais o lobrigaram a mostrar uma sensibilidade social acima da do calhau rolado de calibre médio.
Parem de gozar com peditórios, abaixo-assinados e insinuações de senescência. É como protestar contra o frio que faz nos icebergues; está na natureza da criatura ser assim: álgido, insensível, pobrezinho de espírito.

3 comentários:

joão viegas disse...

E' isso mesmo !

Mas quanto é que apostas que vem ai uma petição contra o frio que faz nos icebergues, enquanto esperamos pela petição definitiva e absoluta, que sera contra nos proprios...

Boas

Miguel Serras Pereira disse...

Perfeito, sempre perspicaz camarada Luis.
E não é verdade, também, que, mais do que a pobreza de espírito de Cavaco - ou a mesquinhez das suas prestações cívicas, bem assinalada pela Joana Lopes, há dias, no Brumas -, deveríamos preocupar-nos com a pobreza de espírito democrático, a escassez de espírito igualitário, dos que, muitos ou poucos, foram bastantes para o reeleger, não disfarçado do seu contrário, enganando-os, mas pelo que, como bem lembras, ele sempre mostrou ser? Talvez seja isto o que mais dá que pensar no episódio…

Abraço para ti

miguel(sp)

O rural disse...

Cavaco bem podia arranjar umas fundações com as economias que ´já veem dos pais e já conhecemos, da professora Maria trabalhadora, e até do cotão das suas algibeiras.

Óutros com menos possibilidades já teem mais que uma fundação.

Com um simples avental.

E com paisinho que até chegou a andar de sotaina a fazer uns batizados e umas missitas pelas alminhas-

E com muito sacrifício da Maria de Jesus que por causa do faxismo perdeu uma promissora carreira nas artes, onde se previa chegaria ao estrelato.

Se uns fizeram as fundações com menos possibilidades porque Cavaco não deve fazer o mesmo?