A perplexidade mais assinalada perante a anunciada destruição massiva de postos de trabalho em Cuba (centenas de milhar - e que pode atingir um terço da população trabalhadora – e que se programa transferir para o mercado “privado” ali designado como “por conta própria”) é o papel cúmplice com estas medidas por parte dos sindicatos cubanos oficiais. Como imaginar que uma central sindical, para mais num país em que se declara que são os operários e os camponeses que estão no poder, possa ser um parceiro do governo em medidas que declaram a intenção de proceder a um tal sismo social? Arriscamos a afirmar, até, que a história do sindicalismo amarelo e da central mais ranhosa no colaboracionismo de classe jamais registou uma idêntica traição aos trabalhadores representados através de uma sujeição tamanha à vontade de um Estado-patrão.
Naturalmente, o PCP, tão cioso do respeito pelos direitos laborais e campeão das lutas sindicais, não terá deixado de integrar o grupo dos perplexos perante a monstruosidade da traição sindical cubana. E uma delegação de dirigentes do PCP foi a Cuba ouvir explicações acerca das enormidades sociais cubanas. Quanto ao resultado, leiam-se então os esclarecimentos prestados ao “Avante” pelo seu dirigente Chaparro no regresso da “visita de estudo” a Cuba e que constitui uma pérola de discurso burocrático típico do funcionário comunista imbecilizado e que mistura dois seguidismos – o dos sindicatos cubanos para com a ditadura cubana e o do PCP para com o mesmo regime – resultando numa sopa de letras tão estúpida quanto ridícula:
O seu papel [da CTC – Central dos Trabalhadores Cubanos] é envolver todo o povo no processo de consulta sobre as medidas propostas, visando construir um consenso político em torno das decisões a tomar pela Assembleia do Poder Popular, que, contrariamente à ideia que passou em Portugal, ainda não legislou sobre o conjunto das medidas. A CTC tem um papel central. Desde logo pelo seu «peso» político. Num país onde a sindicalização é uma decisão individual e livre de cada trabalhador, os filiados nos sindicatos da CTC representam 95% dos trabalhadores. Quer isto dizer que a CTC está neste momento a discutir directamente com cerca de três milhões e quatrocentos mil trabalhadores as medidas propostas e a sua aplicação concreta em cada local de trabalho. Mas a CTC não discute apenas com os seus filiados, promove o debate com todos os trabalhadores, à semelhança do Partido e de muitas outras organizações de massas, como os Comités de Defesa da Revolução. Mas não é só a capacidade mobilização que dita a importância da CTC neste processo. A Central tem tido, como estrutura sindical, uma participação directa no estudo e definição das medidas, garantindo à partida que os direitos laborais e o controlo operário da economia não são tocados com estas medidas e que os trabalhadores são quem discute e decide da sua aplicação em cada local de trabalho, através da eleição de comités com a participação de um elemento da administração, um do movimento sindical e mais 6 trabalhadores eleitos pelos seus pares. Ou seja, o papel da CTC é o de assegurar que a participação dos trabalhadores é garantida, e mais que isso, determina o resultado final deste processo.
(publicado também aqui)
07/10/10
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2 comentários:
Assim, não percebo patavina.
Mas então o senhor Tunes afinal é contrário à atenuação da manifestamente excessiva estatização da economia cubana ?
Mas então o senhor Tunes está aborrecido por a transferência para o sector privado de trabalhadores estatais ser acompanhada, estudada e discutida em vez de ser à bruta como se disse para aí ?.
Uma coisa eu sei mas ninguém diz: é que com a rapaziada de Miami e os seus patrões americanos seriam mais uns milhões e sem nenhuma contemplação.
E eu sei outra: a Joana é muito mais entendida nestas coisas do marxismo-leninismo que o bronco do Chaparro: sabe uma coisa que ninguém diz apesar de não perceber patavina.
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