15/10/10

Controlem a decadência, por favor

Quem tanto se ajeita, molha-se, até apetendo dizer que estavam mesmo a pedi-las. Começa a ser fácil demais, até banal, desmontar a forma patética como o PCP se dedica a transformar-se num partido mumificado que tende a reduzir-se a, anualmente, fazer uma festa catita e em conta. Há ali, na Soeiro, muita incompetência, atabalhoamento e um frenesim feito de empirismo descarnado de cultura política e ideológica, o que é o caldo perfeito para o domínio dos funcionários especializados na burocracia das lutas, mas é tudo acompanhado por uma regressão degenerada em que avulta a forma incontrolada como a “secção internacional”, transformado em ninho do neo-estalinismo, se afirma como depositária do garante da ortodoxia. E é assim que, de vez em quando, e de uma penada, um abraço solidário do PCP aos parceiros mais indesejáveis do planeta, com tendência a escolher no gangsterismo internacional os seus amigos de estimação, vem descompor tudo o que a demagogia sobre a “resistência” à “política de direita” possa ter amealhado. Depois, em desespero de causa ao defenderem o indefensável, os arautos do PCP pintalgados por aí recorrem sistematicamente aos seus coletes salva-vidas: bradarem histericamente “ai Jesus, que aqui anda anticomunismo” e a costumeira ode da vitimização pela perseguição da comunicação social posta ao “serviço do grande capital”. Quanto ao primeiro expediente, o da demonização do anticomunismo, começa a estar gasto o saldo do martírio dos tempos de ditadura. Até porque grande parte dos seus actuais dirigentes, incluindo o SG, são comunistas pós-25 A e, passados tantos anos após a instalação da democracia, os feitos do tempo do salazarismo são contas gastas para amparar e dar desconto aos desmandos do tempo presente. Têm pois que se habituarem a, com normalidade, suportarem as críticas ao PCP sem se sentirem virgens ofendidas tal como, por regra usando termos violentos, os do PCP criticam os restantes partidos. Quanto à comunicação social, a crítica comunista só tenta esconder a sua inabilidade comunicacional que os torna, por regra, em grandes “secas” pois quando falam para o público parece que engoliram o último comunicado do comité central (um caso extremo deste estereotipar burocratizante da comunicação partidária é o de Francisco Lopes, incapaz de transmitir uma ideia própria ou original). E esquecem que já tiveram, além do semanal “Avante”, um jornal diário (“o diário”), que faliu e fechou as portas porque … não tinha leitores suficientes. Ora se, em congressos, se queixam que o “avante” é mal distribuído e pouco lido e não são capazes de ter um público que sustente comunicação social própria ou “amiga”, o problema não será do mensageiro mas sim da mensagem, sempre variando entre o gasto, o repetitivo e o indigesto. A democracia portuguesa ganharia se controlassem a decadência de um partido no limiar de alcançar os dois dígitos percentuais de influência eleitoral. Assim como assim, somados ao Bloco e ao PS, ainda ajudam a garantir o efeito contabilístico e psicológico da “maioria de esquerda”.

7 comentários:

Anónimo disse...

Parece que, em matéria de comunicação e cassetes,há quem não tenha espelhos em casa.

Discriminação, preconceitos, critérios à la carte, e o mais que sabe nada disso disso existe.

A parte isso, como todos sabemos, na comunicação social portuguesa só têm lugar fulgurantes novidades, talentos ribombantes, excelsos comunicadores de outros partidos e todos sempre inovando todos os dias.

Enfim, tudo coisas de que a providência divina se encarregou de privar as fileiras comunistas.

E siga a dança que está a dar.

Anónimo disse...

O Homem, um animal de costumes e hábitos
por João Tunes

Nuno Ramos de Almeida disse...

João Tunes,
O Diário e o Diário de Lisboa tinham mais leitores do que muitos dos pujantes jornais que existem hoje. O Diário chegou a vender 70 mil exemplares. A diferença é que ao contrário destes jornais fantásticos que defendem sempre o mesmo, e que são a informação que temos, o Diário, e até o Diário de Lisboa, devido ao seu posicionamento político não tinham publicidade.

Anónimo disse...

A modernidade é que não sabe lidar com "o gasto, o repetitivo e o indigesto", prefere os noticiários, actualizados em tempo real, cheios de cores vibrantes e velharias com roupagem de novidade. As causas desta incompreensão nunca serão aceites por um reformista como o João Tunes, para quem a democracia e a liberdade deveriam abrir todas as portas necessárias a um mundo melhor.

Miguel Serras Pereira disse...

Nuno,
creio que sobrestimas a pujança dos jornais existentes.
Mas, deixando isso de parte, não me parece que haja uma linha no texto assinado pelo João Tunes que faça a apologia da imprensa e comunicação dominantes.
O problema a que o post se refere é outro: a inadequação ideológica, o sectarismo e o ensimesmamento da imprensa e órgãos de comunicação da área do PCP. E a respeito desta questão não basta invocar os traços que recusamos na imprensa e comunicação dominantes.Estes não eram o objecto da análise do post, e, ainda que o fossem, e que o post os enumerasse a teu gosto, isso não seria um argumento anulando o lapidar juízo do João: "o problema não será do mensageiro mas sim da mensagem, sempre variando entre o gasto, o repetitivo e o indigesto". Porque, pelo menos quando falam para fora (e também, suspeito eu, quando o fazem para dentro) , os jornalistas, editorialistas e outros colaboradores do Avante! - e o mesmo se poderia dizer, no passado, do defunto "Diário" da "verdade a que temos direito"- "parece que engoliram o último comunicado do comité central (um caso extremo deste estereotipar burocratizante da comunicação partidária é o de Francisco Lopes, incapaz de transmitir uma ideia própria ou original)".
Em suma, meu caro, seriam estes aspectos que teriam de ser discutidos, e não ignorados através da invocação dos malefícios efectivos ou dos meios de que efectivamente dispõem a imprensa e a comunicação dominantes (ao serviço de uma "classe política" e de uma acção nos planos social e económico que os posts do João não se têm cansado de denunciar).

Abraço

msp

Nuno Ramos de Almeida disse...

Miguel,
Limitei-me a contestar esta afirmação:"E esquecem que já tiveram, além do semanal “Avante”, um jornal diário (“o diário”), que faliu e fechou as portas porque … não tinha leitores suficientes".
O Diário tinha bastante mais leitores que muitos jornais da actualidade. Tantos, ou mais, do que o Público e o DN, muito mais do que o I, o Diário Económico e o Jornal de Negócios. Fechou não foi por falta de leitores, mas por falta de dinheiro. São duas coisas diferentes.
Finalmente, tens de perder esse tique estalinista de afirmar que aqueles como o Lopes não têm as tuas ideias, "não têm uma única ideia original". A divergência deve ser discutida em termos de argumentos, não menorizando o adversário.

Miguel Serras Pereira disse...

Nuno,

não tenho as tuas ideias sobre certas coisas e nem por isso afirmo que não tens uma única ideia original. Discuto e troco argumentos, razões, contigo e com muitas outras pessoas com as quais me encontro em divergência. Discuto com aqueles de quem me sinto mais próximo e com outros de quem me sinto mais afastado ou com quem mantenho divergências de fundo. Estalinista não serei, portanto.
Mas isso não me impede de achar as ideias de Francisco Lopes, Manuel Alegre ou Fernando Nobre desprovidas de originalidade e/ou força argumentativa. Isto para além de não as partilhar. Por exemplo, quando o João Rodrigues fala de "Estado estratego", apresenta argumentos e razões, formula-os bem, etc. Divirjo dele, opondo-lhe outras razões e tentando mostrar que a noção é democraticamente suspeita. Quando o Manuel Alegre recorre à mesma expressão, limita-se, porém, a repetir um slogan - pagaueia e não argumenta, etc - e eu não vejo que deva coibir-me de dizer que é isso que acho que ele faz. Passo a ser estalinista por isso? Ou isso só se verifica, em teu entender, quando adopto, mutatis mutandis, a mesma atitude perante o discurso do candidato do PCP?

Abrç

msp