19/01/12

O apoio escondido


É óbvio que João Proença, militante do PS, e a UGT, só se atreveriam a assinar este acordo se os dirigentes do PS lhes tivessem previamente assegurado que iriam efectivamente ficar calados perante a maior desregulação das relações laborais desde o 25 de Abril. Mas, entusiasmados, decidiram ir ainda mais longe, e cobrir-se de ridículo, lamentando não poder “felicitar o Governo pelo resultado que atingiu”. Este agradece, e pisca o olho pelo apoio, mesmo que envergonhado.

A razão primeira para a atitude do PS não se prende com qualquer táctica ou estratégia política, mas simplesmente com o facto do conteúdo da proposta de retrocesso laboral que teve o apoio da UGT conter medidas que a seita tecnocrata e neo-liberal que domina o PS sempre desejou implementar, mas que nunca arriscou fazer com receio de provocar uma cisão no partido. Na verdade, tal seita admira um governo que está a conseguir implementar as mais reaccionárias políticas de que há memória, sem contestação social equivalente. Esta é a seita que defendeu, pelo menos, a abstenção na votação do Orçamento para 2012, e que agora se irrita perante a atitude de alguns deputados do PS que, juntamente com os deputados do BE, conseguiram juntar as assinaturas necessárias para requerer a fiscalização do Orçamento para 2012 junto do Tribunal Constitucional. Espero que rapidamente algum jornalista, daqueles a sério, coloque duas perguntas muito simples ao secretário-geral do PS: de entre as medidas que constam do acordo assinado entre governo e UGT, com quais não concorda? E compromete-se a revogá-las caso venha eventualmente a formar governo?

Está na hora de desmascarar um efectivo governo PSD-CDS-PS, que não existe formalmente apenas porque têm medo de tornar claro que a única oposição, infelizmente demasiado inócua, às políticas do actual governo vem da parte de BE e PCP. O seu pesadelo é que os portugueses reajam como os gregos perante um governo de "unidade nacional".

1 comentários:

David da Bernarda disse...

O PCP e o BE podiam dar um contributo decisivo à luta contra as classes, e grupos, dominantes saindo do Parlamento. Se a natureza deste sistema é mafiosa e um simples instrumento dessas classes dominantes - e disso não há dúvidas -, não pode haver colaboração, nem legitimação possível. Esse seria uma clarificação decisiva da situação social e política. A oposição só pode ser nos locais de trabalho e nas ruas.
Infelizmente sabemos que o PCP, nem o BE, algum dia darão esse passo, por isso também eles são parte deste Sistema.